Era uma tarde de domingo, e estávamos em um Shopping da cidade.
Logo na chegada, dois amigos me chamaram para ver uma garota. Era ela linda como tudo o que é jovem costuma ser. Seus negros cabelos pendiam em duas tranças, os olhos redondos e espertos brilhavam como duas gemas, sorriso contagiante, um corpo esculturalmente bem colocado em um vestidinho preto que acentuava as pernas mais lindas que eu já vira em uma meia calça preta. E aparentemente não passava dos 14 anos de idade, principalmente porque as amigas que a acompanhavam pareciam ser ainda mais jovens.
Briguei com meus amigos. Disse a eles que ela era quase uma criança. E em tom de censura lhes disse que se colocassem em seus lugares. Todos já tínhamos mais de 20 anos, e não era certo flertar com uma criança. Lembro-me de dizer que havia o errado, o muito errado e depois isso.
Naquele dia assistíamos algumas apresentações de dança do ventre em uma feira árabe. E meus amigos babavam nas odaliscas que se achavam. Ao final de cada apresentação eu ficava rindo dos caras abordando as dançarinas para ver se conseguiam alguma atenção. Elas que já estavam com a vaidade à mil, se imaginavam as senhoras do destino e esnobavam cada rapaz na sua forma particular.
Eu ria de tudo aquilo. Dos foras, das tiradas, de cada tentativa mal sucedida. O pouco que eu já sabia da vida, tinha certeza de que toda e qualquer investida daquela forma não daria em nada. Por isso, quando a situação passou do cômico ao deprimente resolvi sair.
Saí da feira e fui até uma revistaria que ficava nocentro do shopping. Para minha surpresa, a garotinha de tranças estava do meu lado olhando uma revista de culinária japonesa.
Instintivamente eu sorri para ela, que me devolveu o sorriso. Automaticamente soltei um "oi".
E em resposta, seu "oi" veio seguido de uma pergunta: "você também gosta de comida japonesa, não gosta?"
- Sim eu gosto.- respondi - como você sabe?
- Eu logo imaginei por causa da sua camiseta. - eu vestia uma camiseta com um ideograma japonês - o que significa esse símbolo?
- É o nome da minha academia de karatê em japonês - respondi, achando graça da percepção da garotinha.
E ficamos ali conversando mais um pouco.
E em determinado momento da conversa, ela muito atenta, reparou que eu conversava com ela como se conversasse com uma criança.
- Quantos anos você acha que eu tenho?- ela me perguntou.
Pensei um pouco, porque para agrada-la eu iria mentir a idade. Mulheres são criaturas interessantes. Quando são novas, adoram se passar por mais velhas, e quando mais velhas adoram quando dizemos que tem menos idade do que aparenta.- 16 - respondi, imaginando que ela teria uns 14 anos.
- Você errou! - disse ela sorrindo - Eu tenho 18 anos!
Meu silêncio instantâneo, somado à minha expressão de susto e surpresa, fez com que ela se divertisse mais ainda. Então ela maldosamente disse:
- Na minha idade eu já posso fazer muita coisa...
Eu sempre fui rápido em perceber o perigo, e naquele instante eu percebi que a partir daquele ponto minha vida nunca mais seria a mesma.
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