terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

O Rock in Rio de Jeremias.

Para quem não conhece o Seu Jeremias, ele é o meu visinho.
Um senhor muito simpático no auge dos seus 50 anos. Daquele tipo de coroa que esquece que é velho. Vira e mexe está no meio da garotada. Mas diferente do tio da sukita, ele é bem querido por todo mundo aqui do prédio.
Quando tinha algum movimento no salão de festa, rolando um rock mais pesado, ele sempre aparecia sem ser convidado, ia chegando, e quando a gente via, tava no meio da galera, pulando, gritando. Acabou que agora ele sempre é convidado com antecedência.
Seu Jeremias é o típico cara comum que trabalha em uma repartição pública. Mas o legal é que sabe tocar guitarra e violão, e de vez em quando a gente se reúne junto com ele no patio do condomínio para beber, tocar e cantar. É o maior sarro quando ele se anima, e começa a tocar Raul, Pink Floyd, Metálica... Ele realmente manda muito bem quando o assunto é Rock.
Em uma destas reuniões, entre os muitos assuntos e brincadeiras, alguém falou do Rock 'in Rio. Nisso, o Sr Jeremias, simplesmente fechou a cara se levantou e saiu. Ninguém conseguiu entender o que tinha acontecido. Dias depois, ele reapareceu na festinha de aniversário da Ritinha. A gente achou melhor não perguntar nada.
Ele, como sempre, era a animação em pessoa. Bebeu, cantou, tocou e bebeu ainda mais. Naquela noite ele bebeu além do que estava acostumado.
Final de festa, só tinha ficado a galera já conhecida. Eis que alguém mencionou a promoção do Trident, que leva o sorteado ao Rock in Rio na faixa. Seu Jeremias ficou louco de pedra:
- Que mané porra de Rock in Rio!!! Rock in Rio é o Caralho!!! Ainda mais com promoção!!! Promoção de cú é rola!!! - tentou se levantar, rodopiou, desequilibrou. Ia caindo quando a turma o segurou.
O colocamos sentado. E aproveitando do seu estado etílico, ele nos contou sua triste historia:
Era idos de 1985.
E ele era um jovem de 20 e poucos anos que morava no interior de Goiás.
Havia sido sorteado no concurso do achocolatado Nescau. Como prêmio iria para a cidade maravilhosa em grande estilo e assistiria ao Rock in Rio, naquela época em sua primeira edição.
Aquilo para ele tinha sido o grande ápice de sua vida. Ainda mais quando descobriu que entre tantas novidades, ele desceria de para-quedas no meio da plateia durante o show. Era algo nunca feito antes. Nunca tentado em nenhum show brasileiro.
E o Jovem Jeremias embarcou em um avião rumo ao Rio de Janeiro. Tudo era novidade para ele. A aeronave, o aeroporto, o hotel, a cidade, as praias. Tudo era lindo!
Horário combinado, lá estava o carro do achocolatado para leva-lo ao aero clube, onde embarcaria em um avião para saltar sobre a cidade do rock, que já estava cheia de rockeiros.
Era um sonho. No início ele sentiu medo. Principalmente quando se aproximou da porta do avião para o salto. A produção de marketing do achocolatado filmava tudo. Seria um material publicitário e tanto.
E Jeremias olhou para a câmera e gritou: "É Rock in Roll!!!" E saltou!
A queda livre durou poucos segundos. O paraquedas abriu quase que imediatamente. E lá do alto, após recuperar o fôlego, Jeremias olhava maravilhado a vista da cidade do Rock brilhando enquanto lá embaixo as pessoas estavam vibrando ao som do AC/DC que tocava "Hells Bells".
Quando o paraquedas foi se aproximando do público, alguns holofotes foram desviados e direcionados para ele, para que as pessoas pudessem ver a chegada triunfal do jovem Jeremias.
Ocorre que os seres humanos são muito imprevisíveis. E o que se passou a seguir, até hoje não poderia ser explicado com segurança.
Talvez foi o sentimento de inveja que tomou conta do público.
Talvez tenha sido, porque o para-quedas quando desceu, tampou a visão da galera que estava curtindo o show, deixando todos violentos.
Talvez porque, pela falta de experiência no pouso, Jeremias tenha descido direto com a sola do sapato na careca de um fortão que vestia um blusão de couro de um clube de motoqueiros.
Pode ter sido um ou todos estes motivos que colocaram fim na aventura de Jeremias.
Assim que ele chegou ao chão foi recebido com socos e chutes pela galera encoberta pelo paraquedas.
Jeremias apanhou mais que boneco de judas em sábado de aleluia. E a agressão só parou quando ele parou de se mexer.
E o pobre Jeremias ficou desacordado e foi pisoteado até ser localizado pela equipe do achocolatado. Quando recuperou os sentidos, 2 dias depois, estava no leito de um hospital carioca de onde sairia apenas na outra semana.
O saldo da aventura ficou em: 3 costelas quebradas, inúmeras luxações por todo o corpo, pontos  na cara e na cabeça. Por sorte não lhe quebraram nenhum dente.
A equipe do achocolatado abafou o caso.
A campanha publicitária nunca foi ao ar.
E Jeremias foi devolvido para Goiás, com uma indenização miserável, que só foi paga após assinar vários documentos isentando a responsabilidade da empresa pelo "incidente".
Mais de vinte e anos depois, um bando de jovens seguram o riso enquanto o Senhor Jeremias, escorado na poltrona da casa da Ritinha, bêbado que nem um gambá, indignado dizia com a voz engrolada:
- Rock in Rio??? Rock in Rio é o Caralho!!!

Mais um dia de paintball

Há muito tempo que eu jogo paintball, e durante todo esse tempo tive a oportunidade de conhecer muitas pessoas dos mais diferentes tipos, diferentes estilos e trejeitos. Fiz muitos amigos, muitos companheiros e nunca fui de fazer inimigos. Mas reconheço que algumas pessoas simplesmente passaram sem deixar saudades.
E o contato com tanta gente diferente me rendeu muitas histórias para contar. Essa história me foi contada por um amigo, que jura que a história é verdadeira, e se for, é definitivamente a história mais cabulosa que já ouvi no paintball cenário.

Eu sempre gostei de jogar como sniper. Com o tempo fui montando o equipamento ideal. Uma tippimann A5 com cano hamerhead para dar precisão sem aumentar muito o tamanho do cano. Para suprimir o som, coloquei um orange bolt que funcionou quase como um silenciador. E uma pistola TPX para quando alguém chegasse perto demais, a ponto de não conseguir virar a direção da A5 a tempo.Treinei muito no quintal da casa da minha avó. Resolvia a parada com pouco tiro. Mas meu forte, minha especialidade, era a camuflagem. Eu tinha vários tipos de fardas, uma para cada ambiente, e incrementava a camuflagem com galhos, terra, folhas, tudo o que precisasse. Aprendi a ter paciência, esperar a oportunidade certa, e por isso passava desapercebido durante os jogos. Geralmente eu era o primeiro a entrar na mata e o ultimo a sair. Não foram poucas as vezes em que os caras pisavam em cima de mim sem saber que eu estava ali. Por esse motivo, ganhei o apelido de Surpresa. Camuflado, ali na mocó, eu vi muita coisa. Vi muito Highlander limpar as marcas de tinta quando pensava que não havia ninguém olhando. Vi algumas quedas e capotes hilários de alguns despreparados que me fizeram conter o riso para não denunciar minha posição. Mas nada do que eu vi nesses anos de paintball chega nem perto do que eu vou contar.

Certa vez, chegou um cara novo para jogar com a gente. Como ficou pouco tempo, o apelido dele era Novato. O Novato era um carinha educado. Muito calado e na dele. Vindo de uma boa família, criado com todynho e sucrilhos, era daqueles caras que quando menino, não brincou na rua, não machucou, e para ele, o paintball era um sonho realizado. Tinha acabado de descobrir o paintball cenário, e estava pilhado lá do modo dele. Comprara uma Alpha Black, um marcador que para mim só dá duas alegrias, uma quando você compra e a outra quando você consegue empurrar em algum iniciante que fica babando no visual da arma do Rambo. Para piorar, ele tinha arrumado uma farda da tropa de choque, com uma camuflagem preta, cinza e azul, totalmente imprópria para a mata. Mas ele estava feliz e isso era o que importava. Como ele era um cara legal, a galera tinha muita paciência com ele.
Naquele final de semana o jogo era numa mata fora da cidade. A galera ia jogar com um time do interior, muito organizado. Os caras do time eram como um pelotão do exercito, com hierarquia, treinamento, disciplina e uniformes próprios. E apesar de inicialmente parecerem arrogantes e prepotentes, eram uma turma muito legal e prestativa com qualquer um que desejasse jogar paintball. Mas para toda regra existe uma exceção. E naquela equipe, a exceção tinha mais que um nome, tinha uma patente. Ele se auto apelidava de Coronel.

Nunca tive problemas com o Coronel, mas confesso que era um cara difícil de se conviver.  Implicante, ignorante, vaidoso, orgulhoso, temperamental, irritadiço, com mania de poder e grandeza. O típico cara que não conseguiu virar militar, e não passaria em nenhuma exame psicotécnico de um concurso ou curso que lhe permitiria portar uma arma de fogo. Vivia criando confusão dentro do próprio time. Queria criar uma série de regras para os jogos, com castigos físicos e humilhações para os perdedores, entre outras idiotices. Não foram poucas as vezes que parou um jogo na metade da partida com palavrões e xingamentos, expulsando um de seus jogadores por não ter cumprido uma ordem. Certa vez, o vi fazer um cara recém iniciado em seu time pagar 20 apoios enquanto ele gritava e cuspia insultos sobre o desgraçado. Minha sorte é que não morávamos na mesma cidade. Até mesmo os caras do próprio time já estavam gelando ele, evitando chamá-lo para os jogos. Mas naquele dia o Coronel acordou cedo e foi jogar.

Chegamos de viagem, fizemos os preparativos na zona salva, dividimos os times e começamos um jogo com missão que seria muito demorada, explorando a mata muito grande e bem delimitada por uma cerca. Entrei primeiro na mata, e após percorrer pelo menos uns 700 metros do centro da zona de jogo encontrei um barranco coberto por uma vegetação baixa e densa, perfeita para uma camuflagem ideal. E ali eu me posicionei e fiquei esperando meus alvos. Mas aparentemente calculei errado. Já havia se passado mais de 45 minutos de jogo e aparentemente a ação estava acontecendo em outro ponto da mata. Pássaros cantavam sobre as arvores, um calango passara perto de mim, e nada de jogadores. Passada quase uma hora, vi um jogador se aproximar correndo em direção a minha posição. Pela farda eu reconheci o Novato que naquele jogo era parte do meu time. Mas no seu encalço se aproximavam 3 inimigos que o cercaram. Com medo de tomar tinta, o Novato se entregou. Dalí, eu não poderia derrubar os 3, tanto pela distância quanto pela posição. Com sorte, apenas um deles cairia, e portanto eu seria alvo dos outros 2. Resolvi esperar. Ainda podia salvar o Novato e recoloca-lo no jogo. Mas, infelizmente, um dos inimigos era o Coronel.

