Impossível negar
Mas eu pertenço a vários mundos.
E por ser tão desatento que só noto quando estou em cada um destes mundos.
Quando acordo estou em um mundo estranho, no qual me escondo atras de um terno. Um mundo onde cada segundo conta, onde nem sempre os sorrisos significam felicidade, e o choro nem sempre é um sentimento verdadeiro. Nesse mundo eu luto. Eu luto por estar de luto.
Num piscar de olhos eu já me encontro em outro mundo, cercado por quarto linhas de um tatame, vestindo um sagrado uniforme de samurai, no qual também me pego lutando. Mas aqui, meu oponente não é meu inimigo, e aqui nesse mundo eu transformo meu suor em respeito.
Assim, sem me dar conta de como nem quando, eu já estou em outro mundo. Neste novo mundo, eu me surpreendo camuflado em um ambiente inóspito, liderando meu pelotão em uma missão. E naquele momento minha única preocupação é não levar tinta... literalmente.
Mas no mundo que mais me encanta eu uso chapéu e caminho por entre animais brancos com chifres e rabos. Ali, diante do velho casarão, eu penso em um tempo que já se foi, num tempo que eu não vivi. E neste mundo eu luto para ser feliz.
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
Motivos pelos quais não escrevi a tua história...
Tudo começou com um conto...
Era para ser apenas uma história boba, daquelas que a gente conta para alguns amigos em uma roda de conversa para ver o tempo passar.
Um fato pitoresco do cotidiano, nem completamente real, mas longe de ser uma mentira cabeluda.
Era para falar da vida de alguém, narrar um episódio engraçado acontecido com um cara comum, como eu ou você.
A história nem era para ter uma moral oculta, final feliz ou trágico.
Era somente uma história...
Mas eis que as coisas fugiram ao controle.
Um fato foi dando lugar a outro e mais outros que, interligados, viraram uma cadeia de acontecimentos, empolgantes e emocionantes.
O que levaria quinze minutos para ser contado, tomou horas, dias e semanas para serem narrados.
O dono daquela vida mal fadada às críticas, como em um passe de mágica virou um herói, que em seus atos de vilania cativou e foi idolatrado pelas pessoas comuns que ouviam ou liam sua história.
E o que começou com um conto, virou um livro, um best sellers campeão de vendas, que já teve seus direitos comprados por um estúdio cinematográfico internacional. Certamente será um sucesso de bilheterias, e quem sabe ganhará um Oscar.
Mas daqui há alguns anos, seu autor, rico, bem sucedido, capaz de ganhar milhões com um slongam para champou de cachorros, só irá ter uma frustração: "Não ter deixado nada melhor para a humanidade"
Reflexos de uma sociedade decadente tão carente de heróis...
Era para ser apenas uma história boba, daquelas que a gente conta para alguns amigos em uma roda de conversa para ver o tempo passar.
Um fato pitoresco do cotidiano, nem completamente real, mas longe de ser uma mentira cabeluda.
Era para falar da vida de alguém, narrar um episódio engraçado acontecido com um cara comum, como eu ou você.
A história nem era para ter uma moral oculta, final feliz ou trágico.
Era somente uma história...
Mas eis que as coisas fugiram ao controle.
Um fato foi dando lugar a outro e mais outros que, interligados, viraram uma cadeia de acontecimentos, empolgantes e emocionantes.
O que levaria quinze minutos para ser contado, tomou horas, dias e semanas para serem narrados.
O dono daquela vida mal fadada às críticas, como em um passe de mágica virou um herói, que em seus atos de vilania cativou e foi idolatrado pelas pessoas comuns que ouviam ou liam sua história.
E o que começou com um conto, virou um livro, um best sellers campeão de vendas, que já teve seus direitos comprados por um estúdio cinematográfico internacional. Certamente será um sucesso de bilheterias, e quem sabe ganhará um Oscar.
Mas daqui há alguns anos, seu autor, rico, bem sucedido, capaz de ganhar milhões com um slongam para champou de cachorros, só irá ter uma frustração: "Não ter deixado nada melhor para a humanidade"
Reflexos de uma sociedade decadente tão carente de heróis...
terça-feira, 13 de novembro de 2012
Teu cheiro
Pouso minha cabeça sobre o travesseiro que tem um cheiro diferente...
Um cheiro tão único...
Um cheiro que me remete a alguém que está tão longe.
Como os cheiros são capazes de fazer minha mente se entregar às recordações e à imaginação.
Deitar com seu cheiro me faz sonhar com você. Faz com que eu renove as esperanças há muito esquecidas ou enfraquecidas.
A saudade se torna um alimento
E este alimento me nutre durante toda a noite.
E então chega a manha
Com ela a eu sinto sua ausência
Ando pelas ruas sujas e fedidas, pelas quais pessoas transitam se amontoando como vermes.
E é a lembrança do seu cheiro que faz com que a esperança nunca desapareça.
É o teu cheiro.
Tão seu.
Tão meu.
Um cheiro tão único...
Um cheiro que me remete a alguém que está tão longe.
Como os cheiros são capazes de fazer minha mente se entregar às recordações e à imaginação.
Deitar com seu cheiro me faz sonhar com você. Faz com que eu renove as esperanças há muito esquecidas ou enfraquecidas.
A saudade se torna um alimento
E este alimento me nutre durante toda a noite.
E então chega a manha
Com ela a eu sinto sua ausência
Ando pelas ruas sujas e fedidas, pelas quais pessoas transitam se amontoando como vermes.
E é a lembrança do seu cheiro que faz com que a esperança nunca desapareça.
É o teu cheiro.
Tão seu.
Tão meu.
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
Quase um Sherlock Holmes
Nem bem eram oito horas da manha quando um sujeito aparentando ter por volta dos quarenta anos de idade adentrou no recinto do trigésimo sétimo distrito policial da cidade. Fato notadamente normal, não fosse os diversos hematomas, escoriações e bandagens no qual se encontrava envolvido.
Imediatamente todos voltaram seus olhares ao visitante que a cada passo que dava soltava um gemido.
Parou diante o balcão da recepção e após algumas palavras foi conduzido diretamente à presença do Doutor Augusto Mascarenhas, delegado plantonista naquele dia.
O Delegado encontrava-se em seu gabinete, e ao receber o depoente, endireitou seu pesado corpo para soltar a barriga que estava presa sob o tampo da mesa.
- Bom dia cidadão, vamos sentando. - disse o delegado lhe apontando a cadeira e observando a dificuldade daquele homem em tomar assento entre os gemidos e contorções. Pacientemente o Doutor Delegado esperou que ele estivesse sentado e começou a perguntar: - Então meu senhor? Qual é o seu nome?
- José Eduardo Martins e Silva.
- Casado? Solteiro?
- Divorciado.
- Profissão?
- Contador.
- E o Senhor conta o que?
- Eu trabalho na contabilidade de uma empresa Doutor. (gemido)
- Certo, então me diga, o que foi que lhe aconteceu?
- Doutor. Nem eu mesmo sei explicar o que foi que aconteceu. Eu estava ontem lá em casa tranquilo após um dia cansativo de trabalho quando tocaram a campainha. (gemido) Fui até o portão, e quando abri, três homens entraram já me empurrando. Dois deles mais fortes me seguraram e o outro mais de idade falou: "Então você é o tal do sedutor, heim?" Então baixaram o cacete. (gemido)
- Realmente, seu estado é deplorável. Mas me diga: Você é o sedutor?
- Que sedutor Doutor?
- Eu sei lá... provavelmente o sedutor que os agressores estavam procurando.
- Sou eu não doutor... (gemido) eu nem ando dando atenção para mulher ultimamente. Perdi a minha e não estava querendo arrumar confusão pro meu lado. Mas parece que a confusão é quem me procura. (gemido)
- Anote aí Dona Matilda. Que o depoente não gosta de mulher.
- Não! Não é isso não! (gemido)- disse o cidadão que só naquele momento dera conta da presença da escrivã que estava no fundo do gabinete- Não é isso não Doutor... Eu gosto de mulher.
- Gosta mesmo?
- Claro que eu gosto!
- Muito ou pouco?
- Muito...
- Então anote aí Dona Matilda, que o depoente é perdido por um rabo de saia.
- Pelo amor de Deus Doutor... eu não disse isso não. Eu gosto de mulher como todo mundo. Eu gosto normal. Que nem o senhor. O senhor também não gosta de mulher?
- Claro que eu gosto! Mas o sedutor aqui não sou eu!
- E nem eu!
- Então porque te bateram?
- E eu lá sei? É por isso que estou aqui na delegacia.
- Veja bem Dona Matilda... Mas um caso complicado e de difícil elucidação.
Dona Matilda sequer levantou os olhos da tela do computador, limitando-se apenas a proferir um mísero "hum rum..."
- Mas Senhor José Eduardo - continuou o delegado - o Senhor deve ter aprontado alguma... Não é possível. Certamente deve ter se envolvido com alguma mulher casada, ou com alguma jovem donzela. Tente se lembrar.
- Doutor, eu já disse. Ultimamente tenho vivido uma vida de cão. Não tenho olhos para mulher alguma.
- O Senhor tem algum problema com algum vizinho?
- Não senhor. Eu me dou com todos eles.
- Anote aí Dona Matilda. Que o depoente tem dado com todos os vizinhos.
- Como assim Doutor?
- Eu sei lá... Foi o Senhor quem falou.
- Mas eu disse que me dou bem com os vizinhos. Não é nada disso não. Eu quis dizer que não tenho problemas com meus vizinhos. Gosto de todos eles.
- Gosta dos seus vizinhos?
- Sim.
- Até dos vizinhos homens?
- Sim.
- Anote aí Dona Matilda. Que o depoente gosta de homens.
- Não! Não anota isso não Dona Matilda! Doutor... O Senhor está de brincadeira?
- E isso aqui é lugar de brincadeira cidadão? Você fica por aí futricando com quem não deve, é justiçado por algum pai ou marido desonrado e vem aqui perguntar se eu sou palhaço?
- Mas... Mas... Não é nada di...
- Silêncio! Isso está me cheirando a um caso de estupro presumido! Desde o momento em que você entrou por aquela porta eu vi que havia algo de errado. Bem que eu notei que você faz bem o tipo daqueles que não prestam. Ribamar! Jackson! Autuem esse sem vergonha aqui.
- Doutor! O que é isso Doutor?
- Cale a boca vagabundo! Tira esse sem vergonha da minha frente. Coloquem ele na cela coletiva e deixa os caras brincarem com esse estuprador de criancinha.
- Não! Doutor... Pelo amor de Deus! Gritava o pobre que ia sendo arrastado por dois oficiais em direção ás celas.
Doutor Augusto Mascarenhas respirou fundo se levantou e olhou pela janela enquanto dizia.
- Percebeu Dona Matilda? Esse safado quase que nos passa a conversa. Não fosse meu faro investigativo...
Dona Matilda preocupada em como reduzir a termo aqueles acontecimentos, sequer levantou o olhar, limitando-se apenas a responder com seu característico "hum rum".
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
ELEIÇÃO NO INTERIOR
Neste domingo Dona Jandira vive um dia todo especial. Isso porque, Dona Jandira, no auge dos seus 73 anos, é louca por eleições. Mesmo estando desobrigada pela lei de votar, Dona Jandira jamais abriria mão desse direito constitucional de escolher seu governante. E essa é sua eleição predileta. Dona Jandira adora votar para prefeito. Tudo bem que é bom escolher o presidente, o governador, senadores, deputados... Mas escolher o prefeito e o vereador, é algo que a deixa estasiada. Talvez porque esses personagens lhe são mais próximos, estão na sua cidade. Ela não perde um comício, uma reunião do partido, uma passeata... Dona Jandira está em todas.
Como toda eleitora que se prese, ela adora quando seu candidato ganha a eleição. E é por este motivo que dona Jandira faz uma pesquisa criteriosa para decidir em quem votar, e o escolhido naturalmente será aquele que tem mais possibilidades de ser eleito. Não importa o passado do candidato, não importa a plataforma eleitoral, promessas... nada... a única coisa que realmente importa para ela é saber se o danado tem chance de ganhar, e com isso ela o escolhe imediatamente.Todos os cabos eleitorais já conhece a nobre senhora. E nas vésperas das prévias e conchavos políticos, os representantes dos candidatos ficam sondando a velha senhora. Adulando-a, dando-lhe presentes para ganhar sua simpatia. A final, que marqueteiro não gostaria de uma idosa senhora animada espontaneamente para aparecer nos vídeos e campanhas em prol do candidato? Mas nem dinheiro nem promessas influenciam sua escolha na hora de decidir em qual candidato votar. Ela tem plena consciência de que deve escolher aquele que vai ganhar.
E nestes muitos anos de eleições, dona Jandira sempre acertou na escolha para prefeito. O que lhe deu a fama de "eleitora pé-quente"!
Depois de escolhido seu candidato, Dona Jandira se dirige ao comitê eleitoral do mesmo para se municiar de todas as armas necessárias para lutar na campanha: adesivos, bandeiras, faixas e santinhos... muitos santinhos.
De posse do material, Dona Jandira começa sua peregrinação, quem mais sofre é o padre Pedro e o seu filho Juarez.
O pobre do Juarez, sempre ressentido por não ter se casado e por viver em um barracão dos fundos no lote da casa da mãe, é um dentre muitos empregados fantasmas da prefeitura. Recebe um salário todos os meses, do qual metade vai para a mulher do prefeito, e a outra metade ele usa para sobreviver, já que nunca foi muito adepto ao esforço e ao trabalho.
