quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Medo

Eu andava por uma rua escura, em uma parte velha da cidade. Ainda me lembro que a noite estava quente e que as grandes construções não deixavam o vento refrescar as vidas vazias que por aquelas ruas trasitavam.
Logo cheguei ao lugar. Um antigo galpão abandonado, cujas janelas e portas haviam sido lacradas com tijolos ainda no tempo em que eu nem era nascido. Por fora, além das pixações e cartazes, uma única entrada se fazia aparecer na figura de uma porta de aço cercada de pessoas estranhas como eu, que buscavam na noite escura um acalando que o dia não fora capaz de ofertar.
Rapidamente eu entrava e me juntava no sub mundo do punk rock paulistano.
Naquela noite em especial, uma banda chamada Cólera, tocava uma música chamada MEDO
E foi justamente enquanto tocava essa música, que eu a vi pela primeira vez.

Uma garota típica, dona de uma beleza muito discreta capaz de faze-la passar desapercebida por entre os corpos suados que se trombavam ao som frenético da música gritada pelo vocal.
Eu não a teria visto, não teria sequer reparado em sua presença, não fossem aquele par de olhos.
Eles não eram azuis. E também não eram verdes. Eram olhos vivos.
Num primeiro momento ela me olhou diretamente, depois como por instinto, virou o rosto disfarçando. Mas foi quando seus olhos a traíram. Eram olhos vivos, inquietos, capazes de dizer tudo sobre ela, sem a necessidade de uma palavra sequer.
Fiquei ali olhando, sem dizer nada. Observando-a ser traída por aqueles olhos vivos.
Em meio a toda aquela sujeira e escória. Eles me diziam que ela não era daquele lugar.
E logo quando percebeu que estava sendo observada ela saíu, e eu a segui.
Era tarde, quando ela conseguiu chegar na porta de saída enquanto alguns condenados tentavam entrar. Não fosse o tumulto, teríamos saído juntos, mas ela saiu na minha frente. Olhei ao redor e vi uma silhueta que fazia lembrar sua figura virando uma esquina escura. Parecia ter olhado para tras, observando se eu já tinha saído.
Sem pensar duas vezes eu me atirei na escuridão da noite em busca daquele vulto. Meu coração batia mais alto que a música que atravessando as paredes de velhos tijolos dizia:

"Às vezes tenho medo
Às vezes sinto minha mão
Presa pelo ar
E quando eu olho em volta
Encontro uma multidão
Presa pelo ar."

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