Para quem não conhece o Seu Jeremias, ele é o meu visinho.
Um senhor muito simpático no auge dos seus 50 anos. Daquele tipo de coroa que esquece que é velho. Vira e mexe está no meio da garotada. Mas diferente do tio da sukita, ele é bem querido por todo mundo aqui do prédio.
Quando tinha algum movimento no salão de festa, rolando um rock mais pesado, ele sempre aparecia sem ser convidado, ia chegando, e quando a gente via, tava no meio da galera, pulando, gritando. Acabou que agora ele sempre é convidado com antecedência.
Seu Jeremias é o típico cara comum que trabalha em uma repartição pública. Mas o legal é que sabe tocar guitarra e violão, e de vez em quando a gente se reúne junto com ele no patio do condomínio para beber, tocar e cantar. É o maior sarro quando ele se anima, e começa a tocar Raul, Pink Floyd, Metálica... Ele realmente manda muito bem quando o assunto é Rock.
Em uma destas reuniões, entre os muitos assuntos e brincadeiras, alguém falou do Rock 'in Rio. Nisso, o Sr Jeremias, simplesmente fechou a cara se levantou e saiu. Ninguém conseguiu entender o que tinha acontecido. Dias depois, ele reapareceu na festinha de aniversário da Ritinha. A gente achou melhor não perguntar nada.
Ele, como sempre, era a animação em pessoa. Bebeu, cantou, tocou e bebeu ainda mais. Naquela noite ele bebeu além do que estava acostumado.
Final de festa, só tinha ficado a galera já conhecida. Eis que alguém mencionou a promoção do Trident, que leva o sorteado ao Rock in Rio na faixa. Seu Jeremias ficou louco de pedra:
- Que mané porra de Rock in Rio!!! Rock in Rio é o Caralho!!! Ainda mais com promoção!!! Promoção de cú é rola!!! - tentou se levantar, rodopiou, desequilibrou. Ia caindo quando a turma o segurou.
O colocamos sentado. E aproveitando do seu estado etílico, ele nos contou sua triste historia:
Era idos de 1985.
E ele era um jovem de 20 e poucos anos que morava no interior de Goiás.
Havia sido sorteado no concurso do achocolatado Nescau. Como prêmio iria para a cidade maravilhosa em grande estilo e assistiria ao Rock in Rio, naquela época em sua primeira edição.
Aquilo para ele tinha sido o grande ápice de sua vida. Ainda mais quando descobriu que entre tantas novidades, ele desceria de para-quedas no meio da plateia durante o show. Era algo nunca feito antes. Nunca tentado em nenhum show brasileiro.
E o Jovem Jeremias embarcou em um avião rumo ao Rio de Janeiro. Tudo era novidade para ele. A aeronave, o aeroporto, o hotel, a cidade, as praias. Tudo era lindo!
Horário combinado, lá estava o carro do achocolatado para leva-lo ao aero clube, onde embarcaria em um avião para saltar sobre a cidade do rock, que já estava cheia de rockeiros.
Era um sonho. No início ele sentiu medo. Principalmente quando se aproximou da porta do avião para o salto. A produção de marketing do achocolatado filmava tudo. Seria um material publicitário e tanto.
E Jeremias olhou para a câmera e gritou: "É Rock in Roll!!!" E saltou!
A queda livre durou poucos segundos. O paraquedas abriu quase que imediatamente. E lá do alto, após recuperar o fôlego, Jeremias olhava maravilhado a vista da cidade do Rock brilhando enquanto lá embaixo as pessoas estavam vibrando ao som do AC/DC que tocava "Hells Bells".
Quando o paraquedas foi se aproximando do público, alguns holofotes foram desviados e direcionados para ele, para que as pessoas pudessem ver a chegada triunfal do jovem Jeremias.
Ocorre que os seres humanos são muito imprevisíveis. E o que se passou a seguir, até hoje não poderia ser explicado com segurança.
Talvez foi o sentimento de inveja que tomou conta do público.
Talvez tenha sido, porque o para-quedas quando desceu, tampou a visão da galera que estava curtindo o show, deixando todos violentos.