Juarez, é o carregador oficial do material de campanha da Dona Jandira. Que logo cedo se dirige à feira para pedir votos ao seu candidato. Não há aquela vivalma que passe por ela sem receber um santinho e ouvir uma ladainha sobre a importância e a honestidade do seu candidato, mesmo que o tal seja publicamente o corrupto mais desprezível da cidade.
Aos domingos, padre Pedro sofre com a abordagem direta de Dona Jandira aos paroquianos ainda dentro da igreja antes e depois da missa. Por mais que tente argumentar com a velha senhora, o padre sempre escuta da mesma que está em uma missão de deus, e que portanto tem todo o direito de distribuir seus santinhos onde tiver a oportunidade.
A grande maioria das pessoas aceitam o santinho e a escutam por educação aos cabelos brancos da velha senhora. Mas alguns, geralmente seus contemporâneos, se empenham em ferrenhas discussões sobre a qualidade ou a desqualificação dos candidatos. E com isso Dona Jandira encontrou no banco da praça o seu maior e mais perigoso arquinimigo. Seu Antenor.
Seu Antenor é um ex trabalhador da empresa de iluminação publica, ex membro do sindicato da categoria, hoje aposentado aos seus 81 anos e eterno esquerdista. E para ele, esquerda é justamente aquele candidato desgraçado que não tem a mínima chance de ganhar. Na sua visão, este pobre azarão é a representação viva e clara das classes menos favorecidas, e espera que deus lhe conceda mais alguns anos de vida para que possa um dia enxergar por trás das grossas lentes de seus óculos, um legítimo representante do povo assumir o poder para o povo.
Em véspera de campanha, quase que diariamente, o banco da praça que fica embaixo do pé de amendoeira vira o palco das maiores batalhas eleitorais da cidade. De um lado, Dona Jandira defendendo seu candidato que é violentamente atacado pelo Seu Antenor.
Quando a velhinha aponta na rua que morre na praça, o povo já deixa o que está fazendo para ver o bate boca dos cabos eleitorais. A idosa conservadora chega a soltar uma espuma branca no canto da boca de tanto discutir com o velho revolucionário, que em meio a gritos e chingamentos faz uso de sua bombinha respiratória para recuperar o folego perdido. Não foram poucas as ocasiões em que, de tanto gritar, um ou outro, às vezes os dois, chegam a perder a voz.
Mas é no final de semana das eleições que Dona Jandira costuma dar mais trabalho. Principalmente para o Dr. Teodorito, delegado da cidade. Compra de votos, chantagens emocionais e até mesmo pragas e maldições são usadas pela doce senhora em busca do favorecimento de seu candidato. Certa vez, o próprio Dr. Teodorito foi obrigado a intervir, invadindo a casa de Dona Jandira e resgatando o finado Antão Pereira, na época marido de Dona Jandira, que estava amarrado na cama, obra da própria Dona Jandira, porque tinha cismado que o velho iria votar em outro candidato.
Como diz o seu Petrolino, cachaceiro oficial da cidade e violeiro nas horas vagas: "Política no interior é uma festa!"
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
O meu Querer e o teu Querer...
Quantas vezes eu já quis.
Quantas vezes eu já me deixei querer.
Então hoje eu descubro que não sabia querer. E certamente talvez ainda não saiba.
Porque o querer é uma arma poderosa e como todo poder, movimenta muitas de nossas energias. A faculdade de querer é capaz de mudar o homem e tudo que o cerca.
Quando eu era mais jovem, alimentei a certeza de que ninguém tem a obrigação de saber o que quer. Mas precisa saber o que não quer. E hoje percebo o quanto eu estava errado.
Percebo então, que muitos dos meus erros ocorreram por decisões que
foram tomadas baseadas em um querer mal direcionado. E o querer
equivocado nos leva a sofrer desnecessariamente. A gente perde forças e energias que deveriam ser bem direcionadas, mas acabamos desgastando-as com objetivos tão fúteis, tão mesquinhos.
É como estar diante de um muro e querer atravessá-lo. Gastamos tanta força querendo derrubar o muro no lugar de procurar saltá-lo, contorná-lo, encontrar outra meio de chegar ao outro lado. E esse é o nosso problema. Queremos vencer o muro enquanto deveríamos querer estar do outro lado. Enquanto o muro for nosso foco, o verdadeiro objetivo nunca será atingido, e iremos nos desgastar.
Atualmente eu percebo que o querer
próprio, o meu querer... é irrisório, mesquinho, imperceptível aos olhos
da vida que na maioria das vezes desconhece de grande parte das minhas
aspirações pessoais. Quando não alcançadas então, aí sim ela se torna mais indiferente ao meu sofrer e à minha dor.
Aprender a querer, é voltar minha vontade e meus pensamentos para objetivos maiores, superiores, que me elevem a um estado melhor do que este no qual me encontro.
Sempre que eu busco por coisas boas, coisas grandes, transcendentes, completas, eu elevo minhas intenções ao mesmo nível destes objetivos. Consequentemente, o querer alguém deve seguir os mesmos princípios.
Sempre que eu busco por coisas boas, coisas grandes, transcendentes, completas, eu elevo minhas intenções ao mesmo nível destes objetivos. Consequentemente, o querer alguém deve seguir os mesmos princípios.
Só então eu percebo o obvio.
Não importa o meu querer ou o seu querer.
Não importa o meu querer ou o seu querer.
O que importa é querer bem.
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
Contra o mundo
"Have you ever met someone
you love so much
it hurts?"
Na tela, Scott Pilgrim havia acabado de lutar contra o mundo por alguém, mas outro alguém entrara na sua vida, se mostrando um tanto quanto mais especial.
- Vai atras dela. Você lutou por ela!
- Mas e você?
- Eu vou ficar bem. Na verdade eu descobri que sou legal demais para você...
- ...
- ...
E ele foi...
Eu me levantei e saí do cinema pensando justamente que a vida tem que ser melhor que isso!
E ele foi
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
E foi assim que eu comecei
Quando nos sentamos confortavelmente na poltrona que fica no jardim ele retirou seu bloco de anotações do bolso e começou a me perguntar de forma bem descontraída:
- E aí? Você joga Paintball desde quando?
- Já faz muito tempo. Muitos anos.
- Profissionalmente?
- Não... profissionalmente eu jogaria se praticasse paintball para viver. Se eu vivesse do paintball. Mas para mim é só um hobby, um esporte, uma diversão.
- Mas você joga com seriedade. Tem time, tem campo, treina... posso dizer que é quase um profissional?
- O mais correto seria dizer que sou um jogador experiente.
- Certo! E por que você começou a jogar paintball?
- Pelo mesmo motivo que a guerra de Tróia começou.
- Fala sério!
- Estou falando sério. Não é brincadeira.
- Então você está me dizendo que começou a jogar paintball por causa de uma mulher?
- É isso aí. Comecei jogar paintball depois que uma mulher me deixou.
- E porque essa mulher te deixou?
- Porque eu comecei a jogar paintball!
- Calma, espera um pouco aí... - disse ele pausadamente, suspirando para não rir - Agora você me deixou sem entender nada.
- Vou te explicar desde o início. Eu era jovem e amava muito uma garota. Ao menos pensava que amava, e por ela eu fazia tudo.Sempre fui muito idiota quando o assunto era relacionamentos sérios. E mais idiota ainda quando eu começava a gostar realmente de uma garota. Até parece que elas sabem que você está gostando muito delas e fazem questão de deixar as coisas mais difíceis. Os bombons e as flores deixam de ser suficientes para agradá-las. Depois de certo tempo, nem mesmo os diamantes conseguem trazer de volta o brilho dos seus olhos. E a vida vai desmoronando, e você vai tentando se agarrar em alguma coisa para seguir em frente.
E naquela época, quando a coisa toda começou a azedar eu conheci os caras do Paintball e comecei a frequentar os campos. Fiz amizades, algumas inimizades também porque todos somos humanos e cometemos erros.
Com isso, deixei de levar tinta no sentido figurado e passei a tomar tinta no sentido literal da expressão.
A cada novo jogo, a cada nova missão, eu saía mais vivo do que tinha entrado. No início eu esquecia dos problemas durante os jogos, depois essa sensação de alegria e complemento foi se prolongando, entre os longos espaços de tempos entre os jogos. E por mais competitivo que eu fosse, ali eu não me importava em vencer ou perder, bastava lutar. Inconscientemente eu criara uma maquete do que é a vida... Uma luta constante. Esforço, dedicação, companheirismo. E essa irmandade que vai se formando, solidificando-se através dos vínculos e dos hematomas foi ficando mais forte do que eu imaginava.
E ela não gostava de competição. Não aceitava competição. Num belo dia de outono ela me colocou contra a parede, e pediu para eu escolher, ou ela ou o paintball.
E é por isso que eu estou aqui, vestido com essa farda, com essa máscara, segurando esse marcador como se este fosse o objeto que vai salvar a minha vida.
Fantasticamente, o paintball é a minha Legião Estrangeira e portanto eu me alistei aqui para me esquecer de um amor não correspondido.
- E a dor passou?
- Não importa... O que importa é que toda vez que eu saio de um jogo, eu tenho a certeza de que estou vivo e que viver vale cada instante quando se vive plenamente e bem.
Ele então ficou um longo tempo em silêncio... olhava para as anotações mas não anotava mais nada. Depois seu olhar se transferiu para o jardim. Mas ele parecia estar olhando para o passado, talvez para o futuro. Então se levantou, veio até mim e me abraçou formalmente. Agradeceu pela entrevista e se foi.
Dias depois, eu o reencontrei. Estava mudado. Vestia uma farda camuflada, segurava um marcador de iniciantes, como quem segura em seus braços seu grande amor. Ele não disse nada, apenas me acenou com a cabeça formalmente.
Não sei dizer ao certo, mas acho que ele parecia feliz.
Como veterano, eu não sorri... apenas disse formalmente:
- Bem vindo ao fronte soldado!
- Para mim é uma honra lutar ao seu lado Senhor... - respondeu-me ele com a voz embaçada.
E os adultos foram brincar de guerra naquele sábado ensolarado.
domingo, 16 de setembro de 2012
E o filme acabou
Estava escuro, e ao fundo Caetano cantava
"Você bem que podia perdoar
E só mais uma vez me aceitar,
Prometo agora vou fazer por onde,
Nunca mais perdê-la"
E só mais uma vez me aceitar,
Prometo agora vou fazer por onde,
Nunca mais perdê-la"
- Este beijo é o nosso casamento.
- Este beijo foi nossa despedida.
- Não! E a Senhora não sabe que todo filme de amor se acaba em beijo?
- Sei... Mas já ascendeu a luz do cinema... E agora vai começar a minha vida!
- Não! E a Senhora não sabe que todo filme de amor se acaba em beijo?
- Sei... Mas já ascendeu a luz do cinema... E agora vai começar a minha vida!
Ela deixava a cena enquanto Caetano arrematava ao fundo
"E agora que faço eu da vida sem você
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando me encontrar."
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando me encontrar."
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
MAIS UM FIM
Quando senti o gosto salgado de teu beijo, descobri que havia chorado.
Mas foi teu abraço que te denunciou. Não havia calor, fervor, entrega. Foi mecânico, automático, sem vontade, quase patético.
Ao me desvencilhar de teus braços, eu sabia que estava me afastando para sempre de uma parte boa de minha história.
É quando o "nós" volta a ser dois alguéns.
No começo há o sofrimento, porque sofrer é uma faculdade que ainda não dominamos. E a dor que nos invade parece o anuncio do apocalipse particular.
Espera-se muito de um momento como aquele. Os olhos rasos dágua pediam uma manifestação de minha parte. Mas naquela hora eu não podia dizer sequer algumas palavras de consolo, ou mesmo alguma coisa construtiva. Era hora de ir.
E eu fui. E não olhei para tras.
Mas foi teu abraço que te denunciou. Não havia calor, fervor, entrega. Foi mecânico, automático, sem vontade, quase patético.
Ao me desvencilhar de teus braços, eu sabia que estava me afastando para sempre de uma parte boa de minha história.
É quando o "nós" volta a ser dois alguéns.
No começo há o sofrimento, porque sofrer é uma faculdade que ainda não dominamos. E a dor que nos invade parece o anuncio do apocalipse particular.
Espera-se muito de um momento como aquele. Os olhos rasos dágua pediam uma manifestação de minha parte. Mas naquela hora eu não podia dizer sequer algumas palavras de consolo, ou mesmo alguma coisa construtiva. Era hora de ir.
E eu fui. E não olhei para tras.
Psicologia Infantil
Era uma tarde de terça feira e o transito da cidade estava tumultuado. Como de costume eu andava até o local onde havia estacionado o carro. Isso porque tenho o costume de estacionar sempre longe.
No caminho, me deparei com uma cena bem comum nos dias atuais: Uma mulher que segurava uma criança de uns dois anos pela mão, enquanto a criança desabava em uma crise de manha e choro.
O sinal estava aberto, então alcancei aquela dupla que esperava o sinal fechar. Ali do meu lado a criança não parava de gritar e espernear. Quando sentou no chão e começou a agredir a mulher que provavelmente era sua mãe, ela me olhou meio que incomodada ante sua total impotência em lidar com aquela situação.
