quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O meu Querer e o teu Querer...


Quantas vezes eu já quis.
Quantas vezes eu já me deixei querer.
Então hoje eu descubro que não sabia querer. E certamente talvez ainda não saiba.
Porque o querer é uma arma poderosa e como todo poder, movimenta muitas de nossas energias. A faculdade de querer é capaz de mudar o homem e tudo que o cerca.
Quando eu era mais jovem, alimentei a certeza de que ninguém tem a obrigação de saber o que quer. Mas precisa saber o que não quer. E hoje percebo o quanto eu estava errado. 
Percebo então, que muitos dos meus erros ocorreram por decisões que foram tomadas baseadas em um querer mal direcionado. E o querer equivocado nos leva a sofrer desnecessariamente. A gente perde forças e energias que deveriam ser bem direcionadas, mas acabamos desgastando-as com objetivos tão fúteis, tão mesquinhos.
É como estar diante de um muro e querer atravessá-lo. Gastamos tanta força querendo derrubar o muro no lugar de procurar saltá-lo, contorná-lo, encontrar outra meio de chegar ao outro lado. E esse é o nosso problema. Queremos vencer o muro enquanto deveríamos querer estar do outro lado. Enquanto o muro for nosso foco, o verdadeiro objetivo nunca será atingido, e iremos nos desgastar.
Atualmente eu percebo que o querer próprio, o meu querer... é irrisório, mesquinho, imperceptível aos olhos da vida que na maioria das vezes desconhece de grande parte das minhas aspirações pessoais. Quando não alcançadas então, aí sim ela se torna mais indiferente ao meu sofrer e à minha dor.
Aprender a querer, é voltar minha vontade e meus pensamentos para objetivos maiores, superiores, que me elevem a um estado melhor do que este no qual me encontro.
Sempre que eu busco por coisas boas, coisas grandes, transcendentes, completas, eu elevo minhas intenções ao mesmo nível destes objetivos. Consequentemente, o querer alguém deve seguir os mesmos princípios.
Só então eu percebo o obvio.
Não importa o meu querer ou o seu querer.
O que importa é querer bem.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Contra o mundo


No Trailer:
"Have you ever met someone
you love so much
it hurts?"
Na tela, Scott Pilgrim havia acabado de lutar contra o mundo por alguém, mas outro alguém entrara na sua vida, se mostrando um tanto quanto mais especial.
- Vai atras dela. Você lutou por ela!
- Mas e você?
- Eu vou ficar bem. Na verdade eu descobri que sou legal demais para você...
- ...
- ...
E ele foi...

Eu me levantei e saí do cinema pensando justamente que a vida tem que ser melhor que isso!
 E ele foi