Talvez porque, pela falta de experiência no pouso, Jeremias tenha descido direto com a sola do sapato na careca de um fortão que vestia um blusão de couro de um clube de motoqueiros.
Pode ter sido um ou todos estes motivos que colocaram fim na aventura de Jeremias.
Assim que ele chegou ao chão foi recebido com socos e chutes pela galera encoberta pelo paraquedas.
Jeremias apanhou mais que boneco de judas em sábado de aleluia. E a agressão só parou quando ele parou de se mexer.
E o pobre Jeremias ficou desacordado e foi pisoteado até ser localizado pela equipe do achocolatado. Quando recuperou os sentidos, 2 dias depois, estava no leito de um hospital carioca de onde sairia apenas na outra semana.
O saldo da aventura ficou em: 3 costelas quebradas, inúmeras luxações por todo o corpo, pontos na cara e na cabeça. Por sorte não lhe quebraram nenhum dente.
A equipe do achocolatado abafou o caso.
A campanha publicitária nunca foi ao ar.
E Jeremias foi devolvido para Goiás, com uma indenização miserável, que só foi paga após assinar vários documentos isentando a responsabilidade da empresa pelo "incidente".
Mais de vinte e anos depois, um bando de jovens seguram o riso enquanto o Senhor Jeremias, escorado na poltrona da casa da Ritinha, bêbado que nem um gambá, indignado dizia com a voz engrolada:
- Rock in Rio??? Rock in Rio é o Caralho!!!
terça-feira, 11 de fevereiro de 2020
Mais um dia de paintball
Há muito tempo que eu jogo paintball, e durante todo esse tempo tive a oportunidade de conhecer muitas pessoas dos mais diferentes tipos, diferentes estilos e trejeitos. Fiz muitos amigos, muitos companheiros e nunca fui de fazer inimigos. Mas reconheço que algumas pessoas simplesmente passaram sem deixar saudades.
E o contato com tanta gente diferente me rendeu muitas histórias para contar. Essa história me foi contada por um amigo, que jura que a história é verdadeira, e se for, é definitivamente a história mais cabulosa que já ouvi no paintball cenário.
Eu sempre gostei de jogar como sniper. Com o tempo fui montando o equipamento ideal. Uma tippimann A5 com cano hamerhead para dar precisão sem aumentar muito o tamanho do cano. Para suprimir o som, coloquei um orange bolt que funcionou quase como um silenciador. E uma pistola TPX para quando alguém chegasse perto demais, a ponto de não conseguir virar a direção da A5 a tempo.Treinei muito no quintal da casa da minha avó. Resolvia a parada com pouco tiro. Mas meu forte, minha especialidade, era a camuflagem. Eu tinha vários tipos de fardas, uma para cada ambiente, e incrementava a camuflagem com galhos, terra, folhas, tudo o que precisasse. Aprendi a ter paciência, esperar a oportunidade certa, e por isso passava desapercebido durante os jogos. Geralmente eu era o primeiro a entrar na mata e o ultimo a sair. Não foram poucas as vezes em que os caras pisavam em cima de mim sem saber que eu estava ali. Por esse motivo, ganhei o apelido de Surpresa. Camuflado, ali na mocó, eu vi muita coisa. Vi muito Highlander limpar as marcas de tinta quando pensava que não havia ninguém olhando. Vi algumas quedas e capotes hilários de alguns despreparados que me fizeram conter o riso para não denunciar minha posição. Mas nada do que eu vi nesses anos de paintball chega nem perto do que eu vou contar.
Certa vez, chegou um cara novo para jogar com a gente. Como ficou pouco tempo, o apelido dele era Novato. O Novato era um carinha educado. Muito calado e na dele. Vindo de uma boa família, criado com todynho e sucrilhos, era daqueles caras que quando menino, não brincou na rua, não machucou, e para ele, o paintball era um sonho realizado. Tinha acabado de descobrir o paintball cenário, e estava pilhado lá do modo dele. Comprara uma Alpha Black, um marcador que para mim só dá duas alegrias, uma quando você compra e a outra quando você consegue empurrar em algum iniciante que fica babando no visual da arma do Rambo. Para piorar, ele tinha arrumado uma farda da tropa de choque, com uma camuflagem preta, cinza e azul, totalmente imprópria para a mata. Mas ele estava feliz e isso era o que importava. Como ele era um cara legal, a galera tinha muita paciência com ele.