Fizesse eu uma cara de reprovação, ela ficaria com vergonha e talvez tomasse uma atitude mais drástica, ou iria logo antipatizar com à minha presença. Resolvi então tomar outra postura diante daquela situação. Virei-me para ela e disse em tom de brincadeira, como se quisesse parecer sério:
- Dona! Dá esse menino pra mim?
- Você quer ele? - respondeu imediatamente a mulher entrando na brincadeira - olhe aqui Kayke, que se você não parar de chorar eu vou te dar para esse homem!- disse a mulher para a criança enquanto apontava para mim.
E foi aí então que o tal do Kayke esperneou e gritou bonito. Tudo para chamar atenção.
A mãe então soltou a mão do menino que estava no chão e disse:
- Pega moço! Leva esse menino para o senhor que eu não quero mais saber desse menino chorão.
E o Kayke gritando...
A mãe, mostrando-se uma atriz fenomenal virou a esquina, saindo de nossas vistas e abandonando o tal Kayke, que continuava chorando, enquanto eu me segurava para não rir.
Passados alguns segundos, o moleque levantou do chão e ainda chorando foi até a esquina gritar mais alto para vencer a mãe pelo cansaço. Mas para a minha surpresa a mãe não estava se deixando levar pela a birra do menino. O natural seria que aquela mãe despreparada voltasse logo para consolar o menino que se sentiu abandonado pela mãe. Entretanto, ela foi firme e incisiva e não voltou logo de cara.
E o Kayke chorando...
O Sinal fechara, mas eu, interessado no desenrolar dos acontecimentos, ao invés de atravessar, fiquei olhando o menino que hora olhava para a rua na qual a mãe havia sumido hora olhava para mim.
O tempo passava e a mulher não voltava. Kayke já estava cansando de gritar. Seu choro já se tornava um amontoado de soluços intercalados. A tática estava funcionando. O garoto parou de dar birra. Mas ao contrário do que eu esperava, a mulher não aparecia.
Eu ali, observando o menino na esquina olhando para a outra rua, como se procurasse a mãe, e logo olhava para mim, como se perguntasse com aquele olhar: "onde está minha mãe?"
Minha vontade de sorrir simplesmente sumiu, começando a dar lugar à uma preocupação verdadeira. Corri para a esquina onde estava o garoto, e ao seu lado tentei localizar sua mãe na rua por onde havia saído. Mas nem sinal da mulher.
Algo muito estranho estava acontecendo. Aquela situação havia passado dos limites de uma brincadeira ou de um castigo. A birra do menino virava desespero, e meu senso de humor também ia pelo mesmo caminho.
Automaticamente corri pela rua para ver se via a mulher, mas não a vi. Corri até muito adiante, e nada. Nem sinal.
Quando parei no final da rua que terminava em outra rua que ia para dois lados, olhei para a esquerda e não a vi, para a direita e nada. Voltei-me então e a única coisa que vi foi um menino só e abandonado a soluçar numa esquina do centro da cidade.
Segurei na mão do garoto que prudentemente havia parado de fazer cena. Olhei para aqueles olhinhos assustados cheios de medo e desconfiança. Quis lhe dizer algo tipo: "Calma, vai dar tudo certo" ou "Já já vamos encontrar a sua mãe"
Mas diante das circunstâncias, olhei para o Kayke e disse:
- Algo me diz que agora fodeu!
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
O homem de batom
A primeira vez que aconteceu, foi no inverno seco do Brasil, quando seus lábios trincados ardiam.
A aula já havia terminado mas ainda estavam na sala, quando uma colega lhe disse que se passasse batom aquela dor iria passar.
Na hora ele protestou, dizendo que batom era coisa de mulher, e que não teria coragem de sair de batom pela rua.
Ela achou graça e lhe disse que haviam batons discretos, sem cores, e que ninguém iria perceber.
Ainda sob protestos ele se deixou levar pela linda colega que já lhe passava batom sobre seus lábios.
Até hoje ele não entende como, mas quase que imediatamente após usar aquela base em sua boca, imediatamente já estava misturando seu batom ao dela. E por muito tempo aquilo ficou guardado em sua mente, como um dos momentos mais estranhos porém felizes da vida de um jovem adolescente.
A segunda vez, foi no carnaval.
Junto com alguns amigos resolveu se vestir de mulher para sair às ruas bebendo e dançando atrás de um bloco qualquer.
Olhou-se no espelho: Peruca loira que havia sido de uma tia que morreu de câncer; o vestido com motivos florais e a sapatilha confortável ele arrumou com uma prima da mesma altura. Mas parecia que algo faltava. Ele que sempre havia sido tímido, se sentiu confiante em atravessar o hall de entrada e tocar a campainha do apartamento de frente.
Foi quando a vizinha deslumbrante atendeu e rindo daquela cena o convidou para entrar.
Pediu alguns conselhos e ela então disse que faltava a maquiagem.
Ela caprichou no visual, batom sombras, cílios, rímel, entre outras coisas mais.
E durante aquela sessão tudo aconteceu. Borraram a primeira maquiagem, borraram a segunda, e lá pela terceira ou quarta tentativa, decidiram deixar como estava, a final, era carnaval.
A terceira vez, não aconteceu por acaso. Ele tinha uma teoria. Uma teoria incrível que precisava ser testada.
Entrou na loja de departamento e procurou a vendedora mais bela do setor de cosméticos. Na maior cara dura e confiança pediu para experimentar alguns batons. A garota sorriu cordialmente, pensando se tratar apenas de um homossexual comum, e o tratou com toda a normalidade que sua experiência como vendedora já lhe havia ensinado. O que ela não conseguiu explicar ao seu gerente, foi o porquê de estar semi-nua, agarrando-se à um cliente no trocador da loja.
Ele havia comprovado sua teoria. Descobriu que possuía algo especial. Possuía um super poder, melhor que o do homem aranha, superman ou Batman... O poder do boca-loka!
A aula já havia terminado mas ainda estavam na sala, quando uma colega lhe disse que se passasse batom aquela dor iria passar.
Na hora ele protestou, dizendo que batom era coisa de mulher, e que não teria coragem de sair de batom pela rua.
Ela achou graça e lhe disse que haviam batons discretos, sem cores, e que ninguém iria perceber.
Ainda sob protestos ele se deixou levar pela linda colega que já lhe passava batom sobre seus lábios.
Até hoje ele não entende como, mas quase que imediatamente após usar aquela base em sua boca, imediatamente já estava misturando seu batom ao dela. E por muito tempo aquilo ficou guardado em sua mente, como um dos momentos mais estranhos porém felizes da vida de um jovem adolescente.
A segunda vez, foi no carnaval.
Junto com alguns amigos resolveu se vestir de mulher para sair às ruas bebendo e dançando atrás de um bloco qualquer.
Olhou-se no espelho: Peruca loira que havia sido de uma tia que morreu de câncer; o vestido com motivos florais e a sapatilha confortável ele arrumou com uma prima da mesma altura. Mas parecia que algo faltava. Ele que sempre havia sido tímido, se sentiu confiante em atravessar o hall de entrada e tocar a campainha do apartamento de frente.
Foi quando a vizinha deslumbrante atendeu e rindo daquela cena o convidou para entrar.
Pediu alguns conselhos e ela então disse que faltava a maquiagem.
Ela caprichou no visual, batom sombras, cílios, rímel, entre outras coisas mais.
E durante aquela sessão tudo aconteceu. Borraram a primeira maquiagem, borraram a segunda, e lá pela terceira ou quarta tentativa, decidiram deixar como estava, a final, era carnaval.
A terceira vez, não aconteceu por acaso. Ele tinha uma teoria. Uma teoria incrível que precisava ser testada.
Entrou na loja de departamento e procurou a vendedora mais bela do setor de cosméticos. Na maior cara dura e confiança pediu para experimentar alguns batons. A garota sorriu cordialmente, pensando se tratar apenas de um homossexual comum, e o tratou com toda a normalidade que sua experiência como vendedora já lhe havia ensinado. O que ela não conseguiu explicar ao seu gerente, foi o porquê de estar semi-nua, agarrando-se à um cliente no trocador da loja.
Ele havia comprovado sua teoria. Descobriu que possuía algo especial. Possuía um super poder, melhor que o do homem aranha, superman ou Batman... O poder do boca-loka!
Então Setembro Chegou...
Quando ele acordou naquele dia quente e seco, tentou se levantar da cama, mas o lençol estava grudado em seu rosto, por causa do suor ou de lágrimas. Não sabia ao certo. Não lembrava de ter chorado. Então, provavelmente não eram lágrimas.
Mas porque em seu peito sentia tanto alívio como se tivesse se livrado de tantas angústias?
Não sabia.
Até aquele momento ele não sabia que já era setembro. Dia primeiro de setembro.
Talvez porque ele já estivesse preparado para toda a carga que a vida lhe impunha todos os anos nesta mesma época.
Talvez porque já estivera esperando por era, e havia se preparado.
Talvez tivesse apenas se esquecido.
Livrou-se dos lençóis, colocou-se de pé e quando menos esperou estava em frente ao espelho. E ali à sua frente estava alguém que não reconheceu.
Uma linha muita tênue separa o sucesso do fracasso. E naquela época do ano, ele não sabia de que lado se encontrava.
Respirou fundo e se aprontou para os dias mais amarelos daquela época do ano.
Mas porque em seu peito sentia tanto alívio como se tivesse se livrado de tantas angústias?
Não sabia.
Até aquele momento ele não sabia que já era setembro. Dia primeiro de setembro.
Talvez porque ele já estivesse preparado para toda a carga que a vida lhe impunha todos os anos nesta mesma época.
Talvez porque já estivera esperando por era, e havia se preparado.
Talvez tivesse apenas se esquecido.
Livrou-se dos lençóis, colocou-se de pé e quando menos esperou estava em frente ao espelho. E ali à sua frente estava alguém que não reconheceu.
Uma linha muita tênue separa o sucesso do fracasso. E naquela época do ano, ele não sabia de que lado se encontrava.
Respirou fundo e se aprontou para os dias mais amarelos daquela época do ano.
domingo, 26 de agosto de 2012
Já há algum tempo eu tenho observado algumas mudanças.
Antigamente o telefone sempre tocava e eu ficava muito feliz ao saber que era alguém muito especial do outro lado da linha.
Depois de um certo tempo, ele já não tocava com frequência, e eu passei a ligar para as pessoas especiais, mais do que recebia ligações.
Então ele deixou de tocar. E eu ficava esperando ligações de alguém especial.
O tempo passa, as coisas mudam...
Hoje não espero ninguém ligar. Talvez por não ter mais ninguém especial para me telefonar. Talvez, por não ser mais especial para ninguém.
E foi com este pensamento que eu atendi esta ligação:
- Pronto!
- Oi amorrrr!
- Quem fala?
- Uai? Você não sabe quem está falando?
- Sinceramente não! A ligação não está muito boa, não estou reconhecendo a voz. Mas quem fala?
- Advinha!
- Prefiro nem tentar...
- Ah não! Você está muito chato hoje! Mas já sei do que você precisa.
- Do que?
- De mim!
- (suspiro)... ééé...
- Mas eu estou te ligando para te desejar feliz aniversário. Que jesus te abençoe e que todos os seus sonhos se realizem.
- Obrigado. Muito obrigado por ter ligado.
- Vamos fazer alguma coisa mais tarde? Se você for sair para comemorar, me liga! Quero te ver.
- Tudo bem. Depois te ligo.
- Tá bom então. Um beijo e me liga!
- Beijo.
...
Alguma coisa está muito errada nesta história. Agora eu nem sei quem está telefonando...
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
AMANHÃ É 23
Hoje é o dia para se ouvir essa música...
Na verdade, essa música nunca fez tanto sentido quanto faz hoje.
Nada melhor que o tempo para cuidar de nossas feridas.
Nada melhor que a vida para nos ensinar através de nossos proprios erros.
Nada melhor que a esperança para nos dar forças para seguir adiante.
As entradas do meu rosto
E os meus cabelos brancos
Aparecem a cada ano
No final de um mês de Agosto...
E os meus cabelos brancos
Aparecem a cada ano
No final de um mês de Agosto...
Há vinte anos você nasceu
Ainda guardo um retrato antigo
Mas agora que você cresceu
Não se parece nada comigo...
Ainda guardo um retrato antigo
Mas agora que você cresceu
Não se parece nada comigo...
Esse seu ar de tristeza
Alimenta a minha dor
Tua pose de princesa
De onde você tirou...
Alimenta a minha dor
Tua pose de princesa
De onde você tirou...
Amanhã! Amanhã!
Amanhã! Amanhã!...
Amanhã! Amanhã!...
Amanhã é 23
São 8 dias para o fim do mês
Faz tanto tempo
Que eu não te vejo
Queria o seu beijo
Outra vez...
São 8 dias para o fim do mês
Faz tanto tempo
Que eu não te vejo
Queria o seu beijo
Outra vez...
E o que mais me impressiona é o fato de ainda carregar este sorriso no rosto...
terça-feira, 21 de agosto de 2012
A Triste História da Garota que não Sabia Amar
Aquela era a ultima
livraria da cidade. Era também minha ultima esperança de encontrar o livro
com o qual eu queria presenteá-la. E ao entrar, sem rodeios fui direto ao balcão e
perguntei para o vendedor:
- Boa tarde, você tem
o Livro “O pequeno príncipe”?
