sexta-feira, 1 de julho de 2011

ESQUECIMENTO


Todos os dias que por ali passo eu o vejo.

Sentado em uma velha cadeira. Talvez o único objeto que ainda guardava a mesma idade que ele mesmo.

Sentado na porta de sua casa, ele pacientemente via o mundo passar.

Haviam se passado quase cem anos desde que aquele ser veio ao mundo.

E o mundo mudara muito durante todo este tempo.

Seu conceito de vida, veio decorado das cartilhas da alfabetização: "O ser vivo é aquele que nasce, cresce, reproduz e morre."

Ele havia nascido. Sequer atingiu uma estatura razoavel, em fim, quase mediocre. Mas cresceu. Sabia da existência de um filho, ou uma filha. Nunca soube ao certo.Assim, faltava-lhe apenas a morte para que sua existencia fosse completa. Mas a morte não chegava.

Viveu em dois séculos, e atravessou um milênio. Sentiu medo que o mundo acabasse naquela data profética. Não sabia porque, mas o medo veio vindo, e vindo... e como veio se foi, ao raiar do novo dia.

Presenciou duas grandes guerras e, daquela cadeira, viu valentes e valorosos darem suas vidas por seus ideais.

Durante toda a sua "vida" o mundo mudou. Ouvia o rádio assiduamente quanto jovem. Assistiu a televisão. E por fim, até sabia da existência da internet, mas nunca procurou saber nada a este respeito. Não havia interesse em qualquer outra novidade.

"Viveu" um dia após o outro, sem grandes ambições. Levando a vida e deixando que a vida o levasse. Trabalhou muitos anos na mesma ocupação, a qual aprendeu quando jovem e nunca abandonou seu oficio. Nenhum outro conhecimento o interessava.

Seu corpo, vai se decompondo com o tempo.

Sua existência em breve será esquecida.

Nada nem ninguém herdará seu nome que será esquecido nos velhos arquivos de alguma repartição burocrática.

Mas ele ainda está "vivo".

Passo em frente àquele velho "homem" todos os dias. E ao vê-lo sentado em sua velha cadeira, sinto medo.

Medo de que eu me perca em algum momento da minha vida, e minha existência se torne tão cinza, tão morna, tão irrelevante.

A ponto de ser desprezado pela própria morte.



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