Naquele final de semana o jogo era numa mata fora da cidade. A galera ia jogar com um time do interior, muito organizado. Os caras do time eram como um pelotão do exercito, com hierarquia, treinamento, disciplina e uniformes próprios. E apesar de inicialmente parecerem arrogantes e prepotentes, eram uma turma muito legal e prestativa com qualquer um que desejasse jogar paintball. Mas para toda regra existe uma exceção. E naquela equipe, a exceção tinha mais que um nome, tinha uma patente. Ele se auto apelidava de Coronel.
Nunca tive problemas com o Coronel, mas confesso que era um cara difícil de se conviver. Implicante, ignorante, vaidoso, orgulhoso, temperamental, irritadiço, com mania de poder e grandeza. O típico cara que não conseguiu virar militar, e não passaria em nenhuma exame psicotécnico de um concurso ou curso que lhe permitiria portar uma arma de fogo. Vivia criando confusão dentro do próprio time. Queria criar uma série de regras para os jogos, com castigos físicos e humilhações para os perdedores, entre outras idiotices. Não foram poucas as vezes que parou um jogo na metade da partida com palavrões e xingamentos, expulsando um de seus jogadores por não ter cumprido uma ordem. Certa vez, o vi fazer um cara recém iniciado em seu time pagar 20 apoios enquanto ele gritava e cuspia insultos sobre o desgraçado. Minha sorte é que não morávamos na mesma cidade. Até mesmo os caras do próprio time já estavam gelando ele, evitando chamá-lo para os jogos. Mas naquele dia o Coronel acordou cedo e foi jogar.
Chegamos de viagem, fizemos os preparativos na zona salva, dividimos os times e começamos um jogo com missão que seria muito demorada, explorando a mata muito grande e bem delimitada por uma cerca. Entrei primeiro na mata, e após percorrer pelo menos uns 700 metros do centro da zona de jogo encontrei um barranco coberto por uma vegetação baixa e densa, perfeita para uma camuflagem ideal. E ali eu me posicionei e fiquei esperando meus alvos. Mas aparentemente calculei errado. Já havia se passado mais de 45 minutos de jogo e aparentemente a ação estava acontecendo em outro ponto da mata. Pássaros cantavam sobre as arvores, um calango passara perto de mim, e nada de jogadores. Passada quase uma hora, vi um jogador se aproximar correndo em direção a minha posição. Pela farda eu reconheci o Novato que naquele jogo era parte do meu time. Mas no seu encalço se aproximavam 3 inimigos que o cercaram. Com medo de tomar tinta, o Novato se entregou. Dalí, eu não poderia derrubar os 3, tanto pela distância quanto pela posição. Com sorte, apenas um deles cairia, e portanto eu seria alvo dos outros 2. Resolvi esperar. Ainda podia salvar o Novato e recoloca-lo no jogo. Mas, infelizmente, um dos inimigos era o Coronel.
- Homens, vocês voltem para a trilha da direita que eu vou conduzir o prisioneiro - disse o Coronel.
Os dois paus mandados voltaram pelo mesmo caminho por onde vieram enquanto eu fiquei esperando o momento ideal para derrubar o Coronel.
Sinceramente, eu podia tê-lo derrubado assim que os outros dois desapareceram, mas confesso que fiquei curioso para saber o que o Coronel iria aprontar. Então, continuei observando enquanto ele falava com o Novato:
- A coisa que eu mais detesto é covarde. No meu time não fica covarde. Porque isso aqui é uma coisa séria. É guerra! Você já esteve numa guerra soldado? - perguntou o Coronel tirando uma algema do bolso da farda.
- Não, nunca estive. - disse o Novato achando graça do que estava acontecendo.