- Boa tarde. Um
minuto que vou consultar no sistema – após alguns instantes ele prosseguiu –
Tenho sim. Só tem um volume que deve estar no mostruário. Ali naquela
prateleira.
De
longe eu avistei o livro que eu tanto procurava. Mas, ao
lado da prateleira havia uma senhora de mais idade. E quando eu alcancei o
livro, ela, também o alcançou, e nós dois, praticamente seguramos o livro ao mesmo tempo.
Nós
nos olhamos surpresos. Por educação, e respeito à sua idade avançada e aos seus
cabelos brancos, eu soltei o livro, deixando que ela o namorasse.
-
Acho que queremos o mesmo livro. - falei com um sorriso simpático.
-
Deve ter outro por aqui, não é mesmo? - Ela me perguntou sorrindo enquanto
olhava para a prateleira.
-
Não, este é o ultimo. O vendedor já consultou no sistema. - eu disse meio
desapontado - Eu já estive em todas as livrarias. Este parece ser o ultimo
livro da cidade.
-
Mas você poderá pedi-lo por encomenda. Leva no máximo sete dias para chegar.
-
É um presente para uma pessoa especial, que faz aniversário nesta semana.
Não daria tempo.
-
Já eu, o quero para minha neta. Fernanda. Ela faz aniversário na quarta feira
dia 28 de setembro. Fará sete aninhos.
-
Nossa! - Falei surpreso - a minha aniversariante também faz aniversário no
mesmo dia. Só que ela vai completar 20 anos.
-
Como ela se chama?
- Amanda, disse eu .
-
Amanda e Fernanda... Manda e Nanda. - ela fez essa comparação e sorriu com
tanto carinho que eu percebi que não poderia argumentar mais para ficar com
aquele livro. - É a sua namorada?
-
Não. Ainda não. Mas em breve vai ser. - falei animado.
-
Porque iria presenteá-la com este livro?
-
Eu gosto dela. Ela já me “cativou”. Mas ela ainda tem muito que aprender sobre
o amor. Ela me disse que não conhece a historia deste livro.
-
Ela tem 20 anos e não conhece a história do Pequeno Príncipe? Então, ela
praticamente não sabe amar. Meu Deus! - disse me entregando o livro - Acho que
sua Manda precisa mais deste livro do que a minha Nanda. A minha ainda tem
muito tempo para aprender a amar. E se a sua está deixando um rapaz como você
solto por aí, está perdendo tempo. - falou com uma expressão de quem estava se
esforçando para fazer cara de brava.
Olhei
para o livro e logo após olhei para ela. Meu olhar já dizia “obrigado”, e ela
respondeu com piscadinha matreira como se dissesse “de nada”.
Fui
para o caixa, mas fiquei observando aquela senhora andar por entre as
prateleiras, a procura de um novo presente para sua netinha. Olhei em volta e
vi um bichinho de pelúcia. Comprei o livro e acabei comprando este ursinho
também. Fui até aquela senhora, e entreguei o ursinho dizendo:
-
A senhora acabou me dando o presente para a minha Manda, e achei que deveria
dar um presente para sua Nanda.
Ela
recebeu o ursinho, olhou bem para ele, e depois me olhou emocionada dizendo:
-
Ora! Mas você é mesmo um príncipe! Mande meus votos de feliz aniversário para
sua Manda. Espero que o livro os ajude.
Saí
da loja com a sensação de que recebi recebi o presente de um anjo em forma de uma vovó.
Carregando o livro abraçado ao peito refleti no quanto essas coisas simples e inesperadas tornam a vida tão bela.
A piada de tudo isso é que Amanda se foi, e nunca leu aquele livro...
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
Vice
Não sei porque...
De uma hora para outra os morangos perderam o sabor.
Os bombons de trufas deixaram de me dar prazer.
De um instante para outro eu tenho me esquivado dos abraços.
A verdade é que a carência de vitórias tem me tornado um especialista em derrotas.
Sempre ouço falar "Tem que saber perder, tem que aprender a perder?" Acho que fiz todas as lições com mérito.
E ultimamente estou dando uma roupagem toda especial para as derrotas. Tenho ouvido muitos especialistas me parabenizarem:
"Você está saindo, mas está saindo por cima"
"Perdeu com honra"
"Caiu com dignidade"
"Lutou bem"
"Quaaaaase!!!"
A ultima foi campeã, acho que foi um verdadeiro reconhecimento, o meu diploma, e estou seriamente pensando em emoldura-lo.: "Você perdeu com classe e com muita desenvoltura... pensei até que tinha ganhado!"
E quando olho no espelho ainda vejo um sorriso no meu rosto...
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
Carta para uma amiga triste
Nada melhor que um dia após o outro...
O sofrimento é inevitável, é uma das faculdades de nossa sensibilidade. Através do sofrimento nos moldamos para viver a vida.
E a vida é assim... Tal qual uma gangorra. Uma hora estamos lá em cima, sentindo o vento, vendo as flores, nos braços da felicidade. Quase que instantaneamente, nos surpreendemos quando descobrimos estar lá embaixo, próximo
de tudo o que rasteja e conspira
na face da terra. O que esquecemos é que a vida é assim, logo estaremos
em cima novamente, e temos que estar preparados para descer.
Na vida ... não importa estar por cima ou por baixo. O importante é estar em constante movimento. Aprendendo com cada beijo e com cada pancada. Sempre com um sorriso no rosto.
Porque a vida só sorri por retribuição ao sorriso que lhe damos.
É claro que as lágrimas também são importantes, somos humanos, precisamos expressar nossa dor. Mas elas precisam ser secadas o quanto antes para dar lugar ao sorriso.
A vida não sente piedade de ninguém.
Piedade tem o mesmo peso da vergonha e do medo.
Por maior que seja a nossa dor, o mundo à nossa volta sempre irá desconhece-la. Pois com o tempo descobrimos que diante do mundo, nós com nossos egoísmos e preocupações mesquinhas e individuais, somos insignificantes.
Só nos tornamos grandes quando agimos em prol de outras pessoas, pelo conjunto, pelo coletivo, da humanidade.
Temos que nos tornar pessoas melhores, não para nós mesmos, ou para uma pessoa especial. Mas para fazermos o bem para aqueles que estão ao nosso lado. Quando evoluímos como seres humanos, fazemos da humanidade um lugar melhor. Nossas maiores dificuldades só podem ser vencidas por nós mesmos.
A piedade não te faz mais forte, mas te torna mais frágil e propensa a desistência.
Após cada segundo, cada minuto, dia mês e ano, a gente vai descobrindo que não há nada melhor que um dia após o outro.
E a cada dia nos tornamos mais sábios, mais fortes e mais humanos.
Por que ser um ser humano é algo incrível. É ser um pedaço de Deus sobre a terra.
Você vai ficar bem. E um dia vai rir de tudo isso.
Beijos
Na vida ... não importa estar por cima ou por baixo. O importante é estar em constante movimento. Aprendendo com cada beijo e com cada pancada. Sempre com um sorriso no rosto.
Porque a vida só sorri por retribuição ao sorriso que lhe damos.
É claro que as lágrimas também são importantes, somos humanos, precisamos expressar nossa dor. Mas elas precisam ser secadas o quanto antes para dar lugar ao sorriso.
A vida não sente piedade de ninguém.
Piedade tem o mesmo peso da vergonha e do medo.
Por maior que seja a nossa dor, o mundo à nossa volta sempre irá desconhece-la. Pois com o tempo descobrimos que diante do mundo, nós com nossos egoísmos e preocupações mesquinhas e individuais, somos insignificantes.
Só nos tornamos grandes quando agimos em prol de outras pessoas, pelo conjunto, pelo coletivo, da humanidade.
Temos que nos tornar pessoas melhores, não para nós mesmos, ou para uma pessoa especial. Mas para fazermos o bem para aqueles que estão ao nosso lado. Quando evoluímos como seres humanos, fazemos da humanidade um lugar melhor. Nossas maiores dificuldades só podem ser vencidas por nós mesmos.
A piedade não te faz mais forte, mas te torna mais frágil e propensa a desistência.
Após cada segundo, cada minuto, dia mês e ano, a gente vai descobrindo que não há nada melhor que um dia após o outro.
E a cada dia nos tornamos mais sábios, mais fortes e mais humanos.
Por que ser um ser humano é algo incrível. É ser um pedaço de Deus sobre a terra.
Você vai ficar bem. E um dia vai rir de tudo isso.
Beijos
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
Mil Pedaços
Engraçado como algumas coisas capazes de nos fazer feliz, de uma hora para outra adquirem a condição de nos entristecer.
Interessante como alguns sonhos se tornam pesadelos depois que acordamos.
Existem sensações que doem mais que a própria dor.
Há momentos em que as palavras somem... Por sorte algumas músicas já existem para dizer tudo!
Interessante como alguns sonhos se tornam pesadelos depois que acordamos.
Existem sensações que doem mais que a própria dor.
Há momentos em que as palavras somem... Por sorte algumas músicas já existem para dizer tudo!
terça-feira, 24 de julho de 2012
Licor de Cassis e outros sabores
Era uma tarde de domingo, e estávamos em um Shopping da cidade.
Logo na chegada, dois amigos me chamaram para ver uma garota. Era ela linda como tudo o que é jovem costuma ser. Seus negros cabelos pendiam em duas tranças, os olhos redondos e espertos brilhavam como duas gemas, sorriso contagiante, um corpo esculturalmente bem colocado em um vestidinho preto que acentuava as pernas mais lindas que eu já vira em uma meia calça preta. E aparentemente não passava dos 14 anos de idade, principalmente porque as amigas que a acompanhavam pareciam ser ainda mais jovens.
Briguei com meus amigos. Disse a eles que ela era quase uma criança. E em tom de censura lhes disse que se colocassem em seus lugares. Todos já tínhamos mais de 20 anos, e não era certo flertar com uma criança. Lembro-me de dizer que havia o errado, o muito errado e depois isso.
Naquele dia assistíamos algumas apresentações de dança do ventre em uma feira árabe. E meus amigos babavam nas odaliscas que se achavam. Ao final de cada apresentação eu ficava rindo dos caras abordando as dançarinas para ver se conseguiam alguma atenção. Elas que já estavam com a vaidade à mil, se imaginavam as senhoras do destino e esnobavam cada rapaz na sua forma particular.
Eu ria de tudo aquilo. Dos foras, das tiradas, de cada tentativa mal sucedida. O pouco que eu já sabia da vida, tinha certeza de que toda e qualquer investida daquela forma não daria em nada. Por isso, quando a situação passou do cômico ao deprimente resolvi sair.
Saí da feira e fui até uma revistaria que ficava nocentro do shopping. Para minha surpresa, a garotinha de tranças estava do meu lado olhando uma revista de culinária japonesa.
Instintivamente eu sorri para ela, que me devolveu o sorriso. Automaticamente soltei um "oi".
E em resposta, seu "oi" veio seguido de uma pergunta: "você também gosta de comida japonesa, não gosta?"
- Sim eu gosto.- respondi - como você sabe?
- Eu logo imaginei por causa da sua camiseta. - eu vestia uma camiseta com um ideograma japonês - o que significa esse símbolo?
- É o nome da minha academia de karatê em japonês - respondi, achando graça da percepção da garotinha.
E ficamos ali conversando mais um pouco.
E em determinado momento da conversa, ela muito atenta, reparou que eu conversava com ela como se conversasse com uma criança.
- Quantos anos você acha que eu tenho?- ela me perguntou.
Pensei um pouco, porque para agrada-la eu iria mentir a idade. Mulheres são criaturas interessantes. Quando são novas, adoram se passar por mais velhas, e quando mais velhas adoram quando dizemos que tem menos idade do que aparenta.- 16 - respondi, imaginando que ela teria uns 14 anos.
- Você errou! - disse ela sorrindo - Eu tenho 18 anos!
Meu silêncio instantâneo, somado à minha expressão de susto e surpresa, fez com que ela se divertisse mais ainda. Então ela maldosamente disse:
- Na minha idade eu já posso fazer muita coisa...
Eu sempre fui rápido em perceber o perigo, e naquele instante eu percebi que a partir daquele ponto minha vida nunca mais seria a mesma.
Logo na chegada, dois amigos me chamaram para ver uma garota. Era ela linda como tudo o que é jovem costuma ser. Seus negros cabelos pendiam em duas tranças, os olhos redondos e espertos brilhavam como duas gemas, sorriso contagiante, um corpo esculturalmente bem colocado em um vestidinho preto que acentuava as pernas mais lindas que eu já vira em uma meia calça preta. E aparentemente não passava dos 14 anos de idade, principalmente porque as amigas que a acompanhavam pareciam ser ainda mais jovens.
Briguei com meus amigos. Disse a eles que ela era quase uma criança. E em tom de censura lhes disse que se colocassem em seus lugares. Todos já tínhamos mais de 20 anos, e não era certo flertar com uma criança. Lembro-me de dizer que havia o errado, o muito errado e depois isso.
Naquele dia assistíamos algumas apresentações de dança do ventre em uma feira árabe. E meus amigos babavam nas odaliscas que se achavam. Ao final de cada apresentação eu ficava rindo dos caras abordando as dançarinas para ver se conseguiam alguma atenção. Elas que já estavam com a vaidade à mil, se imaginavam as senhoras do destino e esnobavam cada rapaz na sua forma particular.