- Homens, vocês voltem para a trilha da direita que eu vou conduzir o prisioneiro - disse o Coronel.
Os dois paus mandados voltaram pelo mesmo caminho por onde vieram enquanto eu fiquei esperando o momento ideal para derrubar o Coronel.
Sinceramente, eu podia tê-lo derrubado assim que os outros dois desapareceram, mas  confesso que fiquei curioso para saber o que o Coronel iria aprontar. Então, continuei observando enquanto ele falava com o Novato:
- A coisa que eu mais detesto é covarde. No meu time não fica covarde. Porque isso aqui é uma coisa séria. É guerra! Você já esteve numa guerra soldado? - perguntou o Coronel tirando uma algema do bolso da farda.
- Não, nunca estive. - disse o Novato achando graça do que estava acontecendo.
- NÃO SENHOR! SOLDADO! EU NÃO TE FALEI QUE ISSO AQUI É UMA GUERRA?
- Sim Senhor - respondeu o Novato assustado enquanto o Coronel agressivamente lhe algemava em um galho de uma arvore.
Naquilo eu já estava me segurando para não rir daquela confusão, quando o Coronel surtou geral:
- Numa guerra soldado, acontece de tudo! Só quem já esteve na guerra é que sabe o que acontece no meio da batalha. Você sabia que tem muita gente estuprada na guerra soldado?
- Olha cara, vamos parar com essa brincadeira? Bo-Bora parar com isso.- disse o Novato assustado
- Sabe que horas é agora soldado? É A HORA DO ESTUPRO!
Imediatamente, coloquei meu marcador no RT, e me preparei para sentar o dedo no gatilho e descarregar tudo o que tinha no loader tático quando o Coronel baixasse as calças. Mas não deu tempo.
O Novato não esperou nem um milésimo de segundo. Deu um puxão com tanta força que quebrou o galho da arvore e saiu correndo, gritando e derrubando tudo o que tinha pela frente. Largou a marcadora e disparou em direção aos carros. Até hoje não sei como o Novato conseguiu dirigir até a cidade algemado. E nunca soube como ele tirou aquelas algemas. Na verdade, depois do ocorrido, ele nunca mais apareceu num campo ou num jogo outra vez. Ninguém nunca soube, até hoje, o que realmente aconteceu naquele dia. O Coronel só disse que brincou com o cara e ele apelou, mas nunca entrou em detalhes.
Quando eu resolvi narrar essa história, decidi aproveitar para deixar um recado para o Novato: Sua Alpha Black ficou com o Coronel... 

Como explicar?

Um belo dia Marcos Antônio acordou. Vestiu sua roupa casual. Bebeu apenas um copo de água e desceu as escadas do velho condomínio aonde morava com sua avó.
Caminhou pela calçada tão sua conhecida, desviando das poças que a chuva noturna deixara para transformar sua caminhada em uma verdadeira amarelinha.
Ao passar diante de uma loja de instrumentos musicais que ficava a duas quadras de sua casa, ele parou. Ficou assim embestecido a contemplar um violão preto escorado em um banquinho no interior da loja. Seu olhar paralisou diante daquelas cordas brilhantes. E passados alguns minutos ele entrou.
Entrou sem pedir licença, como se estivesse em casa. Tomou o violão em seus braços e sentou-se sem cerimônias aconchegando o instrumento em sua perna cruzada, em uma posição que faria inveja a qualquer profissional da musica.
... e então seus dedos começaram a se movimentar, e uma melodia encheu toda a loja tal qual o cheiro de uma comida deliciosa em um ambiente de famintos. Pessoas paravam na rua, desciam dos carros e entravam no recinto para ouvir aquele concerto gratuito em plena manha de sábado. Um misto de sentimentos tomava conta dos presentes, velhos sorriam, jovens choravam. Uma senhora de olhos fechados, levou as mãos ao peito para tentar aplacar as batidas de seu coração que teimava em fazer a percussão acompanhando o dedilhar naquelas cordas.
O violão cantava em suas mãos, e tal qual um canto de sereia aquela melodia se espalhava e atraía pessoas que esquecidas de suas vidas tão difíceis se deixaram por um instante sentir algo próximo do que chamam de felicidade.
Quarenta e cinco minutos e alguns segundos se passaram quando ele parou de tocar. Levantou seus olhos e deparou-se com aquelas pessoas apinhadas se espremendo em busca de um lugar para ver o show. Estendeu o braço na direção de um homem e ganhou um cigarro que lhe acenderam automaticamente. Tragou e soltou a fumaça pelo ar daquela loja lotada.
Uma senhora puxou as palmas que liberaram uma infinidade de sorrisos naqueles rostos tão endurecidos pela vida árdua e fria da grande cidade de concreto e vidro.
Só Marcos Antônio não sorriu.
Levantou-se e foi caminhando para fora abrindo espaço por entre as pessoas que ainda batiam palmas emocionadas, sem perceberem que o músico estava deixando o ambiente.
Já lá fora, olhou mais uma vez para a loja ainda lotada e seguiu caminhando pelo lado esquerdo da rua, onde a calçada parecia estar mais seca. Ledo engano... em um instante de distração uma poça funda lhe molhou até as meias.
Passado alguns instantes Marcos Antônio parou de uma vez. Intrigado... Nunca tinha feito aquilo antes em toda sua vida. Naquele momento, a vontade tomou conta de seu íntimo, e ele realizou aquele desejo nunca antes sentido.
Marcos Antônio nunca tinha fumado em sua vida.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

O retrato da primavera

Eu estava sob a marquise enquanto Jéssica descia a rua. Chovia forte naquele dia escuro apesar de ainda ser pouco mais de meio dia.
Caminhava pela rua enfrentando uma torrente de água que descia pela sarjeta enquanto segurava seu guarda chuva novo com lona rosa e cabo de madeira.
Fiquei observando a firmeza de seus passos enfrentando a corrente que se intensificava com o passar do tempo. O vento forçava o guarda chuva como se tentasse tomar de suas mãos. Mas ela resistia bravamente. Era um guarda chuvas do tipo que não se fabricam mais, aqueles de cabos de madeira e lona reforçada. Uma lona com motivos florais, que faz lembrar as antigas cortinas da casa de nossa avó materna. Talvez por isso ela goste tanto deste guarda chuvas.
Com ele seguro em suas mãos ela sai para desfilar sob o temporal mais terrível. Raios e trovões não a amedrontam. Vai pisando firme com sua galocha branca e empunhando seu guarda chuvas, que mais parece um retrato da primavera nesta chuva de verão

As dificuldades em se escrever uma história de amor

Pensei em escrever uma história de amor.
Mas toda história de amor precisa primeiramente de dois personagens. Como ainda sou meio antiquado, gosto das coisas tradicionais, resolvi que os personagens seriam um casal, ele e ela, um homem e uma mulher. Mas tinha que ser um homem mesmo, não desses vampiros do crepúsculo, por que esse tipo de homem mulher de verdade alguma quer saber deles.
Precisava também de um lugar. Um lugar bacana onde eles iriam se encontrar e onde toda a história vai acontecer. Escolhi uma cidade, ou melhor, duas cidades. A distância é uma arma poderosa em uma história romântica. Para isso eles devem morar em lugares diferentes, nem muito perto, e nem muito longe, porque ninguém suporta amores platônicos por muito tempo. Falando em tempo, essa história deveria se passar nos dias de hoje. Hoje em dia todos tem pouco tempo para amar, talvez essa história seja inspiradora.
E eu precisava de uma música.
É mais gostoso criar um romance com a ajuda de uma música tema. Decidi tirar do fundo do baú. Nos idos dos anos 80, uma música do Kid Abelha, cuja a letra fala assim:

Ovos quentes e café na cama
As suas lágrimas no meu pijama
Você não pode me cobrar
Pelo que deu de graça
Sempre inventando
Mais provas de amor
E só me abraça pra sentir o efeito
Acho que a sua inspiração
Está em livros de direito
Talvez eu tenha ganho
Mais que eu tenha dado
Mas contas de amor
Sempre dão errado
Você me lembra histórias do passado
E tudo mais pra eu me sentir culpado
Amor por retribuição
Você só pode estar de brincadeira
Pingüins em cima de geladeiras
Valem tanto quanto um beijo por compaixão
Ovos quentes e café na cama
Eu sei de tudo que você trama
Os mesmos truques de manhã
Você já não me engana
Não se importa em estar apaixonado
Só pensa em datas e compromissos
Seus beijos uma vez por mês
Não quero nada disso


Um história que já começa pela metade, com a garota puta da vida com o carinha que pisou na bola, porque todos eles pisam. Mas ele pisou feio, daquelas escorregadas vulgarmente chamadas de batom na cueca (não tem como explicar). Mas ela vai perdoa-lo, não porque ele é a melhor pessoa do mundo, na verdade ele não vale nada. Mas mesmo assim ela vai,  porque ela é fraca, frágil e não tem força para viver longe deste tipo de homem. Ela já está conformada, as amigas dizem que tem o dedo podre. O padre cansou de avisar. Mas ela está apaixonada. Jogaria sua vida fora, ou melhor na privada, e não hesitaria em dar descarga a uma ordem dele. Mudaria de religião, de time de futebol, bateria na própria mãe por ele. E ele?

Bem, não temos muito o que esperar do nosso herói, além do fato de que não terminou os estudos e não trabalha. Tem um carro que foi presente do pai que morreu a pouco tempo e deixou alguns bens que não vão durar mais um ano. Vive de festa em festa, com amigos mais mais falsos que o rolex que ele sustenta no pulso.
 Mas quem escreve, tem obrigações para com seus personagens. Tem deveres. É como criar um filho, neste caso, dois. Esses dois me acordaram essa noite, me exigindo uma solução para seus problemas. E isso é virar um jogo que se está perdendo de 3 nos acréscimos finais do segundo tempo. E sinceramente não estou afim de fazer as vezes de cupido.