- NÃO SENHOR! SOLDADO! EU NÃO TE FALEI QUE ISSO AQUI É UMA GUERRA?
- Sim Senhor - respondeu o Novato assustado enquanto o Coronel agressivamente lhe algemava em um galho de uma arvore.
Naquilo eu já estava me segurando para não rir daquela confusão, quando o Coronel surtou geral:
- Numa guerra soldado, acontece de tudo! Só quem já esteve na guerra é que sabe o que acontece no meio da batalha. Você sabia que tem muita gente estuprada na guerra soldado?
- Olha cara, vamos parar com essa brincadeira? Bo-Bora parar com isso.- disse o Novato assustado
- Sabe que horas é agora soldado? É A HORA DO ESTUPRO!
Imediatamente, coloquei meu marcador no RT, e me preparei para sentar o dedo no gatilho e descarregar tudo o que tinha no loader tático quando o Coronel baixasse as calças. Mas não deu tempo.
O Novato não esperou nem um milésimo de segundo. Deu um puxão com tanta força que quebrou o galho da arvore e saiu correndo, gritando e derrubando tudo o que tinha pela frente. Largou a marcadora e disparou em direção aos carros. Até hoje não sei como o Novato conseguiu dirigir até a cidade algemado. E nunca soube como ele tirou aquelas algemas. Na verdade, depois do ocorrido, ele nunca mais apareceu num campo ou num jogo outra vez. Ninguém nunca soube, até hoje, o que realmente aconteceu naquele dia. O Coronel só disse que brincou com o cara e ele apelou, mas nunca entrou em detalhes.
Quando eu resolvi narrar essa história, decidi aproveitar para deixar um recado para o Novato: Sua Alpha Black ficou com o Coronel...
E o contato com tanta gente diferente me rendeu muitas histórias para contar. Essa história me foi contada por um amigo, que jura que a história é verdadeira, e se for, é definitivamente a história mais cabulosa que já ouvi no paintball cenário.
Eu sempre gostei de jogar como sniper. Com o tempo fui montando o equipamento ideal. Uma tippimann A5 com cano hamerhead para dar precisão sem aumentar muito o tamanho do cano. Para suprimir o som, coloquei um orange bolt que funcionou quase como um silenciador. E uma pistola TPX para quando alguém chegasse perto demais, a ponto de não conseguir virar a direção da A5 a tempo.Treinei muito no quintal da casa da minha avó. Resolvia a parada com pouco tiro. Mas meu forte, minha especialidade, era a camuflagem. Eu tinha vários tipos de fardas, uma para cada ambiente, e incrementava a camuflagem com galhos, terra, folhas, tudo o que precisasse. Aprendi a ter paciência, esperar a oportunidade certa, e por isso passava desapercebido durante os jogos. Geralmente eu era o primeiro a entrar na mata e o ultimo a sair. Não foram poucas as vezes em que os caras pisavam em cima de mim sem saber que eu estava ali. Por esse motivo, ganhei o apelido de Surpresa. Camuflado, ali na mocó, eu vi muita coisa. Vi muito Highlander limpar as marcas de tinta quando pensava que não havia ninguém olhando. Vi algumas quedas e capotes hilários de alguns despreparados que me fizeram conter o riso para não denunciar minha posição. Mas nada do que eu vi nesses anos de paintball chega nem perto do que eu vou contar.
Certa vez, chegou um cara novo para jogar com a gente. Como ficou pouco tempo, o apelido dele era Novato. O Novato era um carinha educado. Muito calado e na dele. Vindo de uma boa família, criado com todynho e sucrilhos, era daqueles caras que quando menino, não brincou na rua, não machucou, e para ele, o paintball era um sonho realizado. Tinha acabado de descobrir o paintball cenário, e estava pilhado lá do modo dele. Comprara uma Alpha Black, um marcador que para mim só dá duas alegrias, uma quando você compra e a outra quando você consegue empurrar em algum iniciante que fica babando no visual da arma do Rambo. Para piorar, ele tinha arrumado uma farda da tropa de choque, com uma camuflagem preta, cinza e azul, totalmente imprópria para a mata. Mas ele estava feliz e isso era o que importava. Como ele era um cara legal, a galera tinha muita paciência com ele.