Eu ria de tudo aquilo. Dos foras, das tiradas, de cada tentativa mal sucedida. O pouco que eu já sabia da vida, tinha certeza de que toda e qualquer investida daquela forma não daria em nada. Por isso, quando a situação passou do cômico ao deprimente resolvi sair.
Saí da feira e fui até uma revistaria que ficava nocentro do shopping. Para minha surpresa, a garotinha de tranças estava do meu lado olhando uma revista de culinária japonesa.
Instintivamente eu sorri para ela, que me devolveu o sorriso. Automaticamente soltei um "oi".
E em resposta, seu "oi" veio seguido de uma pergunta: "você também gosta de comida japonesa, não gosta?"
- Sim eu gosto.- respondi - como você sabe?
- Eu logo imaginei por causa da sua camiseta. - eu vestia uma camiseta com um ideograma japonês - o que significa esse símbolo?
- É o nome da minha academia de karatê em japonês - respondi, achando graça da percepção da garotinha.
E ficamos ali conversando mais um pouco.
E em determinado momento da conversa, ela muito atenta, reparou que eu conversava com ela como se conversasse com uma criança.
- Quantos anos você acha que eu tenho?- ela me perguntou.
Pensei um pouco, porque para agrada-la eu iria mentir a idade. Mulheres são criaturas interessantes. Quando são novas, adoram se passar por mais velhas, e quando mais velhas adoram quando dizemos que tem menos idade do que aparenta.- 16 - respondi, imaginando que ela teria uns 14 anos.
- Você errou! - disse ela sorrindo - Eu tenho 18 anos!
Meu silêncio instantâneo, somado à minha expressão de susto e surpresa, fez com que ela se divertisse mais ainda. Então ela maldosamente disse:
- Na minha idade eu já posso fazer muita coisa...
Eu sempre fui rápido em perceber o perigo, e naquele instante eu percebi que a partir daquele ponto minha vida nunca mais seria a mesma.
quinta-feira, 19 de julho de 2012
Antes da chuva
Eis que mais um dia se vai.
Foi só mais um dia. Mas a cada dia parece passar mais rápido.
Ela me disse que se sentia só, e por isso eu vim. Não que minha companhia pudesse aplacar sua solidão. Mas perto dela eu também não estava só. Por isso fiquei. E com o tempo fui ficando. E quando vi, já não podia mais sair.
Saio de casa sem muita animação. Acendo um cigarro não por vontade, mas por força do hábito.
Vícios que a inconsciência alimenta a cada dia com cada decisão incorreta.
Um carro canta os pneus ao dobrar a esquina, não consegue fazer a curva e atinge o poste.
Corro alguns metros e paro. Fico olhando a cena até que o motorista sai do veículo. Cambaleia um pouco e diz que está tudo bem. Então me viro e vou embora. O socorro já vem. E eu já vou.
Não existem borboletas pelos caminhos em que passo.
Não existem flores nos caminhos em que ando.
Não pode haver sentido em uma vida sem sentido.
Acho que a maioria das pessoas só vivem porque tem medo de morrer...
... Eu não tenho medo de morrer e ainda vivo...
... a vida é um mistério.
Apresso o passo porque vai começar a chover
Foi só mais um dia. Mas a cada dia parece passar mais rápido.
Ela me disse que se sentia só, e por isso eu vim. Não que minha companhia pudesse aplacar sua solidão. Mas perto dela eu também não estava só. Por isso fiquei. E com o tempo fui ficando. E quando vi, já não podia mais sair.
Saio de casa sem muita animação. Acendo um cigarro não por vontade, mas por força do hábito.
Vícios que a inconsciência alimenta a cada dia com cada decisão incorreta.
Um carro canta os pneus ao dobrar a esquina, não consegue fazer a curva e atinge o poste.
Corro alguns metros e paro. Fico olhando a cena até que o motorista sai do veículo. Cambaleia um pouco e diz que está tudo bem. Então me viro e vou embora. O socorro já vem. E eu já vou.
Não existem borboletas pelos caminhos em que passo.
Não existem flores nos caminhos em que ando.
Não pode haver sentido em uma vida sem sentido.
Acho que a maioria das pessoas só vivem porque tem medo de morrer...
... Eu não tenho medo de morrer e ainda vivo...
... a vida é um mistério.
Apresso o passo porque vai começar a chover
quinta-feira, 12 de julho de 2012
Passo a Passo
Então a chuva passou.
Deixei o abrigo precário com teto de palha e fui caminhando em direção à estrada
Ao meu redor, encontro um mundo de poças, lama e água que desce continuamente em uma enxurrada constante.
Meus pés descalços no começo tentam evitar a água. Mas logo cada passo desafia o oceano enlameado.
Sigo em frente por uma estrada desconhecida.
Passos firmes, pés molhados e um olhar mais adiante.
Quem conhece o chão e acaba de se levantar, não tem medo de escorregar.
Deixei o abrigo precário com teto de palha e fui caminhando em direção à estrada
Ao meu redor, encontro um mundo de poças, lama e água que desce continuamente em uma enxurrada constante.
Meus pés descalços no começo tentam evitar a água. Mas logo cada passo desafia o oceano enlameado.
Sigo em frente por uma estrada desconhecida.
Passos firmes, pés molhados e um olhar mais adiante.
Quem conhece o chão e acaba de se levantar, não tem medo de escorregar.
terça-feira, 3 de julho de 2012
Amores Impossíveis
Quando sentei aqui, pensei em escrever sobre cavaleiros, batalhas e amores impossíveis.
Talvez escreveria sobre vampiros, lobisomens, criaturas amaldiçoadas e seus amores impossíveis.
Ou sobre a vida no campos, os animais, a natureza os homens simples e seus amores impossíveis.
Decidi por fim escrever sobre a política, as mazelas da humanidade, e sobre os amores impossíveis.
Mas desistir de escrever sobre quase tudo.
E agora me pego escrevendo sobre os amores impossíveis.
Pois amar é um ato quase impossível nos dias de hoje.
A visão, a surpresa, meu olhar o teu sorriso...
Teu sorriso, as fragrâncias, os sabores e o teu beijo...
O teu beijo, o meu beijo, a felicidade e a realidade...
A realidade a distância, as diferenças e o medo...
O medo, os desejos, os instantes e a partida...
A partida, as lagrimas, teu cabelo e meu olhar...
Meu olhar, a chuva, o vento e o tempo...
O tempo, a saudade, o esquecimento e o descaso...
Teu descaso, as lembranças, a dor e a saudade...
A saudade, as lembranças, as músicas e os lugares...
Os lugares, as músicas, os sonhos e a incerteza...
A incerteza, o telefone, meu sorriso e a esperança...
A esperança... Ah doce esperança...
Alimento predileto dos amores impossíveis.
Talvez escreveria sobre vampiros, lobisomens, criaturas amaldiçoadas e seus amores impossíveis.
Ou sobre a vida no campos, os animais, a natureza os homens simples e seus amores impossíveis.
Decidi por fim escrever sobre a política, as mazelas da humanidade, e sobre os amores impossíveis.
Mas desistir de escrever sobre quase tudo.
E agora me pego escrevendo sobre os amores impossíveis.
Pois amar é um ato quase impossível nos dias de hoje.
A visão, a surpresa, meu olhar o teu sorriso...
Teu sorriso, as fragrâncias, os sabores e o teu beijo...
O teu beijo, o meu beijo, a felicidade e a realidade...
A realidade a distância, as diferenças e o medo...
O medo, os desejos, os instantes e a partida...
A partida, as lagrimas, teu cabelo e meu olhar...
Meu olhar, a chuva, o vento e o tempo...
O tempo, a saudade, o esquecimento e o descaso...
Teu descaso, as lembranças, a dor e a saudade...
A saudade, as lembranças, as músicas e os lugares...
Os lugares, as músicas, os sonhos e a incerteza...
A incerteza, o telefone, meu sorriso e a esperança...
A esperança... Ah doce esperança...
Alimento predileto dos amores impossíveis.
quinta-feira, 21 de junho de 2012
No balanço do tempo
Quando cheguei às portas da velha casa encontrei a arvore centenária logo ao lado. Impávida e imponente.
Atado em seu galho pendia o saudoso balanço.
Deus, eu havia me esquecido do velho balanço.
Depois de muitos anos eu estava ali novamente diante do mais adorado brinquedo de minha infância. Sua velha tabua de ébano lustrada pelos anos e roupas das crianças que ali balançaram, estava convidativa.
Sentei-me, e logo um turbilhão de lembranças tomaram conta de minha mente.
Recordei-me de flores e pássaros. Dos cheiros, dos aromas, das cores e da felicidade.
Felicidade... que saudade sinto dela!
Ali sentado, lembrei de como aquele balanço me lançava para o alto. Quando se é criança, tudo parece gigantesco, enorme. Com a idade e a razão é que tomamos conta de que em verdade aquela grandeza era fruto de nossa minuscula existencia. Olhei para o galho de onde pendiam suas cordas, e percebi que era realmente muito alto. Aquela observação fez sentir-me ainda uma criança. Não! Fez-me sentir pequeno.
Talvez dissessem que foi por orgulho de adulto, ou fora por medo de estragarme as roupas, ou ainda por achar que aquelas cordas não me suportariam.
O que sei é que não balancei. Não faria mais sentido.Não balancei por dois motivos: minha insignificancia, e por não haver alguém para me empurrar.
D.C.M.S.S.!
segunda-feira, 21 de maio de 2012
Mente
Às vezes, um pensamento me toma.
Um pensamento de ser melhor.
Um pensamento que me eleva a uma condição superior. Que faz com que eu me recorde que sou um ser humano. E que isso é muita coisa.
Esse pensamento, quando recordado, tranquiliza, organiza a mente e faz crescer a esperança.
Uma pena que não o elevo ainda à condição essencial em meu interno.
Certamente os dias seriam bem melhores com sua companhia frequente.
Um pensamento de ser melhor.
Um pensamento que me eleva a uma condição superior. Que faz com que eu me recorde que sou um ser humano. E que isso é muita coisa.
Esse pensamento, quando recordado, tranquiliza, organiza a mente e faz crescer a esperança.
Uma pena que não o elevo ainda à condição essencial em meu interno.
Certamente os dias seriam bem melhores com sua companhia frequente.
quarta-feira, 9 de maio de 2012
Sombras em minha vida
Da minha janela eu acompanhava a sombra do prédio de escritórios onde trabalho que se projetava no telhado de uma casa bem diante da janela do meu escritório.
Era uma sombra definida, com linhas retas e bem traçadas que coincidentemente acompanha as fileiras de telhas conforme se movia no decorrer do dia. O dia passava lento e a sombra se movia exata, perfeita, simétrica às linhas das telhas. E eu de minha janela ficava facinado com a desenvoltura de seu caminhar pelo telhado, quase desfilando. Entre um telefonema e outro, um atendimento ou a execução de um serviço qualquer, eu estava sempre acompanhando aquela sombra.
Com o tempo eu dispensava até o relógio. Sabia que quando a sombra chegava na vigésima sétima fileira era a hora do cafezinho. Quando chegava na segunda fileira superior já era hora de sair.
Sem perceber eu me afeiçoava àquela sombra.
Sentia tristeza nos dias nublados, que me impediam de vê-la
Certo dia, a sombra ficou diferente. A linha reta foi maculada por alguma coisa que projetava uma barriga na minha sombra preferida. Era uma barriga enorme, feia. E eu, da minha janela, já sabia aqui comigo que sombras não ficam grávidas.
Durante toda a semana minha sombra estava ali, violada, indefinida. E no decorrer daquela semana aquilo me incomodava a ponto de fechar as persianas para não ter que ver aquela abominação do que outrora foi perfeito.
Logo descobri que aquela barriga era causada por uma antena instalada no alto do prédio.
Uma antena tipo parabólica, arredondada, que no local que se encontrava instalada danificou minha sombra completamente.
Conversei com o responsável pela manutenção e ele me disse que a antena havia sido instalada a pedido dos escritorios que possuiam aparelhos de televisão e queriam melhor imagens em suas transmissões.
Mas e minha sombra? Como ficaria?
Inicialmente comecei um abaixo assinado para retirar a antena de televisão. Mas ninguém si dignou em assinar. Então, fiz uma reclamação formal à empresa que geria o prédio. Mas também fui ignorado.
Depois de algumas semanas, sem sucesso na retirada da antena de forma pacífica, eu resolvi apelar para meios mais drásticos.
Subi ao terraço munido de um machado que retirei do painel de controle de incêndios e retirei a antena por conta própria.
Lá de cima, eu a vi cair sobre alguns carros. Uns dois ou tres eu acho. Mas meu olhar tinha outra direção a buscar. Foi então que eu a vi novamente ali. Linda, perfeita e reta. A minha amada sombra diária.
Mas eu a vi por pouco tempo ate ser contido pelos seguranças e policiais que me conduziram para a delegacia.
Fui julgado.
Condenado.
E aqui estou a me apaixonar por essa nova sombra listrada que se projeta da janela de minha cela.
quarta-feira, 2 de maio de 2012
PS. eu te amo!!!
Oi amor, sei que você não gosta que eu te chame assim. Mas vou continuar insistindo até você se acostumar.
Resolvi te escrever uma carta. E é isso que estou fazendo agora.
Peguei papel, caneta, e saí de casa para procurar um lugar que me inspirasse a colocar em palavras todos os meus sentimentos. Mas como aqui não tem árvores com sombras sobre a grama. Não tem jardins, nem bibliotecas. Estou no balcão da lanchonete. (Inclusive, essa manchinha marrom no canto da folha é café que derramou).
