Oi amor, sei que você não gosta que eu te chame assim. Mas vou continuar insistindo até você se acostumar.
Resolvi te escrever uma carta. E é isso que estou fazendo agora.
Peguei papel, caneta, e saí de casa para procurar um lugar que me inspirasse a colocar em palavras todos os meus sentimentos. Mas como aqui não tem árvores com sombras sobre a grama. Não tem jardins, nem bibliotecas. Estou no balcão da lanchonete. (Inclusive, essa manchinha marrom no canto da folha é café que derramou).
Nossa! No rádio está tocando aquela música que você gosta. Aquela que começa assim: Na-na-na-nannnn... Pan-Pan-Pan Na-na-na-nam... Eu não sei o nome da música, porque é em inglês, mas acho que vc vai lembrar.
Eu estava vindo pra cá quando um guarda me abordou. Pediu meus documentos, perguntou de onde eu vinha, onde eu ia e o que ia fazer. Quando eu comecei a explicar ele me jogou os documentos e me dispensou. Não entendi muito bem o porquê daquela atitude. Pergunta e não espera a gente responder. Talvez seja por conta daquele meu problema. Mas eu já estou indo no fonoaudiólogo. E com fé em deus tudo vai ficar bem.
Acabaram de limpar o chão. Ainda está úmido e com um cheiro gostoso de desinfetante e sabão em pó.
Mais cedo passei na tua casa e sua mãe estava fazendo aqueles bolinhos de chuva. Comi uma porção deles, até ela me mandar embora de lá.
Essa noite eu sonhei com você. Mas não consigo me lembrar sobre o que foi o sonho. Nem me recordar se foi bom ou se foi ruim. Mas só de sonhar com você, já é bom. Fico pensando se você sonha comigo também.
Aqui está tudo bem. Não precisa se preocupar comigo. Eu já fico preocupado demais da conta com você aí sozinha. Se eu ao menos imaginar que você está preocupada comigo, eu fico mais preocupado ainda.
Estou sentindo falta das tuas ligações. Faz mais de um ano. Não! Faz quase dois anos que você não me liga. Da ultima vez que você me ligou, foi lá na oficina. Ah eu não esqueço disso. Você disse "Alô?", eu respondi "Alô". Você perguntou: "Quem está falando?" eu disse que era eu e você disse: "Oi tudo bem com você? Chama o meu pai lá pra mim?"
Nossa foi muito legal. Você me perguntar se estava tudo bem comigo. De lá pra cá tenho pensado muito em nós dois. Não vejo a hora de você voltar para cá.
Você bem que podia abandonar esse tal mestrado e voltar logo. A gente casava, e ia morar no quartinho no fundo da oficina.
Não precisa se preocupar com nada. Estou certo de que esse seu noivo irá entender. Nada vence o amor quando o amor é verdadeiro. Que nem a janete falou na novela das oito essa semana. Nossa! Mas na hora eu lembrei de você, até chorei. Disse para a dona Carminha que tinha entrado um cisco no meu olho. Vai que ela conta pro pessoal lá da pensão? O povo ia tudo rir de mim.
Meu amor, vou ter que parar de escrever agora, porque já está quase na hora de voltar para a oficina. Se eu atrasar mais uma vez essa semana seu pai acaba me despedindo. Já não chega o carro que eu deixei desengatado e desembestou rua abaixo na semana passada.
A dona da lanchonete já me perguntou umas quatro vezes se eu vou comer alguma coisa. Mas eu acho que ela está é curiosa para saber o que estou escrevendo.
Desculpe meus erros de português.
PS. Como não sei o seu endereço, vou entregar deixar na sua casa e pedir para sua mãe entregar quando você chegar.
Com amor
Claudinho
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