Naquele final de semana o jogo era numa mata fora da cidade. A galera ia jogar com um time do interior, muito organizado. Os caras do time eram como um pelotão do exercito, com hierarquia, treinamento, disciplina e uniformes próprios. E apesar de inicialmente parecerem arrogantes e prepotentes, eram uma turma muito legal e prestativa com qualquer um que desejasse jogar paintball. Mas para toda regra existe uma exceção. E naquela equipe, a exceção tinha mais que um nome, tinha uma patente. Ele se auto apelidava de Coronel.
Nunca tive problemas com o Coronel, mas confesso que era um cara difícil de se conviver. Implicante, ignorante, vaidoso, orgulhoso, temperamental, irritadiço, com mania de poder e grandeza. O típico cara que não conseguiu virar militar, e não passaria em nenhuma exame psicotécnico de um concurso ou curso que lhe permitiria portar uma arma de fogo. Vivia criando confusão dentro do próprio time. Queria criar uma série de regras para os jogos, com castigos físicos e humilhações para os perdedores, entre outras idiotices. Não foram poucas as vezes que parou um jogo na metade da partida com palavrões e xingamentos, expulsando um de seus jogadores por não ter cumprido uma ordem. Certa vez, o vi fazer um cara recém iniciado em seu time pagar 20 apoios enquanto ele gritava e cuspia insultos sobre o desgraçado. Minha sorte é que não morávamos na mesma cidade. Até mesmo os caras do próprio time já estavam gelando ele, evitando chamá-lo para os jogos. Mas naquele dia o Coronel acordou cedo e foi jogar.
Chegamos de viagem, fizemos os preparativos na zona salva, dividimos os times e começamos um jogo com missão que seria muito demorada, explorando a mata muito grande e bem delimitada por uma cerca. Entrei primeiro na mata, e após percorrer pelo menos uns 700 metros do centro da zona de jogo encontrei um barranco coberto por uma vegetação baixa e densa, perfeita para uma camuflagem ideal. E ali eu me posicionei e fiquei esperando meus alvos. Mas aparentemente calculei errado. Já havia se passado mais de 45 minutos de jogo e aparentemente a ação estava acontecendo em outro ponto da mata. Pássaros cantavam sobre as arvores, um calango passara perto de mim, e nada de jogadores. Passada quase uma hora, vi um jogador se aproximar correndo em direção a minha posição. Pela farda eu reconheci o Novato que naquele jogo era parte do meu time. Mas no seu encalço se aproximavam 3 inimigos que o cercaram. Com medo de tomar tinta, o Novato se entregou. Dalí, eu não poderia derrubar os 3, tanto pela distância quanto pela posição. Com sorte, apenas um deles cairia, e portanto eu seria alvo dos outros 2. Resolvi esperar. Ainda podia salvar o Novato e recoloca-lo no jogo. Mas, infelizmente, um dos inimigos era o Coronel.
- Homens, vocês voltem para a trilha da direita que eu vou conduzir o prisioneiro - disse o Coronel.
Os dois paus mandados voltaram pelo mesmo caminho por onde vieram enquanto eu fiquei esperando o momento ideal para derrubar o Coronel.
Sinceramente, eu podia tê-lo derrubado assim que os outros dois desapareceram, mas confesso que fiquei curioso para saber o que o Coronel iria aprontar. Então, continuei observando enquanto ele falava com o Novato:
- A coisa que eu mais detesto é covarde. No meu time não fica covarde. Porque isso aqui é uma coisa séria. É guerra! Você já esteve numa guerra soldado? - perguntou o Coronel tirando uma algema do bolso da farda.
- Não, nunca estive. - disse o Novato achando graça do que estava acontecendo.
- NÃO SENHOR! SOLDADO! EU NÃO TE FALEI QUE ISSO AQUI É UMA GUERRA?