Nossa! No rádio está tocando aquela música que você gosta. Aquela que começa assim: Na-na-na-nannnn... Pan-Pan-Pan Na-na-na-nam... Eu não sei o nome da música, porque é em inglês, mas acho que vc vai lembrar.
Eu estava vindo pra cá quando um guarda me abordou. Pediu meus documentos, perguntou de onde eu vinha, onde eu ia e o que ia fazer. Quando eu comecei a explicar ele me jogou os documentos e me dispensou. Não entendi muito bem o porquê daquela atitude. Pergunta e não espera a gente responder. Talvez seja por conta daquele meu problema. Mas eu já estou indo no fonoaudiólogo. E com fé em deus tudo vai ficar bem.
Acabaram de limpar o chão. Ainda está úmido e com um cheiro gostoso de desinfetante e sabão em pó.
Mais cedo passei na tua casa e sua mãe estava fazendo aqueles bolinhos de chuva. Comi uma porção deles, até ela me mandar embora de lá.
Essa noite eu sonhei com você. Mas não consigo me lembrar sobre o que foi o sonho. Nem me recordar se foi bom ou se foi ruim. Mas só de sonhar com você, já é bom. Fico pensando se você sonha comigo também.
Aqui está tudo bem. Não precisa se preocupar comigo. Eu já fico preocupado demais da conta com você aí sozinha. Se eu ao menos imaginar que você está preocupada comigo, eu fico mais preocupado ainda.
Estou sentindo falta das tuas ligações. Faz mais de um ano. Não! Faz quase dois anos que você não me liga. Da ultima vez que você me ligou, foi lá na oficina. Ah eu não esqueço disso. Você disse "Alô?", eu respondi "Alô". Você perguntou: "Quem está falando?" eu disse que era eu e você disse: "Oi tudo bem com você? Chama o meu pai lá pra mim?"
Nossa foi muito legal. Você me perguntar se estava tudo bem comigo. De lá pra cá tenho pensado muito em nós dois. Não vejo a hora de você voltar para cá.
Você bem que podia abandonar esse tal mestrado e voltar logo. A gente casava, e ia morar no quartinho no fundo da oficina.
Não precisa se preocupar com nada. Estou certo de que esse seu noivo irá entender. Nada vence o amor quando o amor é verdadeiro. Que nem a janete falou na novela das oito essa semana. Nossa! Mas na hora eu lembrei de você, até chorei. Disse para a dona Carminha que tinha entrado um cisco no meu olho. Vai que ela conta pro pessoal lá da pensão? O povo ia tudo rir de mim.
Meu amor, vou ter que parar de escrever agora, porque já está quase na hora de voltar para a oficina. Se eu atrasar mais uma vez essa semana seu pai acaba me despedindo. Já não chega o carro que eu deixei desengatado e desembestou rua abaixo na semana passada.
A dona da lanchonete já me perguntou umas quatro vezes se eu vou comer alguma coisa. Mas eu acho que ela está é curiosa para saber o que estou escrevendo.
Desculpe meus erros de português.
PS. Como não sei o seu endereço, vou entregar deixar na sua casa e pedir para sua mãe entregar quando você chegar.
Com amor
Claudinho
Resolvi te escrever uma carta. E é isso que estou fazendo agora.
Peguei papel, caneta, e saí de casa para procurar um lugar que me inspirasse a colocar em palavras todos os meus sentimentos. Mas como aqui não tem árvores com sombras sobre a grama. Não tem jardins, nem bibliotecas. Estou no balcão da lanchonete. (Inclusive, essa manchinha marrom no canto da folha é café que derramou).
Nossa! No rádio está tocando aquela música que você gosta. Aquela que começa assim: Na-na-na-nannnn... Pan-Pan-Pan Na-na-na-nam... Eu não sei o nome da música, porque é em inglês, mas acho que vc vai lembrar.
Eu estava vindo pra cá quando um guarda me abordou. Pediu meus documentos, perguntou de onde eu vinha, onde eu ia e o que ia fazer. Quando eu comecei a explicar ele me jogou os documentos e me dispensou. Não entendi muito bem o porquê daquela atitude. Pergunta e não espera a gente responder. Talvez seja por conta daquele meu problema. Mas eu já estou indo no fonoaudiólogo. E com fé em deus tudo vai ficar bem.
Acabaram de limpar o chão. Ainda está úmido e com um cheiro gostoso de desinfetante e sabão em pó.
Mais cedo passei na tua casa e sua mãe estava fazendo aqueles bolinhos de chuva. Comi uma porção deles, até ela me mandar embora de lá.
Essa noite eu sonhei com você. Mas não consigo me lembrar sobre o que foi o sonho. Nem me recordar se foi bom ou se foi ruim. Mas só de sonhar com você, já é bom. Fico pensando se você sonha comigo também.
Aqui está tudo bem. Não precisa se preocupar comigo. Eu já fico preocupado demais da conta com você aí sozinha. Se eu ao menos imaginar que você está preocupada comigo, eu fico mais preocupado ainda.
Estou sentindo falta das tuas ligações. Faz mais de um ano. Não! Faz quase dois anos que você não me liga. Da ultima vez que você me ligou, foi lá na oficina. Ah eu não esqueço disso. Você disse "Alô?", eu respondi "Alô". Você perguntou: "Quem está falando?" eu disse que era eu e você disse: "Oi tudo bem com você? Chama o meu pai lá pra mim?"
Nossa foi muito legal. Você me perguntar se estava tudo bem comigo. De lá pra cá tenho pensado muito em nós dois. Não vejo a hora de você voltar para cá.
Você bem que podia abandonar esse tal mestrado e voltar logo. A gente casava, e ia morar no quartinho no fundo da oficina.
Não precisa se preocupar com nada. Estou certo de que esse seu noivo irá entender. Nada vence o amor quando o amor é verdadeiro. Que nem a janete falou na novela das oito essa semana. Nossa! Mas na hora eu lembrei de você, até chorei. Disse para a dona Carminha que tinha entrado um cisco no meu olho. Vai que ela conta pro pessoal lá da pensão? O povo ia tudo rir de mim.
Meu amor, vou ter que parar de escrever agora, porque já está quase na hora de voltar para a oficina. Se eu atrasar mais uma vez essa semana seu pai acaba me despedindo. Já não chega o carro que eu deixei desengatado e desembestou rua abaixo na semana passada.
A dona da lanchonete já me perguntou umas quatro vezes se eu vou comer alguma coisa. Mas eu acho que ela está é curiosa para saber o que estou escrevendo.
Desculpe meus erros de português.
PS. Como não sei o seu endereço, vou entregar deixar na sua casa e pedir para sua mãe entregar quando você chegar.
Com amor
Claudinho
quinta-feira, 22 de março de 2012
Canto de Dor
Tinha tanta coisa para escrever...
Então no interior solitário do carro na noite de chuva, regressando para uma casa vazia eu a ouvi...
Minhas palavras já haviam sido usadas com maestria, cantadas em outro idioma.
Perfeito!
terça-feira, 20 de março de 2012
Uma janela do centro
Passando por uma rua do centro velho da cidade, paro no crusamento para atrevessá-lo, quando olho para cima e algo bem comum me chama a atenção.
Uma janela de um pequeno apartamento de um velho prédio que como tantos caía aos pedaços. O apartamento fica sobre uma loja cuja fachada nobre e moderna esconde dos olhares dos transeuntes mais desapercebidos o estado real daquele imovel.
Mas eu estou olhando para cima. E acima da fachada da loja eu vejo aquela janela suja, de madeira, que a pintura descascada em meio ao mofo e a umidade não me permitem identificar a cor.
No parapeito da janela há uma coleção de bonsais, que de tão abandonados mais parecem arbustos em pequenos vasos.
Pendurado à janela balança um "mensageiro do vento", feito com bambu, presente de um dos muitos amigos queridos em um dos vários momentos especiais de sua vida.
Daquele lugar da calçada não vejo muita coisa daquilo que seria o seu quarto.
Então ele surge na janela.
Seu nome é Marcos. Mas adora ser chamado de Markinhus.
São dez e meia da manhã e aparentemente ele acaba de acordar.
Está sem camisa, expondo seu fisico magérrimo. Leva pendurado no pescoço uma correntinha de prata com um desproporcional coração escarlate de plastico, enquanto sua mão esquerda segura uma escova.
Olha descontraidamente para a cidade embalada no frenesi diário do pré rush, e enquanto escova sua franja alaranjada que cai obstruindo a visão de um des seus olhos, ele faz uma expressão delicada com o rosto, quase cômica, como se nada do que está acontecendo ali tivesse haver com sua pessoa.
Está alheio a tudo aquilo.
Markinhus se sente bem. Sente-se muito feliz sem motivo algum. Apenas decidiu que hoje é um dia bom para estar feliz.
Trabalha em uma loja de departamento naquele mesmo centro imundo no qual mora. Sabe que está atrasado. Sabe que deveria ter entrado na empresa há mais de uma hora. Mas não está preocupado.
Hoje é um dia perfeito para se estar feliz.
Começa a se requebrar, provavelmente escutando alguma música a qual não ouço, impedido pelo barulho do tráfego. Mas imagino que seja uma balada pop internacional dançante, pelo modo com o qual move seu corpo.
Definitivamente Markinhus decidiu que hoje está feliz.
O sinal abre...
Volto a minha realidade...
Atravesso a rua e sigo meu caminho após aquele instante tão trivial.
No meu caso, ainda não aprendi a definir quando serão meus momentos de felicidade.
Uma janela de um pequeno apartamento de um velho prédio que como tantos caía aos pedaços. O apartamento fica sobre uma loja cuja fachada nobre e moderna esconde dos olhares dos transeuntes mais desapercebidos o estado real daquele imovel.
Mas eu estou olhando para cima. E acima da fachada da loja eu vejo aquela janela suja, de madeira, que a pintura descascada em meio ao mofo e a umidade não me permitem identificar a cor.
No parapeito da janela há uma coleção de bonsais, que de tão abandonados mais parecem arbustos em pequenos vasos.
Pendurado à janela balança um "mensageiro do vento", feito com bambu, presente de um dos muitos amigos queridos em um dos vários momentos especiais de sua vida.
Daquele lugar da calçada não vejo muita coisa daquilo que seria o seu quarto.
Então ele surge na janela.
Seu nome é Marcos. Mas adora ser chamado de Markinhus.
São dez e meia da manhã e aparentemente ele acaba de acordar.
Está sem camisa, expondo seu fisico magérrimo. Leva pendurado no pescoço uma correntinha de prata com um desproporcional coração escarlate de plastico, enquanto sua mão esquerda segura uma escova.
Olha descontraidamente para a cidade embalada no frenesi diário do pré rush, e enquanto escova sua franja alaranjada que cai obstruindo a visão de um des seus olhos, ele faz uma expressão delicada com o rosto, quase cômica, como se nada do que está acontecendo ali tivesse haver com sua pessoa.
Está alheio a tudo aquilo.
Markinhus se sente bem. Sente-se muito feliz sem motivo algum. Apenas decidiu que hoje é um dia bom para estar feliz.
Trabalha em uma loja de departamento naquele mesmo centro imundo no qual mora. Sabe que está atrasado. Sabe que deveria ter entrado na empresa há mais de uma hora. Mas não está preocupado.
Hoje é um dia perfeito para se estar feliz.
Começa a se requebrar, provavelmente escutando alguma música a qual não ouço, impedido pelo barulho do tráfego. Mas imagino que seja uma balada pop internacional dançante, pelo modo com o qual move seu corpo.
Definitivamente Markinhus decidiu que hoje está feliz.
O sinal abre...
Volto a minha realidade...
Atravesso a rua e sigo meu caminho após aquele instante tão trivial.
No meu caso, ainda não aprendi a definir quando serão meus momentos de felicidade.
quarta-feira, 7 de março de 2012
Quando cai a noite
Existe uma hora crítica
É quando cai a noite...
Quando o sol se recolhe.
As estrelas começam a acender ao céu. Todas com seu brilho ensinuante, sedutor, impuro... enfim, efêmeras.
A lua, com seu brilho tolo que mal consegue iluminar os olhares perdidos na escuridão.
Nesta hora, quando a noite chega, o mundo naturalmente se silencia, e as lembranças nos atingem em cheio.
É quando a noite cai que é mais dificil suportar todos os sentidos e sentimentos.
Quando a noite cai, a gente despenca.
...
É quando cai a noite...
Quando o sol se recolhe.
As estrelas começam a acender ao céu. Todas com seu brilho ensinuante, sedutor, impuro... enfim, efêmeras.
A lua, com seu brilho tolo que mal consegue iluminar os olhares perdidos na escuridão.
Nesta hora, quando a noite chega, o mundo naturalmente se silencia, e as lembranças nos atingem em cheio.
É quando a noite cai que é mais dificil suportar todos os sentidos e sentimentos.
Quando a noite cai, a gente despenca.
...
domingo, 4 de março de 2012
Ao abrir uma gaveta
Hoje eu abri uma gaveta esquecida de um velho guarda roupa.
E junto com aquele cheiro de guardado chegaram as lembranças.
Encontrei algumas cartas, algumas fotos, alguns objetos dos quais nem me lembrava mais.
Encontrei também uma velha coleção de HQ japoneses.