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

E foi assim que eu comecei


Quando nos sentamos confortavelmente na poltrona que fica no jardim ele retirou seu bloco de anotações do bolso e começou a me perguntar de forma bem descontraída:
- E aí? Você joga Paintball desde quando?
- Já faz muito tempo. Muitos anos.
- Profissionalmente?
- Não... profissionalmente eu jogaria se praticasse paintball para viver. Se eu vivesse do paintball. Mas para mim é só um hobby, um esporte, uma diversão.
- Mas você joga com seriedade. Tem time, tem campo, treina... posso dizer que é quase um profissional?
- O mais correto seria dizer que sou um jogador experiente.
- Certo! E por que você começou a jogar paintball?
- Pelo mesmo motivo que a guerra de Tróia começou.
- Fala sério!
- Estou falando sério. Não é brincadeira.
- Então você está me dizendo que começou a jogar paintball por causa de uma mulher?
- É isso aí. Comecei jogar paintball depois que uma mulher me deixou.
- E porque essa mulher te deixou?
- Porque eu comecei a jogar paintball!
- Calma, espera um pouco aí... - disse ele pausadamente, suspirando para não rir - Agora você me deixou sem entender nada.
- Vou te explicar desde o início. Eu era jovem e amava muito uma garota. Ao menos pensava que amava, e por ela eu fazia tudo.Sempre fui muito idiota quando o assunto era relacionamentos sérios. E mais idiota ainda quando eu começava a gostar realmente de uma garota. Até parece que elas sabem que você está gostando muito delas e fazem questão de deixar as coisas mais difíceis. Os bombons e as flores deixam de ser suficientes para agradá-las. Depois de certo tempo, nem mesmo os diamantes conseguem trazer de volta o brilho dos seus olhos. E a vida vai desmoronando, e você vai tentando se agarrar em alguma coisa para seguir em frente.
E naquela época, quando a coisa toda começou a azedar eu conheci os caras do Paintball e comecei a frequentar os campos. Fiz amizades, algumas inimizades também porque todos somos humanos e cometemos erros.
Com isso, deixei de levar tinta no sentido figurado e passei a tomar tinta no sentido literal da expressão.
A cada novo jogo, a cada nova missão, eu saía mais vivo do que tinha entrado. No início eu esquecia dos problemas durante os jogos, depois essa sensação de alegria e complemento foi se prolongando, entre os longos espaços de tempos entre os jogos. E por mais competitivo que eu fosse, ali eu não me importava em vencer ou perder, bastava lutar. Inconscientemente eu criara uma maquete do que é a vida... Uma luta constante. Esforço, dedicação, companheirismo. E essa irmandade que vai se formando, solidificando-se através dos vínculos e dos hematomas foi ficando mais forte do que eu imaginava.
E ela não gostava de competição. Não aceitava competição. Num belo dia de outono ela me colocou contra a parede, e pediu para eu escolher, ou ela ou o paintball.
E é por isso que eu estou aqui, vestido com essa farda, com essa máscara, segurando esse marcador como se este fosse o objeto que vai salvar a minha vida.
Fantasticamente, o paintball é a minha Legião Estrangeira e portanto eu me alistei aqui para me esquecer de um amor não correspondido.
- E a dor passou?
- Não importa... O que importa é que toda vez que eu saio de um jogo, eu tenho a certeza de que estou vivo e que viver vale cada instante quando se vive plenamente e bem.
Ele então ficou um longo tempo em silêncio... olhava para as anotações mas não anotava mais nada. Depois seu olhar se transferiu para o jardim. Mas ele parecia estar olhando para o passado, talvez para o futuro. Então se levantou, veio até mim e me abraçou formalmente. Agradeceu pela entrevista e se foi.
Dias depois, eu o reencontrei. Estava mudado. Vestia uma farda camuflada, segurava um marcador de iniciantes, como quem segura em seus braços seu grande amor. Ele não disse nada, apenas me acenou com a cabeça formalmente.
Não sei dizer ao certo, mas acho que ele parecia feliz.
Como veterano, eu não sorri... apenas disse formalmente:
- Bem vindo ao fronte soldado!
- Para mim é uma honra lutar ao seu lado Senhor... - respondeu-me ele com a voz embaçada.
E os adultos foram brincar de guerra naquele sábado ensolarado.


domingo, 16 de setembro de 2012

E o filme acabou

Estava escuro, e ao fundo Caetano cantava
"Você bem que podia perdoar
E só mais uma vez me aceitar,
Prometo agora vou fazer por onde,
Nunca mais perdê-la"
- Este beijo é o nosso casamento.
- Este beijo foi nossa despedida.
- Não! E a Senhora não sabe que todo filme de amor se acaba em beijo?
- Sei... Mas já ascendeu a luz do cinema... E agora vai começar a minha vida!

Ela deixava a cena enquanto Caetano arrematava ao fundo

"E agora que faço eu da vida sem você
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando me encontrar."

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

MAIS UM FIM

Quando senti o gosto salgado de teu beijo, descobri que havia chorado.
Mas foi teu abraço que te denunciou. Não havia calor, fervor, entrega. Foi mecânico, automático, sem vontade, quase patético.
Ao me desvencilhar de teus braços, eu sabia que estava me afastando para sempre de uma parte boa de minha história.
É quando o "nós" volta a ser dois alguéns.
No começo há o sofrimento, porque sofrer é uma faculdade que ainda não dominamos. E a dor que nos invade parece o anuncio do apocalipse particular.
Espera-se muito de um momento como aquele. Os olhos rasos dágua pediam uma manifestação de minha parte. Mas naquela hora eu não podia dizer sequer algumas palavras de consolo, ou mesmo alguma coisa construtiva. Era hora de ir.
E eu fui. E não olhei para tras.