 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

O que importa neste novo ano

 
Algumas coisas não importam muito...
Não importa se passou a virada do ano na praia paradisíaca ou num quartinho sem banheiro morando de favor. Sobre um Iate ou sob um viaduto. Não importa que você tenha passado em um hospital... cuidando de alguém ou sendo cuidado.
Não importa se você passou na companhia da Megan Fox, dos seus melhores amigos, da família querida, ou dos parentes chatos, ao lado de quem ama, ou de pessoas estranhas... Talvez até tenha passado sozinho.
Não importa se sua ceia foi preparada por um Chef renomado, pela vizinha gorda, pelos parentes chatos... ou se você não teve ceia.
Não importa se passou tomando champanhe Tast of Diamonds em uma taça de cristal, ou Sidra Cereser em um copo de requeijão.
Não importa se você foi bom, caridoso, generoso, apático, supérfluo, ou desgraçadamente mau.
O importante é que mais um ano se passou. E você acordou vivo em 2014.
Cada novo ano que chega, trás consigo esperança, uma gama de novas oportunidades, de mudanças. Cada novo instante é uma nova chance de fazer diferente, de fazer melhor.
Mas a esperança é como uma viagem. Tem que levar a algum lugar. Então vamos buscar caminhos melhores que nos levem a lugares melhores, mais distantes, mais formidáveis, mais humanos. Vamos seguir em frente mais um ano, com boas companhias ao nosso lado e nos recordando daqueles que deixamos para trás.
Independente de como foi a sua virada, não se esqueça que você está vivo.
Deus já te deu isso... O resto é com você mesmo.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

O meu, o seu, o nosso futuro.

Eis que eu me pego pensando
Em como seria minha vida ao teu lado
E só então eu percebo que terei a tarefa de fazer-te eternamente feliz
E essa será a razão de minha existência, e que não pode haver motivo maior que este para seguir em frente.
Que só dessa forma eu me sinto feliz a cada dia.
Fazendo com que seu sorriso me desejasse bom dia logo pela manha, antes mesmo do café e do jornal.
E quando isso não acontece, quando você insiste em manter aquela cara amarrada ou se recusa a falar do que se passa dentro do teu peito, é então que eu me lanço de corpo e alma neste desafio que é descobrir como te animar, como resgatar aquele sorriso que ilumina meu coração outrora tão sombrio.
As vezes demora. As vezes parece uma eternidade. Mas quando ele aparece, cada instante por mais tenso, doloroso ou cansativo que fora valeu a pena.
E assim eu sigo meus dias
E é assim que eu pretendo seguir.
Porque sua mão sempre está segurando a minha.
E isso me conforta.
Isso me traz confiança
Só assim eu sinto que sou melhor.
É como escolhi te amar.
Por isso te amo

terça-feira, 24 de setembro de 2013

No Teu Prumo

Então eu me encontrava em frente ao PC.
A cabeça a mil. Ouvindo Zé Ramalho cantando Avohai, e pensando nos erros cometidos.
Enquanto tentava escrever, em minha mente remexiam as lembranças há muito ocultas e esquecidas.
Lembrei de uma cidade cercada pelas serras.
Recordei de alguém que se foi há pouco e ainda vive em minhas melhores lembranças.
Disseram-me que o pai de alguém havia morrido. E percebi que nunca perdi ninguém de quem gostasse tanto quanto um pai, uma mãe, um irmão. Não sei qual seria o meu sentimento, mas neste momento eu nada sinto além do frio em meus pés.
Junto as mãos, fecho os olhos e baixo a cabeça como se procurasse inspiração. Observo com este gesto que há muito tempo deixei de rezar. Deixei de ter medo, mas ainda não aprendi a utilizar bem essa liberdade e essa coragem.
Bem. Sentir-me Bem... Fazer o Bem... Encontrar meu Bem. Uma mesma palavra com várias conotações.
Fico me perguntando porque não sou capaz de viver mais conscientemente.
Talvez porque uma montanha russa sem velocidade e em linha reta não agradaria ninguém.
Mas o carrossel se move em circulo, sobe e desce e também não agrada.
Inquietudes ou devaneios... Não sei dizer ao certo. O certo e o errado são separados por um limite tão confuso que muitas vezes os dois se confundem entre sí.
A música mudou. Agora uma voz desconhecida canta: "nas horas sem fim em que a dor não tem mais cabimento é no teu prumo que eu me oriento" Nada mais justo.
Estou agora pensando em como é difícil entender a vida. Mas essa dificuldade me atrai.
Vou deixar o PC e ir até a janela sentir a brisa.
Para mim, até hoje essa é a melhor maneira de me vincular a Deus.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Velha Rua

Hoje eu passei pela mesma rua.
Já fazia muito tempo que eu evitava aquele caminho antes rotineiro. Não por medo, mas por pura conveniência e economia de tempo. A verdade é que aquele sempre foi o caminho mais longo e mais demorado.
Pouco mudou. As casas continuam iguais. As pessoas indiferentes aos vizinhos continuam a cuidar de seus jardins sem graça, sem cor, quase sem flores.
E pensar que um dia aquele lugar aos meus olhos chegou a brilhar.
Acho que vi um rosto conhecido ao longe. Mas apenas acho, não posso ter certeza, estava muito distante e eu não fiz muita questão de olhar mais de perto.
Meus pés clamavam por continuar meu caminho.
Parei diante de uma vitrine e me vi no espelho. Notei que o tempo começou a fazer efeito em meus cabelos, nos cantos de meus olhos, e principalmente dentro de mim.
Enquanto olhava minha imagem, me recordei que recentemente disseram que eu perdi aquele sorriso.
E essa lembrança me fez sorrir. Ali estava ele, o mesmo de sempre. Não estava perdido, só estava bem guardado.
Continuei a seguir por aquela rua. Um passo de cada vez até chegar na esquina. A mesma esquina onde uma história começou e terminou.
Parei.
Olhei mais uma vez para aquela rua e sorri... só para confirmar...
... Ele ainda estava ali

quinta-feira, 4 de julho de 2013

O peso de um nome


Quando eu vi uma pedra dura e fria verter lágrimas... inicialmente não entendi o que estava acontecendo.
Mas então percebi que em algumas de nossas vidas, chega um momento em que  o nome fica maior e mais forte do que a pessoa que o carrega.
Por isso precisamos cultivar amigos e flores...

Protestos pelo Brasil

Estamos em meados de 2013 e todos estamos assistindo a onda de protestos que ocorrem em todo o país.
Em muitas cidades do Brasil, o povo tem saído às ruas para se manifestar contra os mais variados motivos.

Por incrível que pareça até na cidade de Britânia GO, ocorreu uma manifestação.

Meu editor, não sei se para me punir ou se para demonstrar que o inconformismo público está em todos os lugares do país, inclusive nos mais ermos,  me incumbiu de cobrir esta notícia. E depois de quase 4 horas de viagem eu cheguei na cidade de Britânia que fica na parte mais quente do estado, aonde termina a rodovia.

Tudo parecida muito calmo na rua principal às 9:00h da manhã, e não vi indícios de que havia qualquer tipo de mobilização social. Com a maioria dos estabelecimentos ainda fechados, procurei o bar do Totha (lê-se totia), ponto de encontro dos bebuns e pescadores de plantão. Ali diante de um séquito de pés-inchados que já batiam ponto no local desde à noite anterior, foi informado pelo proprietário do estabelecimento dos boatos espalhados na cidade sobre uma manifestação que pararia a cidade naquele dia.

Seguindo ainda a orientação do mestre Totha, procurei o sindicato rural daquela cidade, onde fui bem recebido pela companheira Dona Terezinha, que no auge dos seus 68 anos de representatividade sindical e militância, estava alvoroçada como uma pré debutante de 14 anos. Fez-me tantas perguntas e falou tanto que me impediu de saber mais detalhes sobre a manifestação, além de que a mesma estava marcada para o meio dia, e que prometia parar a cidade.

Marcamos de nos encontrar na frente do banco às 12:00h. Motivo pelo qual me recolhi para uma sombra até o horário marcado. Enquanto esperava, observei que não precisaria de muito esforço para parar aquela cidade. Talvez apenas, deixando tudo como estava.

Às 11:45 eu já me encontrava no local combinado.
12:00h, e ninguém havia chegado.
12:10h, 12:20, 12:30h e ninguém aparecia. Fato que fez com que eu me dirigisse novamente ao sindicato. E mal parei na porta, fui admoestado pela sexagenária revolucionária que me mandava sair do sol.

A ilustre líder sindical me informou que por conta do "sol que tá muito quente" a manifestação ficou para mais tarde, por volta da 16:00h.

Procurei um restaurante à beira do lago para almoçar, e com atenção voltada para o trânsito das nativas na orla do lago, quase morro engasgado com uma espinha de traíra. Passado o susto me deitei numa rede armada debaixo de uma mangueira ao lado do restaurante, e pedi para ser acordado por volta das 15:00h.

Mas despertei sozinho, às 16:30h. Perguntei ao proprietário porque não havia me acordado, e ele me disse havia esquecido que eu ainda estava por ali.

Sai correndo às pressas em direção ao local do início da passeata. E lá chegando encontrei dona Terezinha solitária, com um boné do MST e uma bandeira vermelha nas costas. Me repreendeu mais uma vez pelo meu atraso. Aquele comportamento era anti cívico, antipatriota.

Pedi desculpas e perguntei pelo restante das pessoas. Ela respondeu que eles ainda iriam chegar. Não tinha chegado ninguém ainda "porque o sol tava muito quente".

Fez sinal para um senhor que aparentava ser da sua idade e empurrava um carrinho de picolé. Assim que o picolezeiro chegou, ela se pôs a gritar com o homem.
De imediato eu interferi partindo em defesa do pobre velho que a tudo ouvia na maior paciência. Mais uma vez ela me repreendeu: Gritando com o velho pois o mesmo era surdo. Escutava muito pouco. Mais uma vez fui obrigado a me desculpar por desconhecer aquele detalhe.

Explicou-me também dona Terezinha, que aquele carrinho de picolé era peça fundamental para o bom andamento do protesto. Usei meu poder de dedução, e imaginei que seria uma forma de chamar a atenção do povo da cidade, a final, com um calor desgraçado daqueles, um picolé era uma visão do paraíso e seria uma isca perfeita para atrair a massa de manifestantes insatisfeitos com o clima.

Mas logo percebi que estava mais uma vez enganado. O carrinho do velho tinha uma caixa de som, um microfone e uma bateria que seriam utilizados pela sindicalista para animar a manifestação.