Lembrei de quando minha vida era como um mangá. Que se começa a ler de tras para frente, meio complicado, com a sequencia lógica de quem não se preocupa muito com a lógica, e está sempre fazendo sua própria sequência.
De quando eu ficava pequeno perto da garota que eu gostava, ou quando em desespero abria minha boca como se fosse engolir o mundo em um grito incontível.
De quando meu tamanho se agigantava diante de uma vitória gloriosa sobre questões simples do dia a dia.
De quando a vida era colorida à cores fortes e vibrantes.
De quando me sentia como um herói em defesa da garota de roupas curtas e com cara de garotinha indefesa.
De quando eu ouvia o meu nome gritado por um bando de gente que torcia por mim.
Acho que está na hora de fechar gavetas e voltar a escrever a minha história.
Colocar um pouco mais de cores, emoções... sei lá, talvez mudar o enredo, criar novos personagens.
Como diria um velho amigo meu: "O importante é escrever. Escreva abobrinhas, repolhos e beterrabas. Escreva a todo o instante. Escreva e você se sentirá vivo... Até mesmo após a a sua morte."
E junto com aquele cheiro de guardado chegaram as lembranças.
Encontrei algumas cartas, algumas fotos, alguns objetos dos quais nem me lembrava mais.
Encontrei também uma velha coleção de HQ japoneses.
Lembrei de quando minha vida era como um mangá. Que se começa a ler de tras para frente, meio complicado, com a sequencia lógica de quem não se preocupa muito com a lógica, e está sempre fazendo sua própria sequência.
De quando eu ficava pequeno perto da garota que eu gostava, ou quando em desespero abria minha boca como se fosse engolir o mundo em um grito incontível.
De quando meu tamanho se agigantava diante de uma vitória gloriosa sobre questões simples do dia a dia.
De quando a vida era colorida à cores fortes e vibrantes.
De quando me sentia como um herói em defesa da garota de roupas curtas e com cara de garotinha indefesa.
De quando eu ouvia o meu nome gritado por um bando de gente que torcia por mim.
Acho que está na hora de fechar gavetas e voltar a escrever a minha história.
Colocar um pouco mais de cores, emoções... sei lá, talvez mudar o enredo, criar novos personagens.
Como diria um velho amigo meu: "O importante é escrever. Escreva abobrinhas, repolhos e beterrabas. Escreva a todo o instante. Escreva e você se sentirá vivo... Até mesmo após a a sua morte."
Sonhos...
Pensei que algumas lembranças não me trariam mais transtornos, mas por incrível que pareça ontem acordei após um sonho bom, e me senti muito mal.
Descobri que os sonhos bons são piores que pesadelos.
Estamos fadados a acordar depois de qualquer sonho. Porém, enquanto depois de um pesadelo ficamos felizes que tenha sido só um sonho, após um sonho bom, vem a frustração ante uma realidade tão mediocre.
Ontem após um sonho bom, eu perdi meu sono. Perdi a fé no dia que chegava. Perdi minha instável tranquilidade aparente. Acho que ainda não perdi a esperança, mas a vejo fraquejar a cada dia mais um pouco. Parece que são dias difíceis, com poucas vitórias para estimular as lutas.
Interessante, que até ontem eu fechava os olhos e não conseguia mais me lembrar de algumas coisas, alguns instantes, momentos, sentidos e sentimentos. Mas o maldito sonho fez com que tudo se aflorasse. Gritante. Dolorosamente. Impiedosamente.
Sinto-me incapaz de entender muitas coisas, outras nunca me chamaram a atenção.
Sempre ouvi dizer que a beleza do Mistério está justamente no Desconhecido.
Sinto-me fraco...
... Mas sei que não posso parar ainda.
Descobri que os sonhos bons são piores que pesadelos.
Estamos fadados a acordar depois de qualquer sonho. Porém, enquanto depois de um pesadelo ficamos felizes que tenha sido só um sonho, após um sonho bom, vem a frustração ante uma realidade tão mediocre.
Ontem após um sonho bom, eu perdi meu sono. Perdi a fé no dia que chegava. Perdi minha instável tranquilidade aparente. Acho que ainda não perdi a esperança, mas a vejo fraquejar a cada dia mais um pouco. Parece que são dias difíceis, com poucas vitórias para estimular as lutas.
Interessante, que até ontem eu fechava os olhos e não conseguia mais me lembrar de algumas coisas, alguns instantes, momentos, sentidos e sentimentos. Mas o maldito sonho fez com que tudo se aflorasse. Gritante. Dolorosamente. Impiedosamente.
Sinto-me incapaz de entender muitas coisas, outras nunca me chamaram a atenção.
Sempre ouvi dizer que a beleza do Mistério está justamente no Desconhecido.
Sinto-me fraco...
... Mas sei que não posso parar ainda.
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
Coraçõe e um Picadeiro
Eis que aquele homem coberto de poeira da estrada se senta em uma arquibancada de paus estreitos, espremido entre a plebe daquela pequena cidade na qual acabara de chegar.
Debaixo da lona cheia de buracos por entre os quais brilham estrelas hoje tão sentidas por não serem a atração principal, ele olha para tudo embevecido, encantado. No rosto carrega a mesma expressão das crianças que divertem com as trapalhadas dos palhaços de bocas sujas e gestos obcenos. E tal como as crianças ele também se assuta com o homem que engole espetos, e é surpreendido, chegando quase a cair da arquibancada, quando aquele mesmo homem cospe em sua direção uma grande bola de fogo.
Suas mãos ardem de tanto aplaudir.
Passado os sustos surgem novamente os palhaços com suas traquinagens, e a expressão de seu rosto retoma o brilho de outrora.
Ainda estava embevecido com tudo aquilo quando o apresentador com sotaque estrangeiro apresenta a atração principal. Mas ele não consegue entender nada que o homem de cartola fala, e isso faz aumentar ainda mais a sua espectativa.
As luzes então iluminam o alto do picadeiro, onde em uma argola prateada está pendurada uma garota, que lentamente vem descendo acompanhando a movimentação da luz.
Ela olha para o público, com seu olhar meigo de menina moça. E em seu pobre coração, ele imagina que aquele olhar é somente para ele.
Já não escuta mais nada ao seu redor. Nada nem ninguem é capaz de tirar o foco da sua visão daquele ser que flutua sobre o picadeiro.
Uma doce música acompanha a apresentação, e enquanto ela desliza pelo céu sobre sua cabeça, fazendo com que se sinta verdadeiramente no céu. Como se Nosso Senhor, sempre bom e caridoso tivesse lhe enviado um anjo.
E durante aqueles instantes ele se esquece da pobreza, das misérias do mundo, da maldade, da fome, da morte. Esquece de onde veio e para onde vai, os motivos que o trouxeram e as causas que lhe fizeram partir. Esquece de seus pecados, medos, incertezas e inseguranças.
De boca aberta ele simplesmente olha o céu, e sente no peito um sentimento que nunca antes sentira, e que nunca conseguiria explicar. Mas saberia dizer com certeza que era a melhor coisa que já sentira em toda sua vida.
Então, junto com a música, a apresentação vai chegando ao fim. A doce garota desaparece na escuridão do picadeiro. E o sentimento de alegria em seu peito dá espaço à uma tristeza profunda.
As luzes se acendem, o povo vai desempuleirando daqui e dali, procurando a saída. Enquanto isso, ele continua sentado olhando para o vazio.
Vazia também ficou sua alma ante a realidade das luzes do fim.
Ele sai.
E olhando em volta procura encontrar mais uma vez aquela visão que irá acompanha-lo pelo resto de sua despresível existência. Mas seus olhos nada encontra.
Talvez fosse melhor assim.
Imprevisivel a reação que teria ao encontrar em meio a escuridão dos camarins o lindo e meigo rosto da bailarina trapezista banhado em lágrimas de tristeza e solidão.
(FELDON)
Debaixo da lona cheia de buracos por entre os quais brilham estrelas hoje tão sentidas por não serem a atração principal, ele olha para tudo embevecido, encantado. No rosto carrega a mesma expressão das crianças que divertem com as trapalhadas dos palhaços de bocas sujas e gestos obcenos. E tal como as crianças ele também se assuta com o homem que engole espetos, e é surpreendido, chegando quase a cair da arquibancada, quando aquele mesmo homem cospe em sua direção uma grande bola de fogo.
Suas mãos ardem de tanto aplaudir.
Passado os sustos surgem novamente os palhaços com suas traquinagens, e a expressão de seu rosto retoma o brilho de outrora.
Ainda estava embevecido com tudo aquilo quando o apresentador com sotaque estrangeiro apresenta a atração principal. Mas ele não consegue entender nada que o homem de cartola fala, e isso faz aumentar ainda mais a sua espectativa.
As luzes então iluminam o alto do picadeiro, onde em uma argola prateada está pendurada uma garota, que lentamente vem descendo acompanhando a movimentação da luz.
Ela olha para o público, com seu olhar meigo de menina moça. E em seu pobre coração, ele imagina que aquele olhar é somente para ele.
Já não escuta mais nada ao seu redor. Nada nem ninguem é capaz de tirar o foco da sua visão daquele ser que flutua sobre o picadeiro.
Uma doce música acompanha a apresentação, e enquanto ela desliza pelo céu sobre sua cabeça, fazendo com que se sinta verdadeiramente no céu. Como se Nosso Senhor, sempre bom e caridoso tivesse lhe enviado um anjo.
E durante aqueles instantes ele se esquece da pobreza, das misérias do mundo, da maldade, da fome, da morte. Esquece de onde veio e para onde vai, os motivos que o trouxeram e as causas que lhe fizeram partir. Esquece de seus pecados, medos, incertezas e inseguranças.
De boca aberta ele simplesmente olha o céu, e sente no peito um sentimento que nunca antes sentira, e que nunca conseguiria explicar. Mas saberia dizer com certeza que era a melhor coisa que já sentira em toda sua vida.
Então, junto com a música, a apresentação vai chegando ao fim. A doce garota desaparece na escuridão do picadeiro. E o sentimento de alegria em seu peito dá espaço à uma tristeza profunda.
As luzes se acendem, o povo vai desempuleirando daqui e dali, procurando a saída. Enquanto isso, ele continua sentado olhando para o vazio.
Vazia também ficou sua alma ante a realidade das luzes do fim.
Ele sai.
E olhando em volta procura encontrar mais uma vez aquela visão que irá acompanha-lo pelo resto de sua despresível existência. Mas seus olhos nada encontra.
Talvez fosse melhor assim.
Imprevisivel a reação que teria ao encontrar em meio a escuridão dos camarins o lindo e meigo rosto da bailarina trapezista banhado em lágrimas de tristeza e solidão.
(FELDON)
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
Você não me ouvia
Já fazia mais de duas horas que eu estava a te esperar.
O tempo passava e nada.
A chuva que caiu forte no início agora não passava de uma pequena garoa que deixava o clima molhado por mais tempo.
As nuvens baixas refletiam as luzes da cidade. E por um momento tive a sensação de que aquilo era um Dejavú.
A cidade já dormia.
De vez em quando algum carro quebrava a monotonia da noite, e passava bem devagar por entre as poças da rua mal iluminada.
Você sempre foi muito pontual. E algo me dizia que as coisas poderiam ter saído diferente do que havíamos combinado.
Por um instante observei uma silhueta por entre as marquises do lado oposto da rua. E ela me fez lembrar você.
Corri em direção à aquele vulto. Mas ele se distanciava mais rápido que eu.
Era como se eu estivesse em um pesadelo.
Eu te gritava, mas você não me ouvia.
E num momento específico percebi que não conseguia me mover e minha voz não saía.
O pior de um pesadelo é quando você descobre estar acordado.
O tempo passava e nada.
A chuva que caiu forte no início agora não passava de uma pequena garoa que deixava o clima molhado por mais tempo.
As nuvens baixas refletiam as luzes da cidade. E por um momento tive a sensação de que aquilo era um Dejavú.
A cidade já dormia.
De vez em quando algum carro quebrava a monotonia da noite, e passava bem devagar por entre as poças da rua mal iluminada.
Você sempre foi muito pontual. E algo me dizia que as coisas poderiam ter saído diferente do que havíamos combinado.
Por um instante observei uma silhueta por entre as marquises do lado oposto da rua. E ela me fez lembrar você.
Corri em direção à aquele vulto. Mas ele se distanciava mais rápido que eu.
Era como se eu estivesse em um pesadelo.
Eu te gritava, mas você não me ouvia.
E num momento específico percebi que não conseguia me mover e minha voz não saía.
O pior de um pesadelo é quando você descobre estar acordado.
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
FERIDAS
Impressiona-me o fato de algumas feridas demorarem tanto para cicatrizar.
O tempo, que é o melhor remédio para curar tudo, passa. As vezes rápido, as vezes lento. E a ferida está ali. Aberta. Profunda. Exposta à todos por mais que eu tente esconder.
Basta uma lembrança, uma breve recordação, que logo a ferida se apresenta.
Então vem a dor.
Então vem o sofrimento.
Então vem aquela vontade de poder voltar no tempo e concertar os erros cometidos.
Tudo passa. Mas o sentimento de incapacidade e descontrole perante algumas feridas parecem que retardam ainda mais a esperada cura.
Fecho os olhos e tento esquecer.
Mas esquecer ainda é muito dificil. Principalmente quando o que nos fere está tão perto.
Tão perto, porém tão longe.
