terça-feira, 16 de agosto de 2011

O que procuras?


A cansativa jornada havia chegado ao fim.
Finalmente eu estava diante dos portais do lendário Templo. O sonho tão idealizado agora seria realizado.
Restava apenas vencer as escadarias que levavam aos portais. E de degrau em degrau eu fui relembrando minha existência e minhas lutas.
Cheguei diante da entrada, e não precisei me anunciar. Ali estava a antológica figura do ultimo cavaleiro a guardar o portão. Ele não me atacou, como seria de se esperar. Também, não poderia. Sua imagem era a de um homem, não tão velho, porém já muito cansado. A espessa barba já grisalha, junto com o capuz da malha de cota, praticamente escondiam aquele rosto que já lutara tantas batalhas épicas.
O guardião parecia me esperar há anos. Anos que eu andei ao leu, por estradas estranhas e sinuosas que não me levaram a lugar algum.
- Demorastes a chegar! - foram as primeiras palavras que me disse.
- Cheguei a pensar que não viria. Mas cheguei.- respondi.
Ele estava de pé, escorado em sua velha espada. A visão daquela arma, me fez recordar de uma outra, e quase instintivamente eu perguntei:
- O Senhor realmente a jogou nas águas profundas?
- Sim! Ela jamais poderia ser empunhada novamente por outro que não o herdeiro do Pendragon. E a sua linhagem já se extinguiu a muitas eras.
- É uma pena. Poderíamos estar vivendo em dias melhores. - lamentei quase em um suspiro.
Impassível ele me perguntou.
- Vieste pelo Grau?
- Não... A vida eterna não faria muito sentido para um homem comum.
- Vieste pelos Tesouros?
- Não... Eu não teria onde guarda-los, e não faria uso deles em minha vida.
- Vieste então pela glória?
- Não... Prefiro viver meus dias discretamente.
- Então ... sua chegada me intrigas. O que procuras, jovem cavaleiro? O que lhe trouxe até aqui? O que fora capaz de fazê-lo passar por todos os obstáculos até os portões da realidade?
- Eu procuro a simpatia. Procuro a simpatia de um sorriso. A simpatia de um olhar. Procuro a simpatia honesta e sincera que acorda pela manhã e se deita com a noite. A simpatia natural que aplaca o coração da mais terrivel das feras. A simpatia comedida que faz com procuremos sempre mais, e mais... e sempre a encontremos. A simpatia simples, que reflete a beleza mais pura e simples existente entre as criaturas divinas.
A simpatia que abre portas e derruba muros. A simpatia que finda guerras e reune corações há muito afastados. Eu procuro apenas a simpatia... e nada mais.
- ...
Então após um momento de silêncio, Percival esboçou um único sorriso por tras da branca barba.
- E se não a encontrar aqui? - perguntou-me ele como se desculpasse por algo que pudesse oferecer.
- Então seguirei meu caminho, até encontrar.
Ele então me sorriu um sorriso triste, e virando-se desapareceu por entre as brunas do templo.
Me retirei. Em silêncio. E como disse, segui o meu caminho.

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