Por volta das 17:45, quando, nas palavras de dona Terezinha, "o sol baixou", os manifestantes se reuniram na rua em frente ao banco. Eram ao todos sete pessoas. Duas mulheres traziam cartazes, que eu pedi para fotografar, e me surpreendi ao ver que um era uma cartolina com recortes de revistas e formava um trabalho da escola primária para o dia da árvore. O outro era um cartaz oficial da secretaria estadual de saúde da campanha de vacinação no qual aparecia a imagem do Zé Gotinha.
Sequer tive tempo para argumentar alguma coisa com os manifestantes, pois dona Terezinha puxou aquela multidão de sete pessoas com gritos de ordem no microfone que, com tanta interferência, mais parecia uma caixa de abelhas.

Eu com minha câmera comecei a registrar o momento, enquanto dona Terezinha conclamava o povo a pegar em armas, ir à luta, que éramos poucos mas éramos valentes! E por aí foi levando.

Descíamos a rua principal que termina na praça em frente ao lago

No meio do percurso dois manifestantes, legítimos representantes dos povos indígenas, começaram a dar trabalho por conta do alto estado de embriagues no qual se encontravam. O primeiro vomitou para cima e se sujou todo. O segundo caiu sobre um tambor cheios de vassouras à venda no supermercado Rio Vermelho.
Instantaneamente, dona Terezinha utilizando sua autoridade e longa experiência, dispensou a presença dos "vândalos" com um empurrão em cada um. Os dois, abraçados para não cair, rumaram em direção ao bar do Totha.

Discretamente, a líder sindical, se desculpou com esse singelo representante da imprensa, alertando que se tratava de fatos isolados e que em nada iriam afetar na magnitude do evento.

Notei também que a partir deste episódio o semblante da ativista se alterou para mais preocupado. Logo ela me informou que temia alguma repressão pelas autoridades do governo. O que não tardou para acontecer.

Durante a passeata, aproveitei para conhecer os vários motivos pelo qual cada um daqueles cidadãos manifestavam. Um manifestava pelo passe livre para entrar no Varandão (a mais famosa, mais movimentada e única casa de shows da cidade). Outro manifestava contra as muriçocas que com suas picadas implacáveis deformavam a beleza das turistas que se bronzeavam nas areias da praia do Lago dos Tigres. Outra manifestava contra a cantora Joelma da banda Calypso que ameaçava virar crente e abandonar a carreira artística. No momento em que eu estava entrevistando uma manifestante, que manifestava contra um bando de capivaras que havia destruído sua roça de mandiocas, dona Terezinha me puxou pelo braço para que eu voltasse minhas lentes para uma cena de brutalidade policial.

Tratava-se do guarda municipal, responsável pela manutenção do canteiro da praça, que tentava à pauladas, espantar uma vaca que comia as flores do canteiro central.

Logo a manifestação ganhou um foco único. À defesa das vacas, que segundo alguém lembrou de ter assistido na novela Caminho das Índias, são animais sagrados.

O policiamento foi reforçado pelo vigia noturno da prefeitura que chegava de uma pescaria. Correu para a praça onde, em conjunto com o companheiro da praça, formaram um cordão de isolamento de duas pessoas.

O início de tumulto entre os 5 manifestantes e os dois guardas municipais (empurra-empurra, esfrega-esfrega), aos olhos do povo pareceu um forró-bodó. Equivoco este que fez com que mais pessoas se dirigissem à praça.

Alguns playboys com seus carros rebaixados e toneladas de som no interior dos veículos começaram a tocar um funk proibidão, caixas de isopor vendendo cerveja foram aparecendo também, arrastando uma infinidade de jovens nativas de pouca roupa e muita disposição para a bagunça.

A manifestação acabou virando um carnaval fora de época. E eu, enquanto ainda estava sóbrio, registrei todo o movimento.

Por mais que eu tentasse convencer meu editor de que os fatos narrados nesta matéria realmente aconteceram, e que não se tratava de uma piada de mau gosto, acabei perdendo o emprego logo que retornei à capital.

Mas felizmente estamos em julho. Vou receber minha primeira parcela do Seguro Desemprego e vou tirar umas férias.
Estou pensando em ir para Britânia...
... Não tem nada lá...
... Mas por algum motivo, aquilo é bom demais.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Hoje está passando um filme de terror

Na saida do bar, ainda olhei para tras.
Vi que o homem magro sentado no banco alto, colocara o cigarro aceso entre as cordas, perto das paletas e voltava a dedilhar a introdução de outra música que eu não ficaria para ouvir na companhia dos outros tres ou quatro fracassados em suas mesas.
Passei no balcão de deixei uma nota de baixo valor para o barman que fingiu não me ver para não ter que me cumprimentar. Filei uns amendoins rancentos e tomei a saída para à rua escura.
E ao sair, a rua estava mais que escura. Estava gélida, morbida, assustadora. Parei ao primeiro passo. Ainda pensando em retroceder, mas nada que estivesse ali naquela escuridão poderia ser pior que o ambiente que eu deixava para trás.
Eu estava errado...

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Na visita

Quando aquela porta se abriu, lá estava ele...
Era como ver você naquela idade. Incrível a semelhança entre duas criaturas.
- Teu sangue não negou tua origem.- disse ainda com a voz embargada pela emoção.
Ele simplesmente sorriu e correu a chama-lo.
Entrei naquela sala, sentindo como se entrasse em um portal para aquele tempo.
Fiquei ali olhando as suas fotos.
Imaginando se tudo se repetiria novamente. As mesmas corridas, as mesmas brigas, os mesmos sonhos.
Você se demorou a descer e eu tive que sair.
Deixei seu garoto sem entender muita coisa.
Na verdade, nem mesmo eu conseguiria explicar.
Simplesmente eu fui

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Na passagem pela vila

Naquela hora, na vila, o sol já tinha se ido e a noite começava a cair sobre aquele povo simples que se reunia às portas de suas modestas casas.
Ali naquele horário, as mulheres se reuniam de fronte aos portões falando da vida de outras pessoas ausentes, pois certamente estavam ante outros portões falando da vida daquelas. E enquanto isso, suas crianças brincavam nas ruas de terra, correndo por entre as casas, a crescer um dia depois do outro.
O tempo parecia correr mais lento naquelas cercanias. E não fosse o calor infernal, poderia se dizer que ali se assemelhava ao próprio paraíso.
De longe ouviu-se um berrante tocar, anunciando a chegada de alguns homens que tocavam gado. As mulheres então se recolheram cada uma para sua casa levando consigo um ou outro moleque que protestava.
Ao adentrarem na cidade, o homem do berrante que ia na dianteira sobre um grande e fogoso cavalo baio, tocou mais uma vez, e em seguida deu o seu aboio sofrido de quem vinha cavalgando há mais de mês sem ver vivalma pelo caminho.
Aquele aboio fez sair à janela a filha de Maria das Graças, de nome Rosa, que debruçada na janela ficou a olhar e suspirar para aquele homem rude e coberto da poeira da estrada.
O homem, de nome José Lúcio, era um vaqueiro jovem porém experiente, que sobre aquele cavalo garboso fazia lembrar os fidalgos das velhas histórias de contos de fadas.
Ao passar em frente à janela do casarão, seus olhares se cruzaram. Enquanto passava o gado, ele puxou as rédeas para que sua montaria passasse mais devagar. Os olhos dela eram dois sois enquanto os dele eram duas luas a refletir o brilho dos olhos dela.
Não disseram sequer uma palavra.
Quando ela reparou que o vaqueiro ficava para trás, alcançou na mesa uma rosa, e imediatamente jogou para ele que ao agarrá-la, levou imediatamente ao rosto para sentir-lhe o cheiro. Por instantes ele fechou os olhos e imaginou que aquele seria o cheiro dela.
Imediatamente ela fechou a janela, ato que o fez apertar o passo, esporando seu cavalo para sair atrás da boiada que já ia ao longe.
Logo na saída da vila ele parou e aboiou mais uma vez.
Desta vez um aboio mais triste, ainda mais sofrido, mas ao mesmo tempo empolgante, como se dissesse para quem ouvisse: "Me espera que ainda volto".
E foi seguindo o seu caminho, para aonde quer que ele o levasse.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

MEUS MUNDOS

Impossível negar
Mas eu pertenço a vários mundos.
E por ser tão desatento que só noto quando estou em cada um destes mundos.
Quando acordo estou em um mundo estranho, no qual me escondo atras de um terno. Um mundo onde cada segundo conta, onde nem sempre os sorrisos significam felicidade, e o choro nem sempre é um sentimento verdadeiro. Nesse mundo eu luto. Eu luto por estar de luto.
Num piscar de olhos eu já me encontro em outro mundo, cercado por quarto linhas de um tatame, vestindo um sagrado uniforme de samurai, no qual também me pego lutando.  Mas aqui, meu oponente não é meu inimigo, e aqui nesse mundo eu transformo meu suor em respeito.
Assim, sem me dar conta de como nem quando, eu já estou em outro mundo. Neste novo mundo, eu me surpreendo camuflado em um ambiente inóspito, liderando meu pelotão em uma missão. E naquele momento minha única preocupação é não levar tinta... literalmente.
Mas no mundo que mais me encanta eu uso chapéu e caminho por entre animais brancos com chifres e rabos. Ali, diante do velho casarão, eu penso em um tempo que já se foi, num tempo que eu não vivi. E neste mundo eu luto para ser feliz.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Motivos pelos quais não escrevi a tua história...

Tudo começou com um conto...
Era para ser apenas uma história boba, daquelas que a gente conta para alguns amigos em uma roda de conversa para ver o tempo passar.
Um fato pitoresco do cotidiano, nem completamente real, mas longe de ser uma mentira cabeluda.
Era para falar da vida de alguém, narrar um episódio engraçado acontecido com um cara comum, como eu ou você.
A história nem era para ter uma moral oculta, final feliz ou trágico.
Era somente uma história...
Mas eis que as coisas fugiram ao controle.
Um fato foi dando lugar a outro e mais outros que, interligados, viraram uma cadeia de acontecimentos, empolgantes e emocionantes.
O que levaria quinze minutos para ser contado, tomou horas, dias e semanas para serem narrados.
O dono daquela vida mal fadada às críticas, como em um passe de mágica virou um herói, que em seus atos de vilania cativou e foi idolatrado pelas pessoas comuns que ouviam ou liam sua história.
E o que começou com um conto, virou um livro, um best sellers campeão de vendas, que já teve seus direitos comprados por um estúdio cinematográfico internacional. Certamente será um sucesso de bilheterias, e quem sabe ganhará um Oscar.
Mas daqui há alguns anos, seu autor, rico, bem sucedido, capaz de ganhar milhões com um slongam para champou de cachorros, só irá ter uma frustração: "Não ter deixado nada melhor para a humanidade"
Reflexos de uma sociedade decadente tão carente de heróis...

