Um belo dia Marcos Antônio acordou. Vestiu sua roupa casual. Bebeu apenas um copo de água e desceu as escadas do velho condomínio aonde morava com sua avó.
Caminhou pela calçada tão sua conhecida, desviando das poças que a chuva noturna deixara para transformar sua caminhada em uma verdadeira amarelinha.
Ao passar diante de uma loja de instrumentos musicais que ficava a duas quadras de sua casa, ele parou. Ficou assim embestecido a contemplar um violão preto escorado em um banquinho no interior da loja. Seu olhar paralisou diante daquelas cordas brilhantes. E passados alguns minutos ele entrou.
Entrou sem pedir licença, como se estivesse em casa. Tomou o violão em seus braços e sentou-se sem cerimônias aconchegando o instrumento em sua perna cruzada, em uma posição que faria inveja a qualquer profissional da musica.
... e então seus dedos começaram a se movimentar, e uma melodia encheu toda a loja tal qual o cheiro de uma comida deliciosa em um ambiente de famintos. Pessoas paravam na rua, desciam dos carros e entravam no recinto para ouvir aquele concerto gratuito em plena manha de sábado. Um misto de sentimentos tomava conta dos presentes, velhos sorriam, jovens choravam. Uma senhora de olhos fechados, levou as mãos ao peito para tentar aplacar as batidas de seu coração que teimava em fazer a percussão acompanhando o dedilhar naquelas cordas.
O violão cantava em suas mãos, e tal qual um canto de sereia aquela melodia se espalhava e atraía pessoas que esquecidas de suas vidas tão difíceis se deixaram por um instante sentir algo próximo do que chamam de felicidade.
Quarenta e cinco minutos e alguns segundos se passaram quando ele parou de tocar. Levantou seus olhos e deparou-se com aquelas pessoas apinhadas se espremendo em busca de um lugar para ver o show. Estendeu o braço na direção de um homem e ganhou um cigarro que lhe acenderam automaticamente. Tragou e soltou a fumaça pelo ar daquela loja lotada.
Uma senhora puxou as palmas que liberaram uma infinidade de sorrisos naqueles rostos tão endurecidos pela vida árdua e fria da grande cidade de concreto e vidro.
Só Marcos Antônio não sorriu.
Levantou-se e foi caminhando para fora abrindo espaço por entre as pessoas que ainda batiam palmas emocionadas, sem perceberem que o músico estava deixando o ambiente.
Já lá fora, olhou mais uma vez para a loja ainda lotada e seguiu caminhando pelo lado esquerdo da rua, onde a calçada parecia estar mais seca. Ledo engano... em um instante de distração uma poça funda lhe molhou até as meias.
Passado alguns instantes Marcos Antônio parou de uma vez. Intrigado... Nunca tinha feito aquilo antes em toda sua vida. Naquele momento, a vontade tomou conta de seu íntimo, e ele realizou aquele desejo nunca antes sentido.
Marcos Antônio nunca tinha fumado em sua vida.
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