Psicologia Infantil



Era uma tarde de terça feira e o transito da cidade estava tumultuado. Como de costume eu andava até o local onde havia estacionado o carro. Isso porque tenho o costume de estacionar sempre longe.
No caminho, me deparei com uma cena bem comum nos dias atuais: Uma mulher que segurava uma criança de uns dois anos pela mão, enquanto a criança desabava em uma crise de manha e choro.
O sinal estava aberto, então alcancei aquela dupla que esperava o sinal fechar. Ali do meu lado a criança não parava de gritar e espernear. Quando sentou no chão e começou a agredir a mulher que provavelmente era sua mãe, ela me olhou meio que incomodada ante sua total impotência em lidar com aquela situação.
Fizesse eu uma cara de reprovação, ela ficaria com vergonha e talvez tomasse uma atitude mais drástica, ou iria logo antipatizar com à minha presença. Resolvi então tomar outra postura diante daquela situação. Virei-me para ela e disse em tom de brincadeira, como se quisesse parecer sério:
- Dona! Dá esse menino pra mim?
- Você quer ele? - respondeu imediatamente a mulher entrando na brincadeira - olhe aqui Kayke, que se você não parar de chorar eu vou te dar para esse homem!- disse a mulher para a criança enquanto apontava para mim.
E foi aí então que o tal do Kayke esperneou e gritou bonito. Tudo para chamar atenção.
A mãe então soltou a mão do menino que estava no chão e disse:
- Pega moço! Leva esse menino para o senhor que eu não quero mais saber desse menino chorão.
E o Kayke gritando...
A mãe, mostrando-se uma atriz fenomenal virou a esquina, saindo de nossas vistas e abandonando o tal Kayke, que continuava chorando, enquanto eu me segurava para não rir.
Passados alguns segundos, o moleque levantou do chão e ainda chorando foi até a esquina gritar mais alto para vencer a mãe pelo cansaço. Mas para a minha surpresa a mãe não estava se deixando levar pela a birra do menino. O natural seria que aquela mãe despreparada voltasse logo para consolar o menino que se sentiu abandonado pela mãe. Entretanto, ela foi firme e incisiva e não voltou logo de cara.
E o Kayke chorando...
O Sinal fechara, mas eu, interessado no desenrolar dos acontecimentos, ao invés de atravessar, fiquei olhando o menino que hora olhava para a rua na qual a mãe havia sumido hora olhava para mim.
O tempo passava e a mulher não voltava. Kayke já estava cansando de gritar. Seu choro já se tornava um amontoado de soluços intercalados. A tática estava funcionando. O garoto parou de dar birra. Mas ao contrário do que eu esperava, a mulher não aparecia.
Eu ali, observando o menino na esquina olhando para a outra rua, como se procurasse a mãe, e logo olhava para mim, como se perguntasse com aquele olhar: "onde está minha mãe?"
Minha vontade de sorrir simplesmente sumiu, começando a dar lugar à uma preocupação verdadeira. Corri para a esquina onde estava o garoto, e ao seu lado tentei localizar sua mãe na rua por onde havia saído. Mas nem sinal da mulher.
Algo muito estranho estava acontecendo. Aquela situação havia passado dos limites de uma brincadeira ou de um castigo. A birra do menino virava desespero, e meu senso de humor também ia pelo mesmo caminho.
Automaticamente corri pela rua para ver se via a mulher, mas não a vi. Corri até muito adiante, e nada. Nem sinal.
Quando parei no final da rua que terminava em outra rua que ia para dois lados, olhei para a esquerda e não a vi, para a direita e nada. Voltei-me então e a única coisa que vi foi um menino só e abandonado a soluçar numa esquina do centro da cidade.
Segurei na mão do garoto que prudentemente havia parado de fazer cena. Olhei para aqueles olhinhos assustados cheios de medo e desconfiança. Quis lhe dizer algo tipo: "Calma, vai dar tudo certo" ou "Já já vamos encontrar a sua mãe"
Mas diante das circunstâncias, olhei para o Kayke e disse:
- Algo me diz que agora fodeu!