O tempo, que é o melhor remédio para curar tudo, passa. As vezes rápido, as vezes lento. E a ferida está ali. Aberta. Profunda. Exposta à todos por mais que eu tente esconder.
Basta uma lembrança, uma breve recordação, que logo a ferida se apresenta.
Então vem a dor.
Então vem o sofrimento.
Então vem aquela vontade de poder voltar no tempo e concertar os erros cometidos.
Tudo passa. Mas o sentimento de incapacidade e descontrole perante algumas feridas parecem que retardam ainda mais a esperada cura.
Fecho os olhos e tento esquecer.
Mas esquecer ainda é muito dificil. Principalmente quando o que nos fere está tão perto.
Tão perto, porém tão longe.
''E até hoje, quem se lembra
Diz que: Não foi o caminhão
Nem a curva fatal
E nem a explosão
Johnny era fera demais
Prá vacilar assim
E o que dizem é que foi tudo
Por causa de um coração partido
Um coração"
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
Mega Sena no Puteiro
Na cidade só se falava da notícia.
Deu na TV que o acertador das 6 dezenas do concurso acumulado da mega-sena era daquela cidade.
O bá fá fá era por todo o canto. Mulheres desconfiadas dos maridos que demoravam para chegar em casa. Patrões ligando educamente para os empregados que faltaram naquele dia. Em fim, todos de olho para descobrir quem havia sido o sortudo.
Eis que já tarde da noite Zé Biriba, o malandro mais trambiqueiro da cidade, entra porta a dentro gritando:
- Fecha a porta Seu Antão! Quem tá de fora num entra e quem tá dentro não sai! Bebida e mulher pra todo mundo! Por conta do GANHADOR DA MEGA SENA!
Passado o susto inicial, a turma toda grita em um só coro:
- VIVA O ZÉ BIRIBA! VIVA!
Eita lasquera! Aquela noite foi um estrupício na zona alegre da cidade.
Todo mundo queria abraçar o Zé Biriba. Eram tantos amigos contando histórias heróicas e nobres à respeito do felizardo.
Seu Doca não parava de dizer o quanto aquele homem era uma alma caridosa. O quanto aquele homem ajudava as outras pessoas. E ele sabia. Sempre soube. E foi por esse motivo que tinha tido a paciência de esperar o tempo para receber seus alguéis em atraso lá da pensão.
As meninas disputavam o biribinha à tapa. Cada uma querendo para si a atenção e os chamegos do homem. E aquilo que era homem diziam as mais assanhadas.
Seu Antão com um sorrizo na boca que ia de orelha a olhera, se esforçava para servir a freguesia. Tudo do bom e do melhor. Cachaça, Cerveja, "Uisqui" e até as "Champanha" reservadas para a festa do prefeito foram estouradas. "Quem diria - pensava seu Antão - um bosta que nem o Zé Biriba acertar a sorte grande. E pensar que eu quase tinha pedido o Manelão barrar a entrada do Zé enquanto o safado não pagasse a dívida aqui no cabaré".
Pena que a noite foi pequena para tanta alegria.
Aos poucos, cada um ia seguindo seu rumo. Afinal, não tem santo ou fígado que aguente tanta bebida.
Quem não tinha ganhado na Mega Sena, tinha que trabalhar daqui a pouco.
Alguns, por amizade mesmo, queriam passar mais tempo com o Zé. Gente boa tava alí.
Mas seu Antão foi desligando o som. Colocando o povo para tomar rumo. Que deixassem o homem descansar. Procurassem o Dr. José mais tarde, depois da hora do almoço.
E o Ilustríssimo convidado abraçado com duas garotas desmaiadas, mas agarradas ao seu corpo, estava caído em um canto escuro da boate e foi levado ao melhor quarto do estabelecimento pelo proprietário Seu Antão e o porteiro Manelão.
Há muito passava do meio dia quando Zé Biriba saíu do quarto. Amarrotado. Cara de ressaca. Uma sede desgraçada. Passou por toda extensão do estabelecimento e encostou no balcão onde seu Antão contabilizava maravilhado a conta da noitada rescente.
- Olha José! Foi a maior conta, quero dizer, festa aqui, desde que nós inauguramos. Tudo por conta do ganhador da mega sena!
- É verdade seu Antão. Quando a gende descobrir quem foi que ganhou, a gente faz outra, combinado?
E o resto, é melhor nem contar...
Deu na TV que o acertador das 6 dezenas do concurso acumulado da mega-sena era daquela cidade.
O bá fá fá era por todo o canto. Mulheres desconfiadas dos maridos que demoravam para chegar em casa. Patrões ligando educamente para os empregados que faltaram naquele dia. Em fim, todos de olho para descobrir quem havia sido o sortudo.
Eis que já tarde da noite Zé Biriba, o malandro mais trambiqueiro da cidade, entra porta a dentro gritando:
- Fecha a porta Seu Antão! Quem tá de fora num entra e quem tá dentro não sai! Bebida e mulher pra todo mundo! Por conta do GANHADOR DA MEGA SENA!
Passado o susto inicial, a turma toda grita em um só coro:
- VIVA O ZÉ BIRIBA! VIVA!
Eita lasquera! Aquela noite foi um estrupício na zona alegre da cidade.
Todo mundo queria abraçar o Zé Biriba. Eram tantos amigos contando histórias heróicas e nobres à respeito do felizardo.
Seu Doca não parava de dizer o quanto aquele homem era uma alma caridosa. O quanto aquele homem ajudava as outras pessoas. E ele sabia. Sempre soube. E foi por esse motivo que tinha tido a paciência de esperar o tempo para receber seus alguéis em atraso lá da pensão.
As meninas disputavam o biribinha à tapa. Cada uma querendo para si a atenção e os chamegos do homem. E aquilo que era homem diziam as mais assanhadas.
Seu Antão com um sorrizo na boca que ia de orelha a olhera, se esforçava para servir a freguesia. Tudo do bom e do melhor. Cachaça, Cerveja, "Uisqui" e até as "Champanha" reservadas para a festa do prefeito foram estouradas. "Quem diria - pensava seu Antão - um bosta que nem o Zé Biriba acertar a sorte grande. E pensar que eu quase tinha pedido o Manelão barrar a entrada do Zé enquanto o safado não pagasse a dívida aqui no cabaré".
Pena que a noite foi pequena para tanta alegria.
Aos poucos, cada um ia seguindo seu rumo. Afinal, não tem santo ou fígado que aguente tanta bebida.
Quem não tinha ganhado na Mega Sena, tinha que trabalhar daqui a pouco.
Alguns, por amizade mesmo, queriam passar mais tempo com o Zé. Gente boa tava alí.
Mas seu Antão foi desligando o som. Colocando o povo para tomar rumo. Que deixassem o homem descansar. Procurassem o Dr. José mais tarde, depois da hora do almoço.
E o Ilustríssimo convidado abraçado com duas garotas desmaiadas, mas agarradas ao seu corpo, estava caído em um canto escuro da boate e foi levado ao melhor quarto do estabelecimento pelo proprietário Seu Antão e o porteiro Manelão.
Há muito passava do meio dia quando Zé Biriba saíu do quarto. Amarrotado. Cara de ressaca. Uma sede desgraçada. Passou por toda extensão do estabelecimento e encostou no balcão onde seu Antão contabilizava maravilhado a conta da noitada rescente.
- Olha José! Foi a maior conta, quero dizer, festa aqui, desde que nós inauguramos. Tudo por conta do ganhador da mega sena!
- É verdade seu Antão. Quando a gende descobrir quem foi que ganhou, a gente faz outra, combinado?
E o resto, é melhor nem contar...
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
Virada do ano na fazenda (parte 1)
A noite já ia tarde...
Eu em cima do burro que não acelerava o passo para chegar logo em casa.
Saí cedo com desculpa de 'desanuviar' a mente. Era dia 31 de dezembro de um dos piores anos de minha vida. E por este motivo, havia pensando mais cedo que não havia nada melhor para acabar aquele ano do que uma cavalgada. Maldita hora que eu pensei aquilo.
Pelos meus calculos faziam horas que eu estava em cima daquele animal. Isso porque na região cheia de estradas, caminhos e picadas que cortam os montes e vales, alguém que não conhece bem as redondezas e quadradezas consegue se perder facilmente.
Para piorar tudo eu vinha pensando, de cabeça baixa, enquanto a chuva fina caía sobre a aba do chapéu que protegia meu rosto. E você lendo isso deve perguntar: "Chovendo???"
Sim! Ainda por cima chovia. Quando eu saí era dia, e estava um tempo agradável. Mas naquela hora, chovia, era noite e eu estava perdido.
Minutos depois eu descobri algo que tinha seu lado bom e seu lado ruim. O lado bom, é que naquele momento eu já reconhecia o lugar onde estava. O lado ruím é que acabei saindo em uma estrada muito longe de casa e o diabo do burro não acelerava o passo. Também, ele estava cansado. Mas ele estava precisando de um corretivo destes, naquele final de semana aquele animal já havia me passado a maior raiva do mundo, fazendo manha. Tudo falta de serviço, diziam os mais velhos que entendiam de tropa.
Pois bem. Era noite alta, a chuva acabava e eu já não estava mais perdido.
O frio começava a me incomodar quando eu cheguei num povoadozinho na beira da estrada, com umas quatro ou cinco casas 'em redor' de uma velha igrejinha caindo aos pedaços. Mas o que me chamou a atenção foi uma fogueira debaixo de uma enorme gameleira na frente da igreja. Ali estavam tres figuras agachadas 'quentano fogo'.
Fui me aproximando e vi que eram tres negros já de idade. Que riam, bebiam e 'proseavam'. E o fogo sempre teve o condão de alegrar as almas dos viajantes perdidos. E foi aquele fogo que me fez 'apear' e cumprimentar aqueles desconhecidos.
- Boa noite Senhores. - disse em tom cortês.
E logo a primeira resposta já me deixou encabulado:
- Noite Don Pedro. - falou o primeiro velho meu nome já de cara, como se me conhecesse.
- Se 'achegue' Mestre Don. Eu sei que 'ocê' não bebe, mas hoje vai tomar uma com 'nois'. - falou o segundo.
- 'Bora apea' seu moço! Eu sou Pedro Bala seu xará, aquele é Chico Rabelê e esse é Miguel de Sá.
- Piaga!- exclamei. - mas... ma-ma-mas...
- Bão quano a gente já se conhece, num é?- falou Chico Rabelê.
O negócio era o seguinte. Eu estava de frente aos tres pretos velhos do livro de Ney Leandro. Os bruxos amigos do Ojuara.
(continua)
Eu em cima do burro que não acelerava o passo para chegar logo em casa.
Saí cedo com desculpa de 'desanuviar' a mente. Era dia 31 de dezembro de um dos piores anos de minha vida. E por este motivo, havia pensando mais cedo que não havia nada melhor para acabar aquele ano do que uma cavalgada. Maldita hora que eu pensei aquilo.
Pelos meus calculos faziam horas que eu estava em cima daquele animal. Isso porque na região cheia de estradas, caminhos e picadas que cortam os montes e vales, alguém que não conhece bem as redondezas e quadradezas consegue se perder facilmente.
Para piorar tudo eu vinha pensando, de cabeça baixa, enquanto a chuva fina caía sobre a aba do chapéu que protegia meu rosto. E você lendo isso deve perguntar: "Chovendo???"
Sim! Ainda por cima chovia. Quando eu saí era dia, e estava um tempo agradável. Mas naquela hora, chovia, era noite e eu estava perdido.
Minutos depois eu descobri algo que tinha seu lado bom e seu lado ruim. O lado bom, é que naquele momento eu já reconhecia o lugar onde estava. O lado ruím é que acabei saindo em uma estrada muito longe de casa e o diabo do burro não acelerava o passo. Também, ele estava cansado. Mas ele estava precisando de um corretivo destes, naquele final de semana aquele animal já havia me passado a maior raiva do mundo, fazendo manha. Tudo falta de serviço, diziam os mais velhos que entendiam de tropa.
Pois bem. Era noite alta, a chuva acabava e eu já não estava mais perdido.
O frio começava a me incomodar quando eu cheguei num povoadozinho na beira da estrada, com umas quatro ou cinco casas 'em redor' de uma velha igrejinha caindo aos pedaços. Mas o que me chamou a atenção foi uma fogueira debaixo de uma enorme gameleira na frente da igreja. Ali estavam tres figuras agachadas 'quentano fogo'.
Fui me aproximando e vi que eram tres negros já de idade. Que riam, bebiam e 'proseavam'. E o fogo sempre teve o condão de alegrar as almas dos viajantes perdidos. E foi aquele fogo que me fez 'apear' e cumprimentar aqueles desconhecidos.
- Boa noite Senhores. - disse em tom cortês.
E logo a primeira resposta já me deixou encabulado:
- Noite Don Pedro. - falou o primeiro velho meu nome já de cara, como se me conhecesse.
- Se 'achegue' Mestre Don. Eu sei que 'ocê' não bebe, mas hoje vai tomar uma com 'nois'. - falou o segundo.
- 'Bora apea' seu moço! Eu sou Pedro Bala seu xará, aquele é Chico Rabelê e esse é Miguel de Sá.
- Piaga!- exclamei. - mas... ma-ma-mas...
- Bão quano a gente já se conhece, num é?- falou Chico Rabelê.
O negócio era o seguinte. Eu estava de frente aos tres pretos velhos do livro de Ney Leandro. Os bruxos amigos do Ojuara.
(continua)
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