Eu quase me esqueci do nome dele.
Mas quando pensei em escrever sua história, as lembranças daquele tempo foram se aflorando de tal forma que até parece que foi ontem.
O nome dele era Reginaldo mas nós o chamávamos de Reginho.
Ele era bem mais novo do que qualquer um da turma. Entenda-se como turma, o conjunto de meninos e meninas que moravam naquela rua, na idade entre 7 a 10 anos.
Mas o Reginho era bem mais novo, tinha no máximo seus 4 anos.
Um fedelho que não andava com a gente. Primeiro por conta da idade, segundo porque a D. Socorro, sua mãe, não deixava.
Era uma mulher, como diria minha amiga fenix, um tanto peculiar. Super protetora - ao seu modo - e seletiva. Extremamente seletiva. Reginaldo, como ela exigia que o chamassem, não deveria andar com os outros meninos da rua.
Arrogante e esnobe, D. Socorro nunca perdia a pose. Até quando o marido a deixou por uma garota mais jovem, e certamente menos peculiar, ela sustentava a versão de que ele viajava a serviço no exterior, mostrando para as amigas - amigas não, porque isso ela não tinha - mostrando para as vizinhas cartões postais de lugares de todo o mundo, mas que não tinham carimbo dos correios.
Até quando as contas apertaram e ela teve que vender o carro, disse a todos que iria trocar o carro velho por um modelo italiano que o marido estava para lhe mandar.
Mas para o azar do Reginho ela comprou uma bicicleta.
Era cena recorrente e comum ver D Socorro descer a ladeira em sua bicicleta com Reginho na garupa. E não tinha um dia em que Reginho não despencasse da maldita bicicleta durante o percurso pelo menos uma vez.
Parte era por culpa da D. Socorro que escolhia sempre o pior lugar da rua para conduzir a bicicleta, parte era culpa da prefeitura que não melhorava a qualidade do asfalto, e parte culpa do Reginho que, por ser pequeno, não conseguia se segurar bem na cintura de sua mãe. Este fato, jogava a culpa novamente na mãe de Reginaldo, que além de não utilizar uma cadeirinha com cinto de segurança, era possuidora de uma cintura extravagantemente avantajada.
Muitas vezes, parávamos as brincadeiras para socorrer o Reginho quando este despencava logo no inicio da jornada. Ficávamos com ele, até D. Socorro dar falta da presença do filho na garupa da bicicleta, o que geralmente acontecia somente na volta do passeio matinal.
Também era normal ver o Reginho a chegar sozinho em casa, todo arranhado e sujo quando acontecia de conseguir se segurar por um tempo maior. Por isso, hoje eu imagino que aquele garoto naquela época não ainda era esperto, conseguia voltar sozinho para casa, e que só ficou assim meio tan-tan por causa daquelas quedas.
Geralmente, algum transeunte mais solidário, gritava para a D. Socorro quando via Reginho se esborrachar nas ruas de asfalto quente e irregular de nosso bairro. Ela, de forma ainda mais peculiar gritava com Reginho a lhe censurar, e não raramente ainda sobrava para o pobre do cristão que tentava ajudar.
Situações tão absurdas acabam se tornando normais quando passam a fazer parte de nossas rotinas.
Mas como diz o ditado: o que não nos mata, fortalece. E entre meios fios, calçadas e buracos no asfalto, Reginho cresceu forte e tenaz.
Como dizia o Seu Alfredo, o velho baiano da casa da esquina: "Eita que esse Reginho quando vai ao solo chega quica!"
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