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O homem de batom

A primeira vez que aconteceu, foi no inverno seco do Brasil, quando seus lábios trincados ardiam.
A aula já havia terminado mas ainda estavam na sala, quando uma colega lhe disse que se passasse batom aquela dor iria passar.
Na hora ele protestou, dizendo que batom era coisa de mulher, e que não teria coragem de sair de batom pela rua.
Ela achou graça e lhe disse que haviam batons discretos, sem cores, e que ninguém iria perceber.
Ainda sob protestos ele se deixou levar pela linda colega que já lhe passava batom sobre seus lábios.
Até hoje ele não entende como, mas quase que imediatamente após usar aquela base em sua boca, imediatamente já estava misturando seu batom ao dela. E por muito tempo aquilo ficou guardado em sua mente, como um dos momentos mais estranhos porém felizes da vida de um jovem adolescente.

A segunda vez, foi no carnaval.

Junto com alguns amigos resolveu se vestir de mulher para sair às ruas bebendo e dançando atrás de um bloco qualquer.
Olhou-se no espelho: Peruca loira que havia sido de uma tia que morreu de câncer; o vestido com motivos florais e a sapatilha confortável ele arrumou com uma prima da mesma altura. Mas parecia que algo faltava. Ele que sempre havia sido tímido, se sentiu confiante em atravessar o hall de entrada e tocar a campainha do apartamento de frente.
Foi quando a vizinha deslumbrante atendeu e rindo daquela cena o convidou para entrar.
Pediu alguns conselhos e ela então disse que faltava a maquiagem.
Ela caprichou no visual, batom sombras, cílios, rímel, entre outras coisas mais.
E durante aquela sessão tudo aconteceu. Borraram a primeira maquiagem, borraram a segunda, e lá pela terceira ou quarta tentativa, decidiram deixar como estava, a final, era carnaval.

A terceira vez, não aconteceu por acaso. Ele tinha uma teoria. Uma teoria incrível que precisava ser testada.
Entrou na loja de departamento e procurou a vendedora mais bela do setor de cosméticos. Na maior cara dura e confiança pediu para experimentar alguns batons. A garota sorriu cordialmente, pensando se tratar apenas de um homossexual comum, e o tratou com toda a normalidade que sua experiência como vendedora já lhe havia ensinado. O que ela não conseguiu explicar ao seu gerente, foi o porquê de estar semi-nua, agarrando-se à um cliente no trocador da loja.


Ele havia comprovado sua teoria. Descobriu que possuía algo especial. Possuía um super poder, melhor que o do homem aranha, superman ou Batman... O poder do boca-loka!

Então Setembro Chegou...

Quando ele acordou naquele dia quente e seco, tentou se levantar da cama, mas o lençol estava grudado em seu rosto, por causa do suor ou de lágrimas. Não sabia ao certo. Não lembrava de ter chorado. Então, provavelmente não eram lágrimas.
Mas porque em seu peito sentia tanto alívio como se tivesse se livrado de tantas angústias?
Não sabia.
Até aquele momento ele não sabia que já era setembro. Dia primeiro de setembro.
Talvez porque ele já estivesse preparado para toda a carga que a vida lhe impunha todos os anos nesta mesma época.
Talvez porque já estivera esperando por era, e havia se preparado.
Talvez tivesse apenas se esquecido.
Livrou-se dos lençóis, colocou-se de pé e quando menos esperou estava em frente ao espelho. E ali à sua frente estava alguém que não reconheceu.
Uma linha muita tênue separa o sucesso do fracasso. E naquela época do ano, ele não sabia de que lado se encontrava.
Respirou fundo e se aprontou para os dias mais amarelos daquela época do ano.