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Teu cheiro

Pouso minha cabeça sobre o travesseiro que tem um cheiro diferente...
Um cheiro tão único...
Um cheiro que me remete a alguém que está tão longe.
Como os cheiros são capazes de fazer minha mente se entregar às recordações e à imaginação.
Deitar com seu cheiro me faz sonhar com você. Faz com que eu renove as esperanças há muito esquecidas ou enfraquecidas.
A saudade se torna um alimento
E este alimento me nutre durante toda a noite.
E então chega a manha
Com ela a eu sinto sua ausência
Ando pelas ruas sujas e fedidas, pelas quais pessoas transitam se amontoando como vermes.
E é a lembrança do seu cheiro que faz com que a esperança nunca desapareça.
É o teu cheiro.
Tão seu.
Tão meu.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Quase um Sherlock Holmes


Nem bem eram oito horas da manha quando um sujeito aparentando ter por volta dos quarenta anos de idade adentrou no recinto do trigésimo sétimo distrito policial da cidade. Fato notadamente normal, não fosse os diversos hematomas, escoriações e bandagens no qual se encontrava envolvido.
Imediatamente todos voltaram seus olhares ao visitante que a cada passo que dava soltava um gemido.
Parou diante o balcão da recepção e após algumas palavras foi conduzido diretamente à presença do Doutor Augusto Mascarenhas, delegado plantonista naquele dia.
O Delegado encontrava-se em seu gabinete, e ao receber o depoente, endireitou seu pesado corpo para soltar a barriga que estava presa sob o tampo da mesa.
- Bom dia cidadão, vamos sentando. - disse o delegado lhe apontando a cadeira e observando a dificuldade daquele homem em tomar assento entre os gemidos e contorções. Pacientemente o Doutor Delegado esperou que ele estivesse sentado e começou a perguntar: - Então meu senhor? Qual é o seu nome?
- José Eduardo Martins e Silva.
- Casado? Solteiro?
- Divorciado.
- Profissão?
- Contador.
- E o Senhor conta o que?
- Eu trabalho na contabilidade de uma empresa Doutor. (gemido)
- Certo, então me diga, o que foi que lhe aconteceu?
- Doutor. Nem eu mesmo sei explicar o que foi que aconteceu. Eu estava ontem lá em casa tranquilo após um dia cansativo de trabalho quando tocaram a campainha. (gemido) Fui até o portão, e quando abri, três homens entraram já me empurrando. Dois deles mais fortes me seguraram e o outro mais de idade falou: "Então você é o tal do sedutor, heim?" Então baixaram o cacete. (gemido)
- Realmente, seu estado é deplorável. Mas me diga: Você é o sedutor?
- Que sedutor Doutor?
- Eu sei lá... provavelmente o sedutor que os agressores estavam procurando.
- Sou eu não doutor... (gemido) eu nem ando dando atenção para mulher ultimamente. Perdi a minha e não estava querendo arrumar confusão pro meu lado. Mas parece que a confusão é quem me procura. (gemido)
- Anote aí Dona Matilda. Que o depoente não gosta de mulher.
- Não! Não é isso não! (gemido)- disse o cidadão que só naquele momento dera conta da presença da escrivã que estava no fundo do gabinete- Não é isso não Doutor... Eu gosto de mulher.
- Gosta mesmo?
- Claro que eu gosto!
- Muito ou pouco?
- Muito...
- Então anote aí Dona Matilda, que o depoente é perdido por um rabo de saia.
- Pelo amor de Deus Doutor... eu não disse isso não. Eu gosto de mulher como todo mundo. Eu gosto normal. Que nem o senhor. O senhor também não gosta de mulher?
- Claro que eu gosto! Mas o sedutor aqui não sou eu!
- E nem eu!
- Então porque te bateram?
- E eu lá sei? É por isso que estou aqui na delegacia.
- Veja bem Dona Matilda... Mas um caso complicado e de difícil elucidação.
Dona Matilda sequer levantou os olhos da tela do computador, limitando-se apenas a proferir um mísero "hum rum..."
- Mas Senhor José Eduardo - continuou o delegado - o Senhor deve ter aprontado alguma... Não é possível. Certamente deve ter se envolvido com alguma mulher casada, ou com alguma jovem donzela. Tente se lembrar.
- Doutor, eu já disse. Ultimamente tenho vivido uma vida de cão. Não tenho olhos para mulher alguma.
- O Senhor tem algum problema com algum vizinho?
- Não senhor. Eu me dou com todos eles.
- Anote aí Dona Matilda. Que o depoente tem dado com todos os vizinhos.
- Como assim Doutor?
- Eu sei lá... Foi o Senhor quem falou.
- Mas eu disse que me dou bem com os vizinhos. Não é nada disso não. Eu quis dizer que não tenho problemas com meus vizinhos. Gosto de todos eles.
- Gosta dos seus vizinhos?
- Sim.
- Até dos vizinhos homens?
- Sim.
- Anote aí Dona Matilda. Que o depoente gosta de homens.
- Não! Não anota isso não Dona Matilda! Doutor... O Senhor está de brincadeira?
- E isso aqui é lugar de brincadeira cidadão? Você fica por aí futricando com quem não deve, é justiçado por algum pai ou marido desonrado e vem aqui perguntar se eu sou palhaço?
- Mas... Mas... Não é nada di...
- Silêncio! Isso está me cheirando a um caso de estupro presumido! Desde o momento em que você entrou por aquela porta eu vi que havia algo de errado. Bem que eu notei que você faz bem o tipo daqueles que não prestam. Ribamar! Jackson! Autuem esse sem vergonha aqui.
- Doutor! O que é isso Doutor?
- Cale a boca vagabundo! Tira esse sem vergonha da minha frente. Coloquem ele na cela coletiva e deixa os caras brincarem com esse estuprador de criancinha.
- Não! Doutor... Pelo amor de Deus! Gritava o pobre que ia sendo arrastado por dois oficiais em direção ás celas.
Doutor Augusto Mascarenhas respirou fundo se levantou e olhou pela janela enquanto dizia.
- Percebeu Dona Matilda? Esse safado quase que nos passa a conversa. Não fosse meu faro investigativo...
Dona Matilda preocupada em como reduzir a termo aqueles acontecimentos, sequer levantou o olhar, limitando-se apenas a responder com seu característico "hum rum".

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

ELEIÇÃO NO INTERIOR


Neste domingo Dona Jandira vive um dia todo especial. Isso porque, Dona Jandira, no auge dos seus 73 anos, é  louca por eleições. Mesmo estando desobrigada pela lei de votar, Dona Jandira jamais abriria mão desse direito constitucional de escolher seu governante. E essa é sua eleição predileta. Dona Jandira adora votar para prefeito. Tudo bem que é bom escolher o presidente, o governador, senadores, deputados... Mas escolher o prefeito e o vereador, é algo que a deixa estasiada. Talvez porque esses personagens lhe são mais próximos, estão na sua cidade. Ela não perde um comício, uma reunião do partido, uma passeata... Dona Jandira está em todas.
Como toda eleitora que se prese, ela adora quando seu candidato ganha a eleição. E é por este motivo que dona Jandira faz uma pesquisa criteriosa para decidir em quem votar, e o escolhido naturalmente será aquele que tem mais possibilidades de ser eleito. Não importa o passado do candidato, não importa a plataforma eleitoral, promessas... nada... a única coisa que realmente importa para ela é saber se o danado tem chance de ganhar, e com isso ela o escolhe imediatamente.Todos os cabos eleitorais já conhece a nobre senhora. E nas vésperas das prévias e conchavos políticos, os representantes dos candidatos ficam sondando a velha senhora. Adulando-a, dando-lhe presentes para ganhar sua simpatia. A final, que marqueteiro não gostaria de uma idosa senhora animada espontaneamente para aparecer nos vídeos e campanhas em prol do candidato? Mas nem dinheiro nem promessas influenciam sua escolha na hora de decidir em qual candidato votar. Ela tem plena consciência de que deve escolher aquele que vai ganhar.
E nestes muitos anos de eleições, dona Jandira sempre acertou na escolha para prefeito. O que lhe deu a fama de "eleitora pé-quente"!
Depois de escolhido seu candidato, Dona Jandira se dirige ao comitê eleitoral do mesmo para se municiar de todas as armas necessárias para lutar na campanha: adesivos, bandeiras, faixas e santinhos... muitos santinhos.
De posse do material, Dona Jandira começa sua peregrinação, quem mais sofre é o padre Pedro e o seu filho Juarez.
O pobre do Juarez, sempre ressentido por não ter se casado e por viver em um barracão dos fundos no lote da casa da mãe, é um dentre muitos empregados fantasmas da prefeitura. Recebe um salário todos os meses, do qual metade vai para a mulher do prefeito, e a outra metade ele usa para sobreviver, já que nunca foi muito adepto ao esforço e ao trabalho.
Juarez, é o carregador oficial do material de campanha da Dona Jandira. Que logo cedo se dirige à feira para pedir votos ao seu candidato. Não há aquela vivalma que passe por ela sem receber um santinho e ouvir uma ladainha sobre a importância e a honestidade do seu candidato, mesmo que o tal seja publicamente o corrupto  mais desprezível da cidade.
Aos domingos, padre Pedro sofre com a abordagem direta de Dona Jandira aos paroquianos ainda dentro da igreja antes e depois da missa. Por mais que tente argumentar com a velha senhora, o padre sempre escuta da mesma que está em uma missão de deus, e que portanto tem todo o direito de distribuir seus santinhos onde tiver a oportunidade.
A grande maioria das pessoas aceitam o santinho e a escutam por educação aos cabelos brancos da velha senhora. Mas alguns, geralmente seus contemporâneos, se empenham em ferrenhas discussões sobre a qualidade ou a desqualificação dos candidatos. E com isso Dona Jandira encontrou no banco da praça o seu maior e mais perigoso arquinimigo. Seu Antenor.
Seu Antenor é um ex trabalhador da empresa de iluminação publica, ex membro do sindicato da categoria, hoje aposentado aos seus 81 anos e eterno esquerdista. E para ele, esquerda é justamente aquele candidato desgraçado que não tem a mínima chance de ganhar. Na sua visão, este pobre azarão é a representação viva e clara das classes menos favorecidas, e espera que deus lhe conceda mais alguns anos de vida para que possa um dia enxergar por trás das grossas lentes de seus óculos, um legítimo representante do povo assumir o poder para o povo.
Em véspera de campanha, quase que diariamente, o banco da praça que fica embaixo do pé de amendoeira vira o palco das maiores batalhas eleitorais da cidade. De um lado, Dona Jandira defendendo seu candidato que é violentamente atacado pelo Seu Antenor.
Quando a velhinha aponta na rua que morre na praça, o povo já deixa o que está fazendo para ver o bate boca dos cabos eleitorais. A idosa conservadora chega a soltar uma espuma branca no canto da boca de tanto discutir com o velho revolucionário, que em meio a gritos e chingamentos faz uso de sua bombinha respiratória para recuperar o folego perdido. Não foram poucas as ocasiões em que, de tanto gritar, um ou outro, às vezes os dois, chegam a perder a voz.
Mas é no final de semana das eleições que Dona Jandira costuma dar mais trabalho. Principalmente para o Dr. Teodorito, delegado da cidade. Compra de votos, chantagens emocionais e até mesmo pragas e maldições são usadas pela doce senhora em busca do favorecimento de seu candidato. Certa vez, o próprio Dr. Teodorito foi obrigado a intervir, invadindo a casa de Dona Jandira e resgatando o finado Antão Pereira, na época marido de Dona Jandira, que estava amarrado na cama, obra da própria Dona Jandira, porque tinha cismado que o velho iria votar em outro candidato.
Como diz o seu Petrolino, cachaceiro oficial da cidade e violeiro nas horas vagas: "Política no interior é uma festa!"

