quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Psicologia Infantil



Era uma tarde de terça feira e o transito da cidade estava tumultuado. Como de costume eu andava até o local onde havia estacionado o carro. Isso porque tenho o costume de estacionar sempre longe.
No caminho, me deparei com uma cena bem comum nos dias atuais: Uma mulher que segurava uma criança de uns dois anos pela mão, enquanto a criança desabava em uma crise de manha e choro.
O sinal estava aberto, então alcancei aquela dupla que esperava o sinal fechar. Ali do meu lado a criança não parava de gritar e espernear. Quando sentou no chão e começou a agredir a mulher que provavelmente era sua mãe, ela me olhou meio que incomodada ante sua total impotência em lidar com aquela situação.
Fizesse eu uma cara de reprovação, ela ficaria com vergonha e talvez tomasse uma atitude mais drástica, ou iria logo antipatizar com à minha presença. Resolvi então tomar outra postura diante daquela situação. Virei-me para ela e disse em tom de brincadeira, como se quisesse parecer sério:
- Dona! Dá esse menino pra mim?
- Você quer ele? - respondeu imediatamente a mulher entrando na brincadeira - olhe aqui Kayke, que se você não parar de chorar eu vou te dar para esse homem!- disse a mulher para a criança enquanto apontava para mim.
E foi aí então que o tal do Kayke esperneou e gritou bonito. Tudo para chamar atenção.
A mãe então soltou a mão do menino que estava no chão e disse:
- Pega moço! Leva esse menino para o senhor que eu não quero mais saber desse menino chorão.
E o Kayke gritando...
A mãe, mostrando-se uma atriz fenomenal virou a esquina, saindo de nossas vistas e abandonando o tal Kayke, que continuava chorando, enquanto eu me segurava para não rir.
Passados alguns segundos, o moleque levantou do chão e ainda chorando foi até a esquina gritar mais alto para vencer a mãe pelo cansaço. Mas para a minha surpresa a mãe não estava se deixando levar pela a birra do menino. O natural seria que aquela mãe despreparada voltasse logo para consolar o menino que se sentiu abandonado pela mãe. Entretanto, ela foi firme e incisiva e não voltou logo de cara.
E o Kayke chorando...
O Sinal fechara, mas eu, interessado no desenrolar dos acontecimentos, ao invés de atravessar, fiquei olhando o menino que hora olhava para a rua na qual a mãe havia sumido hora olhava para mim.
O tempo passava e a mulher não voltava. Kayke já estava cansando de gritar. Seu choro já se tornava um amontoado de soluços intercalados. A tática estava funcionando. O garoto parou de dar birra. Mas ao contrário do que eu esperava, a mulher não aparecia.
Eu ali, observando o menino na esquina olhando para a outra rua, como se procurasse a mãe, e logo olhava para mim, como se perguntasse com aquele olhar: "onde está minha mãe?"
Minha vontade de sorrir simplesmente sumiu, começando a dar lugar à uma preocupação verdadeira. Corri para a esquina onde estava o garoto, e ao seu lado tentei localizar sua mãe na rua por onde havia saído. Mas nem sinal da mulher.
Algo muito estranho estava acontecendo. Aquela situação havia passado dos limites de uma brincadeira ou de um castigo. A birra do menino virava desespero, e meu senso de humor também ia pelo mesmo caminho.
Automaticamente corri pela rua para ver se via a mulher, mas não a vi. Corri até muito adiante, e nada. Nem sinal.
Quando parei no final da rua que terminava em outra rua que ia para dois lados, olhei para a esquerda e não a vi, para a direita e nada. Voltei-me então e a única coisa que vi foi um menino só e abandonado a soluçar numa esquina do centro da cidade.
Segurei na mão do garoto que prudentemente havia parado de fazer cena. Olhei para aqueles olhinhos assustados cheios de medo e desconfiança. Quis lhe dizer algo tipo: "Calma, vai dar tudo certo" ou "Já já vamos encontrar a sua mãe"
Mas diante das circunstâncias, olhei para o Kayke e disse:
- Algo me diz que agora fodeu!

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