quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Virada do ano na fazenda (parte 1)

A noite já ia tarde...
Eu em cima do burro que não acelerava o passo para chegar logo em casa.
Saí cedo com desculpa de 'desanuviar' a mente. Era dia 31 de dezembro de um dos piores anos de minha vida. E por este motivo, havia pensando mais cedo que não havia nada melhor para acabar aquele ano do que uma cavalgada. Maldita hora que eu pensei aquilo.
Pelos meus calculos faziam horas que eu estava em cima daquele animal. Isso porque na região cheia de estradas, caminhos e picadas que cortam os montes e vales, alguém que não conhece bem as redondezas e quadradezas consegue se perder facilmente.
Para piorar tudo eu vinha pensando, de cabeça baixa, enquanto a chuva fina caía sobre a aba do chapéu que protegia meu rosto. E você lendo isso deve perguntar: "Chovendo???"
Sim! Ainda por cima chovia. Quando eu saí era dia, e estava um tempo agradável. Mas naquela hora, chovia, era noite e eu estava perdido.
Minutos depois eu descobri algo que tinha seu lado bom e seu lado ruim. O lado bom, é que naquele momento eu já reconhecia o lugar onde estava. O lado ruím é que acabei saindo em uma estrada muito longe de casa e o diabo do burro não acelerava o passo. Também, ele estava cansado. Mas ele estava precisando de um corretivo destes, naquele final de semana aquele animal já havia me passado a maior raiva do mundo, fazendo manha. Tudo falta de serviço, diziam os mais velhos que entendiam de tropa.
Pois bem. Era noite alta, a chuva acabava e eu já não estava mais perdido.
O frio começava a me incomodar quando eu cheguei num povoadozinho na beira da estrada, com umas quatro ou cinco casas 'em redor' de uma velha igrejinha caindo aos pedaços. Mas o que me chamou a atenção foi uma fogueira debaixo de uma enorme gameleira na frente da igreja. Ali estavam tres figuras agachadas 'quentano fogo'.
Fui me aproximando e vi que eram tres negros já de idade. Que riam, bebiam e 'proseavam'. E o fogo sempre teve o condão de alegrar as almas dos viajantes perdidos. E foi aquele fogo que me fez 'apear' e cumprimentar aqueles desconhecidos.
- Boa noite Senhores. - disse em tom cortês.
E logo a primeira resposta já me deixou encabulado:
- Noite Don Pedro. - falou o primeiro velho meu nome já de cara, como se me conhecesse.
- Se 'achegue' Mestre Don. Eu sei que 'ocê' não bebe, mas hoje vai tomar uma com 'nois'. - falou o segundo.
- 'Bora apea' seu moço! Eu sou Pedro Bala seu xará, aquele é Chico Rabelê e esse é Miguel de Sá.
- Piaga!- exclamei. - mas... ma-ma-mas...
- Bão quano a gente já se conhece, num é?- falou Chico Rabelê.
O negócio era o seguinte. Eu estava de frente aos tres pretos velhos do livro de Ney Leandro. Os bruxos amigos do Ojuara.
(continua)

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