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O meu Querer e o teu Querer...


Quantas vezes eu já quis.
Quantas vezes eu já me deixei querer.
Então hoje eu descubro que não sabia querer. E certamente talvez ainda não saiba.
Porque o querer é uma arma poderosa e como todo poder, movimenta muitas de nossas energias. A faculdade de querer é capaz de mudar o homem e tudo que o cerca.
Quando eu era mais jovem, alimentei a certeza de que ninguém tem a obrigação de saber o que quer. Mas precisa saber o que não quer. E hoje percebo o quanto eu estava errado. 
Percebo então, que muitos dos meus erros ocorreram por decisões que foram tomadas baseadas em um querer mal direcionado. E o querer equivocado nos leva a sofrer desnecessariamente. A gente perde forças e energias que deveriam ser bem direcionadas, mas acabamos desgastando-as com objetivos tão fúteis, tão mesquinhos.
É como estar diante de um muro e querer atravessá-lo. Gastamos tanta força querendo derrubar o muro no lugar de procurar saltá-lo, contorná-lo, encontrar outra meio de chegar ao outro lado. E esse é o nosso problema. Queremos vencer o muro enquanto deveríamos querer estar do outro lado. Enquanto o muro for nosso foco, o verdadeiro objetivo nunca será atingido, e iremos nos desgastar.
Atualmente eu percebo que o querer próprio, o meu querer... é irrisório, mesquinho, imperceptível aos olhos da vida que na maioria das vezes desconhece de grande parte das minhas aspirações pessoais. Quando não alcançadas então, aí sim ela se torna mais indiferente ao meu sofrer e à minha dor.
Aprender a querer, é voltar minha vontade e meus pensamentos para objetivos maiores, superiores, que me elevem a um estado melhor do que este no qual me encontro.
Sempre que eu busco por coisas boas, coisas grandes, transcendentes, completas, eu elevo minhas intenções ao mesmo nível destes objetivos. Consequentemente, o querer alguém deve seguir os mesmos princípios.
Só então eu percebo o obvio.
Não importa o meu querer ou o seu querer.
O que importa é querer bem.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Contra o mundo


No Trailer:
"Have you ever met someone
you love so much
it hurts?"
Na tela, Scott Pilgrim havia acabado de lutar contra o mundo por alguém, mas outro alguém entrara na sua vida, se mostrando um tanto quanto mais especial.
- Vai atras dela. Você lutou por ela!
- Mas e você?
- Eu vou ficar bem. Na verdade eu descobri que sou legal demais para você...
- ...
- ...
E ele foi...

Eu me levantei e saí do cinema pensando justamente que a vida tem que ser melhor que isso!
 E ele foi

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

E foi assim que eu comecei


Quando nos sentamos confortavelmente na poltrona que fica no jardim ele retirou seu bloco de anotações do bolso e começou a me perguntar de forma bem descontraída:
- E aí? Você joga Paintball desde quando?
- Já faz muito tempo. Muitos anos.
- Profissionalmente?
- Não... profissionalmente eu jogaria se praticasse paintball para viver. Se eu vivesse do paintball. Mas para mim é só um hobby, um esporte, uma diversão.
- Mas você joga com seriedade. Tem time, tem campo, treina... posso dizer que é quase um profissional?
- O mais correto seria dizer que sou um jogador experiente.
- Certo! E por que você começou a jogar paintball?
- Pelo mesmo motivo que a guerra de Tróia começou.
- Fala sério!
- Estou falando sério. Não é brincadeira.
- Então você está me dizendo que começou a jogar paintball por causa de uma mulher?
- É isso aí. Comecei jogar paintball depois que uma mulher me deixou.
- E porque essa mulher te deixou?
- Porque eu comecei a jogar paintball!
- Calma, espera um pouco aí... - disse ele pausadamente, suspirando para não rir - Agora você me deixou sem entender nada.
- Vou te explicar desde o início. Eu era jovem e amava muito uma garota. Ao menos pensava que amava, e por ela eu fazia tudo.Sempre fui muito idiota quando o assunto era relacionamentos sérios. E mais idiota ainda quando eu começava a gostar realmente de uma garota. Até parece que elas sabem que você está gostando muito delas e fazem questão de deixar as coisas mais difíceis. Os bombons e as flores deixam de ser suficientes para agradá-las. Depois de certo tempo, nem mesmo os diamantes conseguem trazer de volta o brilho dos seus olhos. E a vida vai desmoronando, e você vai tentando se agarrar em alguma coisa para seguir em frente.
E naquela época, quando a coisa toda começou a azedar eu conheci os caras do Paintball e comecei a frequentar os campos. Fiz amizades, algumas inimizades também porque todos somos humanos e cometemos erros.
Com isso, deixei de levar tinta no sentido figurado e passei a tomar tinta no sentido literal da expressão.
A cada novo jogo, a cada nova missão, eu saía mais vivo do que tinha entrado. No início eu esquecia dos problemas durante os jogos, depois essa sensação de alegria e complemento foi se prolongando, entre os longos espaços de tempos entre os jogos. E por mais competitivo que eu fosse, ali eu não me importava em vencer ou perder, bastava lutar. Inconscientemente eu criara uma maquete do que é a vida... Uma luta constante. Esforço, dedicação, companheirismo. E essa irmandade que vai se formando, solidificando-se através dos vínculos e dos hematomas foi ficando mais forte do que eu imaginava.
E ela não gostava de competição. Não aceitava competição. Num belo dia de outono ela me colocou contra a parede, e pediu para eu escolher, ou ela ou o paintball.
E é por isso que eu estou aqui, vestido com essa farda, com essa máscara, segurando esse marcador como se este fosse o objeto que vai salvar a minha vida.
Fantasticamente, o paintball é a minha Legião Estrangeira e portanto eu me alistei aqui para me esquecer de um amor não correspondido.
- E a dor passou?
- Não importa... O que importa é que toda vez que eu saio de um jogo, eu tenho a certeza de que estou vivo e que viver vale cada instante quando se vive plenamente e bem.
Ele então ficou um longo tempo em silêncio... olhava para as anotações mas não anotava mais nada. Depois seu olhar se transferiu para o jardim. Mas ele parecia estar olhando para o passado, talvez para o futuro. Então se levantou, veio até mim e me abraçou formalmente. Agradeceu pela entrevista e se foi.
Dias depois, eu o reencontrei. Estava mudado. Vestia uma farda camuflada, segurava um marcador de iniciantes, como quem segura em seus braços seu grande amor. Ele não disse nada, apenas me acenou com a cabeça formalmente.
Não sei dizer ao certo, mas acho que ele parecia feliz.
Como veterano, eu não sorri... apenas disse formalmente:
- Bem vindo ao fronte soldado!
- Para mim é uma honra lutar ao seu lado Senhor... - respondeu-me ele com a voz embaçada.
E os adultos foram brincar de guerra naquele sábado ensolarado.


domingo, 16 de setembro de 2012

E o filme acabou

Estava escuro, e ao fundo Caetano cantava
"Você bem que podia perdoar
E só mais uma vez me aceitar,
Prometo agora vou fazer por onde,
Nunca mais perdê-la"
- Este beijo é o nosso casamento.
- Este beijo foi nossa despedida.
- Não! E a Senhora não sabe que todo filme de amor se acaba em beijo?
- Sei... Mas já ascendeu a luz do cinema... E agora vai começar a minha vida!

Ela deixava a cena enquanto Caetano arrematava ao fundo

"E agora que faço eu da vida sem você
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando me encontrar."

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

MAIS UM FIM

Quando senti o gosto salgado de teu beijo, descobri que havia chorado.
Mas foi teu abraço que te denunciou. Não havia calor, fervor, entrega. Foi mecânico, automático, sem vontade, quase patético.
Ao me desvencilhar de teus braços, eu sabia que estava me afastando para sempre de uma parte boa de minha história.
É quando o "nós" volta a ser dois alguéns.
No começo há o sofrimento, porque sofrer é uma faculdade que ainda não dominamos. E a dor que nos invade parece o anuncio do apocalipse particular.
Espera-se muito de um momento como aquele. Os olhos rasos dágua pediam uma manifestação de minha parte. Mas naquela hora eu não podia dizer sequer algumas palavras de consolo, ou mesmo alguma coisa construtiva. Era hora de ir.
E eu fui. E não olhei para tras.

Psicologia Infantil



Era uma tarde de terça feira e o transito da cidade estava tumultuado. Como de costume eu andava até o local onde havia estacionado o carro. Isso porque tenho o costume de estacionar sempre longe.
No caminho, me deparei com uma cena bem comum nos dias atuais: Uma mulher que segurava uma criança de uns dois anos pela mão, enquanto a criança desabava em uma crise de manha e choro.
O sinal estava aberto, então alcancei aquela dupla que esperava o sinal fechar. Ali do meu lado a criança não parava de gritar e espernear. Quando sentou no chão e começou a agredir a mulher que provavelmente era sua mãe, ela me olhou meio que incomodada ante sua total impotência em lidar com aquela situação.
Fizesse eu uma cara de reprovação, ela ficaria com vergonha e talvez tomasse uma atitude mais drástica, ou iria logo antipatizar com à minha presença. Resolvi então tomar outra postura diante daquela situação. Virei-me para ela e disse em tom de brincadeira, como se quisesse parecer sério:
- Dona! Dá esse menino pra mim?
- Você quer ele? - respondeu imediatamente a mulher entrando na brincadeira - olhe aqui Kayke, que se você não parar de chorar eu vou te dar para esse homem!- disse a mulher para a criança enquanto apontava para mim.
E foi aí então que o tal do Kayke esperneou e gritou bonito. Tudo para chamar atenção.
A mãe então soltou a mão do menino que estava no chão e disse:
- Pega moço! Leva esse menino para o senhor que eu não quero mais saber desse menino chorão.
E o Kayke gritando...
A mãe, mostrando-se uma atriz fenomenal virou a esquina, saindo de nossas vistas e abandonando o tal Kayke, que continuava chorando, enquanto eu me segurava para não rir.
Passados alguns segundos, o moleque levantou do chão e ainda chorando foi até a esquina gritar mais alto para vencer a mãe pelo cansaço. Mas para a minha surpresa a mãe não estava se deixando levar pela a birra do menino. O natural seria que aquela mãe despreparada voltasse logo para consolar o menino que se sentiu abandonado pela mãe. Entretanto, ela foi firme e incisiva e não voltou logo de cara.
E o Kayke chorando...
O Sinal fechara, mas eu, interessado no desenrolar dos acontecimentos, ao invés de atravessar, fiquei olhando o menino que hora olhava para a rua na qual a mãe havia sumido hora olhava para mim.
O tempo passava e a mulher não voltava. Kayke já estava cansando de gritar. Seu choro já se tornava um amontoado de soluços intercalados. A tática estava funcionando. O garoto parou de dar birra. Mas ao contrário do que eu esperava, a mulher não aparecia.
Eu ali, observando o menino na esquina olhando para a outra rua, como se procurasse a mãe, e logo olhava para mim, como se perguntasse com aquele olhar: "onde está minha mãe?"
Minha vontade de sorrir simplesmente sumiu, começando a dar lugar à uma preocupação verdadeira. Corri para a esquina onde estava o garoto, e ao seu lado tentei localizar sua mãe na rua por onde havia saído. Mas nem sinal da mulher.
Algo muito estranho estava acontecendo. Aquela situação havia passado dos limites de uma brincadeira ou de um castigo. A birra do menino virava desespero, e meu senso de humor também ia pelo mesmo caminho.
Automaticamente corri pela rua para ver se via a mulher, mas não a vi. Corri até muito adiante, e nada. Nem sinal.
Quando parei no final da rua que terminava em outra rua que ia para dois lados, olhei para a esquerda e não a vi, para a direita e nada. Voltei-me então e a única coisa que vi foi um menino só e abandonado a soluçar numa esquina do centro da cidade.
Segurei na mão do garoto que prudentemente havia parado de fazer cena. Olhei para aqueles olhinhos assustados cheios de medo e desconfiança. Quis lhe dizer algo tipo: "Calma, vai dar tudo certo" ou "Já já vamos encontrar a sua mãe"
Mas diante das circunstâncias, olhei para o Kayke e disse:
- Algo me diz que agora fodeu!

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O homem de batom

A primeira vez que aconteceu, foi no inverno seco do Brasil, quando seus lábios trincados ardiam.
A aula já havia terminado mas ainda estavam na sala, quando uma colega lhe disse que se passasse batom aquela dor iria passar.
Na hora ele protestou, dizendo que batom era coisa de mulher, e que não teria coragem de sair de batom pela rua.
Ela achou graça e lhe disse que haviam batons discretos, sem cores, e que ninguém iria perceber.
Ainda sob protestos ele se deixou levar pela linda colega que já lhe passava batom sobre seus lábios.
Até hoje ele não entende como, mas quase que imediatamente após usar aquela base em sua boca, imediatamente já estava misturando seu batom ao dela. E por muito tempo aquilo ficou guardado em sua mente, como um dos momentos mais estranhos porém felizes da vida de um jovem adolescente.

A segunda vez, foi no carnaval.

Junto com alguns amigos resolveu se vestir de mulher para sair às ruas bebendo e dançando atrás de um bloco qualquer.
Olhou-se no espelho: Peruca loira que havia sido de uma tia que morreu de câncer; o vestido com motivos florais e a sapatilha confortável ele arrumou com uma prima da mesma altura. Mas parecia que algo faltava. Ele que sempre havia sido tímido, se sentiu confiante em atravessar o hall de entrada e tocar a campainha do apartamento de frente.
Foi quando a vizinha deslumbrante atendeu e rindo daquela cena o convidou para entrar.
Pediu alguns conselhos e ela então disse que faltava a maquiagem.
Ela caprichou no visual, batom sombras, cílios, rímel, entre outras coisas mais.
E durante aquela sessão tudo aconteceu. Borraram a primeira maquiagem, borraram a segunda, e lá pela terceira ou quarta tentativa, decidiram deixar como estava, a final, era carnaval.

A terceira vez, não aconteceu por acaso. Ele tinha uma teoria. Uma teoria incrível que precisava ser testada.
Entrou na loja de departamento e procurou a vendedora mais bela do setor de cosméticos. Na maior cara dura e confiança pediu para experimentar alguns batons. A garota sorriu cordialmente, pensando se tratar apenas de um homossexual comum, e o tratou com toda a normalidade que sua experiência como vendedora já lhe havia ensinado. O que ela não conseguiu explicar ao seu gerente, foi o porquê de estar semi-nua, agarrando-se à um cliente no trocador da loja.


Ele havia comprovado sua teoria. Descobriu que possuía algo especial. Possuía um super poder, melhor que o do homem aranha, superman ou Batman... O poder do boca-loka!

Então Setembro Chegou...

Quando ele acordou naquele dia quente e seco, tentou se levantar da cama, mas o lençol estava grudado em seu rosto, por causa do suor ou de lágrimas. Não sabia ao certo. Não lembrava de ter chorado. Então, provavelmente não eram lágrimas.
Mas porque em seu peito sentia tanto alívio como se tivesse se livrado de tantas angústias?
Não sabia.
Até aquele momento ele não sabia que já era setembro. Dia primeiro de setembro.
Talvez porque ele já estivesse preparado para toda a carga que a vida lhe impunha todos os anos nesta mesma época.
Talvez porque já estivera esperando por era, e havia se preparado.
Talvez tivesse apenas se esquecido.
Livrou-se dos lençóis, colocou-se de pé e quando menos esperou estava em frente ao espelho. E ali à sua frente estava alguém que não reconheceu.
Uma linha muita tênue separa o sucesso do fracasso. E naquela época do ano, ele não sabia de que lado se encontrava.
Respirou fundo e se aprontou para os dias mais amarelos daquela época do ano.


domingo, 26 de agosto de 2012


Já há algum tempo eu tenho observado algumas mudanças.
Antigamente o telefone sempre tocava e eu ficava muito feliz ao saber que era alguém muito especial do outro lado da linha.
Depois de um certo tempo, ele já não tocava com frequência, e eu passei a ligar para as pessoas especiais, mais do que recebia ligações.
Então ele deixou de tocar. E eu ficava esperando ligações de alguém especial.
O tempo passa, as coisas mudam...
Hoje não espero ninguém ligar. Talvez por não ter mais ninguém especial para me telefonar. Talvez, por não ser mais especial para ninguém.

E foi com este pensamento que eu atendi esta ligação:
- Pronto!
- Oi amorrrr!
- Quem fala?
- Uai? Você não sabe quem está falando?
- Sinceramente não! A ligação não está muito boa, não estou reconhecendo a voz. Mas quem fala?
- Advinha!
- Prefiro nem tentar...
- Ah não! Você está muito chato hoje! Mas já sei do que você precisa.
- Do que?
- De mim!
- (suspiro)... ééé...
- Mas eu estou te ligando para te desejar feliz aniversário. Que jesus te abençoe e que todos os seus sonhos se realizem.
- Obrigado. Muito obrigado por ter ligado.
- Vamos fazer alguma coisa mais tarde? Se você for sair para comemorar, me liga! Quero te ver.
- Tudo bem. Depois te ligo.
- Tá bom então. Um beijo e me liga!
- Beijo.
...
Alguma coisa está muito errada nesta história. Agora eu nem sei quem está telefonando...

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

AMANHÃ É 23



Hoje é o dia para se ouvir essa música...
Na verdade, essa música nunca fez tanto sentido quanto faz hoje.
Nada melhor que o tempo para cuidar de nossas feridas.
Nada melhor que a vida para nos ensinar através de nossos proprios erros.
Nada melhor que a esperança para nos dar forças para seguir adiante.
 

As entradas do meu rosto
E os meus cabelos brancos
Aparecem a cada ano
No final de um mês de Agosto...
Há vinte anos você nasceu
Ainda guardo um retrato antigo
Mas agora que você cresceu
Não se parece nada comigo...
Esse seu ar de tristeza
Alimenta a minha dor
Tua pose de princesa
De onde você tirou...
Amanhã! Amanhã!
Amanhã! Amanhã!...
Amanhã é 23
São 8 dias para o fim do mês
Faz tanto tempo
Que eu não te vejo
Queria o seu beijo
Outra vez...

E o que mais me impressiona é o fato de ainda carregar este sorriso no rosto...

terça-feira, 21 de agosto de 2012

A Triste História da Garota que não Sabia Amar



Aquela era a ultima livraria da cidade. Era também minha ultima esperança de encontrar o livro com o qual eu queria presenteá-la. E ao entrar, sem rodeios fui direto ao balcão e perguntei para o vendedor:
- Boa tarde, você tem o Livro “O pequeno príncipe”?
- Boa tarde. Um minuto que vou consultar no sistema – após alguns instantes ele prosseguiu – Tenho sim. Só tem um volume que deve estar no mostruário. Ali naquela prateleira.
De longe eu avistei o livro que eu tanto procurava. Mas, ao lado da prateleira havia uma senhora de mais idade. E quando eu alcancei o livro, ela, também o alcançou, e nós dois, praticamente seguramos o livro ao mesmo tempo.
Nós nos olhamos surpresos. Por educação, e respeito à sua idade avançada e aos seus cabelos brancos, eu soltei o livro, deixando que ela o namorasse.
- Acho que queremos o mesmo livro. - falei com um sorriso simpático.
- Deve ter outro por aqui, não é mesmo? - Ela me perguntou sorrindo enquanto olhava para a prateleira.
- Não, este é o ultimo. O vendedor já consultou no sistema. - eu disse meio desapontado - Eu já estive em todas as livrarias. Este parece ser o ultimo livro da cidade.
- Mas você poderá pedi-lo por encomenda. Leva no máximo sete dias para chegar.
- É um presente para uma pessoa especial, que faz aniversário nesta semana. Não daria tempo.
- Já eu, o quero para minha neta. Fernanda. Ela faz aniversário na quarta feira dia 28 de setembro. Fará sete aninhos.
- Nossa! - Falei surpreso - a minha aniversariante também faz aniversário no mesmo dia. Só que ela vai completar 20 anos.
- Como ela se chama?
- Amanda, disse eu .
- Amanda e Fernanda... Manda e Nanda. - ela fez essa comparação e sorriu com tanto carinho que eu percebi que não poderia argumentar mais para ficar com aquele livro. - É a sua namorada?
- Não. Ainda não. Mas em breve vai ser. - falei animado.
- Porque iria presenteá-la com este livro?
- Eu gosto dela. Ela já me “cativou”. Mas ela ainda tem muito que aprender sobre o amor. Ela me disse que não conhece a historia deste livro.
- Ela tem 20 anos e não conhece a história do Pequeno Príncipe? Então, ela praticamente não sabe amar. Meu Deus! - disse me entregando o livro - Acho que sua Manda precisa mais deste livro do que a minha Nanda. A minha ainda tem muito tempo para aprender a amar. E se a sua está deixando um rapaz como você solto por aí, está perdendo tempo. - falou com uma expressão de quem estava se esforçando para fazer cara de brava.
Olhei para o livro e logo após olhei para ela. Meu olhar já dizia “obrigado”, e ela respondeu com piscadinha matreira como se dissesse “de nada”.
Fui para o caixa, mas fiquei observando aquela senhora andar por entre as prateleiras, a procura de um novo presente para sua netinha. Olhei em volta e vi um bichinho de pelúcia. Comprei o livro e acabei comprando este ursinho também. Fui até aquela senhora, e entreguei o ursinho dizendo:
- A senhora acabou me dando o presente para a minha Manda, e achei que deveria dar um presente para sua Nanda.
Ela recebeu o ursinho, olhou bem para ele, e depois me olhou emocionada dizendo:
- Ora! Mas você é mesmo um príncipe! Mande meus votos de feliz aniversário para sua Manda. Espero que o livro os ajude.
Saí da loja com a sensação de que recebi recebi o presente de um anjo em forma de uma vovó. Carregando o livro abraçado ao peito refleti no quanto essas coisas simples e inesperadas tornam a vida tão bela.
A piada de tudo isso é que Amanda se foi, e nunca leu aquele livro...

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Vice


Não sei porque...
De uma hora para outra os morangos perderam o sabor.
Os bombons de trufas deixaram de me dar prazer.
De um instante para outro eu tenho me esquivado dos abraços.
A verdade é que a carência de vitórias tem me tornado um especialista em derrotas.
Sempre ouço falar "Tem que saber perder, tem que aprender a perder?" Acho que fiz todas as lições com mérito.
E ultimamente estou dando uma roupagem toda especial para as derrotas. Tenho ouvido muitos especialistas me parabenizarem:
"Você está saindo, mas está saindo por cima"
"Perdeu com honra"
"Caiu com dignidade"
"Lutou bem"
"Quaaaaase!!!"
A ultima foi campeã, acho que foi um verdadeiro reconhecimento, o meu diploma, e estou seriamente pensando em emoldura-lo.: "Você perdeu com classe e com muita desenvoltura... pensei até que tinha ganhado!"
E quando olho no espelho ainda vejo um sorriso no meu rosto...

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Carta para uma amiga triste


Nada melhor que um dia após o outro...
O sofrimento é inevitável, é uma das faculdades de nossa sensibilidade. Através do sofrimento nos moldamos para viver a vida.
E a vida é assim... Tal qual uma gangorra. Uma hora estamos lá em cima, sentindo o vento, vendo as flores, nos braços da felicidade. Quase que instantaneamente, nos surpreendemos quando descobrimos estar lá embaixo, próximo
de tudo o que rasteja e conspira na face da terra. O que esquecemos é que a vida é assim, logo estaremos em cima novamente, e temos que estar preparados para descer.
Na vida ... não importa estar por cima ou por baixo. O importante é estar em constante movimento. Aprendendo com cada beijo e com cada pancada. Sempre com um sorriso no rosto.
Porque a vida só sorri por retribuição ao sorriso que lhe damos.
É claro que as lágrimas também são importantes, somos humanos, precisamos expressar nossa dor. Mas elas precisam ser secadas o quanto antes para dar lugar ao sorriso.
A vida não sente piedade de ninguém.
Piedade tem o mesmo peso da vergonha e do medo.
Por maior que seja a nossa dor, o mundo à nossa volta sempre irá desconhece-la. Pois com o tempo descobrimos que diante do mundo, nós com nossos egoísmos e preocupações mesquinhas e individuais, somos insignificantes.
Só nos tornamos grandes quando agimos em prol de outras pessoas, pelo conjunto, pelo coletivo, da humanidade.
Temos que nos tornar pessoas melhores, não para nós mesmos, ou para uma pessoa especial. Mas para fazermos o bem para aqueles que estão ao nosso lado. Quando evoluímos como seres humanos, fazemos da humanidade um lugar melhor. Nossas maiores dificuldades só podem ser vencidas por nós mesmos.
A piedade não te faz mais forte, mas te torna mais frágil e propensa a desistência.
Após cada segundo, cada minuto, dia mês e ano, a gente vai descobrindo que não há nada melhor que um dia após o outro.
E a cada dia nos tornamos mais sábios, mais fortes e mais humanos.
Por que ser um ser humano é algo incrível. É ser um pedaço de Deus sobre a terra.
Você vai ficar bem. E um dia vai rir de tudo isso.
Beijos

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Mil Pedaços

Engraçado como algumas coisas capazes de nos fazer feliz, de uma hora para outra adquirem a condição de nos entristecer.
Interessante como alguns sonhos se tornam pesadelos depois que acordamos.


Existem sensações que doem mais que a própria dor.
Há momentos em que as palavras somem... Por sorte algumas músicas já existem para dizer tudo!

terça-feira, 24 de julho de 2012

Licor de Cassis e outros sabores

Era uma tarde de domingo, e estávamos em um Shopping da cidade.

Logo na chegada, dois amigos me chamaram para ver uma garota. Era ela linda como tudo o que é jovem costuma ser. Seus negros cabelos pendiam em duas tranças, os olhos redondos e espertos brilhavam como duas gemas, sorriso contagiante, um corpo esculturalmente bem colocado em um vestidinho preto que acentuava as pernas mais lindas que eu já vira em uma meia calça preta. E aparentemente não passava dos 14 anos de idade, principalmente porque as amigas que a acompanhavam pareciam ser ainda mais jovens.

Briguei com meus amigos. Disse a eles que ela era quase uma criança. E em tom de censura lhes disse que se colocassem em seus lugares. Todos já tínhamos mais de 20 anos, e não era certo flertar com uma criança. Lembro-me de dizer que havia o errado, o muito errado e depois isso.
Naquele dia assistíamos algumas apresentações de dança do ventre em uma feira árabe. E meus amigos babavam nas odaliscas que se achavam. Ao final de cada apresentação eu ficava rindo dos caras abordando as dançarinas para ver se conseguiam alguma atenção. Elas que já estavam com a vaidade à mil, se imaginavam as senhoras do destino e esnobavam cada rapaz na sua forma particular.
Eu ria de tudo aquilo. Dos foras, das tiradas, de cada tentativa mal sucedida. O pouco que eu já sabia da vida, tinha certeza de que toda e qualquer investida daquela forma não daria em nada. Por isso, quando a situação passou do cômico ao deprimente resolvi sair.
Saí da feira e fui até uma revistaria que ficava nocentro do shopping. Para minha surpresa, a garotinha de tranças estava do meu lado olhando uma revista de culinária japonesa.
Instintivamente eu sorri para ela, que me devolveu o sorriso. Automaticamente soltei um "oi".
E em resposta, seu "oi" veio seguido de uma pergunta: "você também gosta de comida japonesa, não gosta?"
- Sim eu gosto.- respondi - como você sabe?
- Eu logo imaginei por causa da sua camiseta. - eu vestia uma camiseta com um ideograma japonês - o que significa esse símbolo?
- É o nome da minha academia de karatê em japonês - respondi, achando graça da percepção da garotinha.
E ficamos ali conversando mais um pouco.
E em determinado momento da conversa, ela muito atenta, reparou que eu conversava com ela como se conversasse com uma criança.
- Quantos anos você acha que eu tenho?- ela me perguntou.
Pensei um pouco, porque para agrada-la eu iria mentir a idade. Mulheres são criaturas interessantes. Quando são novas, adoram se passar por mais velhas, e quando mais velhas adoram quando dizemos que tem menos idade do que aparenta.- 16 - respondi, imaginando que ela teria uns 14 anos.
- Você errou! - disse ela sorrindo - Eu tenho 18 anos!
Meu silêncio instantâneo, somado à minha expressão de susto e surpresa, fez com que ela se divertisse mais ainda. Então ela maldosamente disse:
- Na minha idade eu já posso fazer muita coisa...
Eu sempre fui rápido em perceber o perigo, e naquele instante eu percebi que a partir daquele ponto minha vida nunca mais seria a mesma.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Antes da chuva

Eis que mais um dia se vai.
Foi só mais um dia. Mas a cada dia parece passar mais rápido.
Ela me disse que se sentia só, e por isso eu vim. Não que minha companhia pudesse aplacar sua solidão. Mas perto dela eu também não estava só. Por isso fiquei. E com o tempo fui ficando. E quando vi, já não podia mais sair.
Saio de casa sem muita animação. Acendo um cigarro não por vontade, mas por força do hábito.
Vícios que a inconsciência alimenta a cada dia com cada decisão incorreta.
Um carro canta os pneus ao dobrar a esquina, não consegue fazer a curva e atinge o poste.
Corro alguns metros e paro. Fico olhando a cena até que o motorista sai do veículo. Cambaleia um pouco e diz que está tudo bem. Então me viro e vou embora. O socorro já vem. E eu já vou.
Não existem borboletas pelos caminhos em que passo.
Não existem flores nos caminhos em que ando.
Não pode haver sentido em uma vida sem sentido.
Acho que a maioria das pessoas só vivem porque tem medo de morrer...
... Eu não tenho medo de morrer e ainda vivo...
... a vida é um mistério.
Apresso o passo porque vai começar a chover

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Passo a Passo

Então a chuva passou.
Deixei o abrigo precário com teto de palha e fui caminhando em direção à estrada
Ao meu redor, encontro um mundo de poças, lama e água que desce continuamente em uma enxurrada constante.
Meus pés descalços no começo tentam evitar a água. Mas logo cada passo desafia o oceano enlameado.
Sigo em frente por uma estrada desconhecida.
Passos firmes, pés molhados e um olhar mais adiante.
Quem conhece o chão e acaba de se levantar, não tem medo de escorregar.