- Sim Senhor - respondeu o Novato assustado enquanto o Coronel agressivamente lhe algemava em um galho de uma arvore.
Naquilo eu já estava me segurando para não rir daquela confusão, quando o Coronel surtou geral:
- Numa guerra soldado, acontece de tudo! Só quem já esteve na guerra é que sabe o que acontece no meio da batalha. Você sabia que tem muita gente estuprada na guerra soldado?
- Olha cara, vamos parar com essa brincadeira? Bo-Bora parar com isso.- disse o Novato assustado
- Sabe que horas é agora soldado? É A HORA DO ESTUPRO!
Imediatamente, coloquei meu marcador no RT, e me preparei para sentar o dedo no gatilho e descarregar tudo o que tinha no loader tático quando o Coronel baixasse as calças. Mas não deu tempo.
O Novato não esperou nem um milésimo de segundo. Deu um puxão com tanta força que quebrou o galho da arvore e saiu correndo, gritando e derrubando tudo o que tinha pela frente. Largou a marcadora e disparou em direção aos carros. Até hoje não sei como o Novato conseguiu dirigir até a cidade algemado. E nunca soube como ele tirou aquelas algemas. Na verdade, depois do ocorrido, ele nunca mais apareceu num campo ou num jogo outra vez. Ninguém nunca soube, até hoje, o que realmente aconteceu naquele dia. O Coronel só disse que brincou com o cara e ele apelou, mas nunca entrou em detalhes.
Quando eu resolvi narrar essa história, decidi aproveitar para deixar um recado para o Novato: Sua Alpha Black ficou com o Coronel...
Como explicar?
Um belo dia Marcos Antônio acordou. Vestiu sua roupa casual. Bebeu apenas um copo de água e desceu as escadas do velho condomínio aonde morava com sua avó.
Caminhou pela calçada tão sua conhecida, desviando das poças que a chuva noturna deixara para transformar sua caminhada em uma verdadeira amarelinha.
Ao passar diante de uma loja de instrumentos musicais que ficava a duas quadras de sua casa, ele parou. Ficou assim embestecido a contemplar um violão preto escorado em um banquinho no interior da loja. Seu olhar paralisou diante daquelas cordas brilhantes. E passados alguns minutos ele entrou.
Entrou sem pedir licença, como se estivesse em casa. Tomou o violão em seus braços e sentou-se sem cerimônias aconchegando o instrumento em sua perna cruzada, em uma posição que faria inveja a qualquer profissional da musica.
... e então seus dedos começaram a se movimentar, e uma melodia encheu toda a loja tal qual o cheiro de uma comida deliciosa em um ambiente de famintos. Pessoas paravam na rua, desciam dos carros e entravam no recinto para ouvir aquele concerto gratuito em plena manha de sábado. Um misto de sentimentos tomava conta dos presentes, velhos sorriam, jovens choravam. Uma senhora de olhos fechados, levou as mãos ao peito para tentar aplacar as batidas de seu coração que teimava em fazer a percussão acompanhando o dedilhar naquelas cordas.
O violão cantava em suas mãos, e tal qual um canto de sereia aquela melodia se espalhava e atraía pessoas que esquecidas de suas vidas tão difíceis se deixaram por um instante sentir algo próximo do que chamam de felicidade.
Quarenta e cinco minutos e alguns segundos se passaram quando ele parou de tocar. Levantou seus olhos e deparou-se com aquelas pessoas apinhadas se espremendo em busca de um lugar para ver o show. Estendeu o braço na direção de um homem e ganhou um cigarro que lhe acenderam automaticamente. Tragou e soltou a fumaça pelo ar daquela loja lotada.
Uma senhora puxou as palmas que liberaram uma infinidade de sorrisos naqueles rostos tão endurecidos pela vida árdua e fria da grande cidade de concreto e vidro.
Só Marcos Antônio não sorriu.
Levantou-se e foi caminhando para fora abrindo espaço por entre as pessoas que ainda batiam palmas emocionadas, sem perceberem que o músico estava deixando o ambiente.
Já lá fora, olhou mais uma vez para a loja ainda lotada e seguiu caminhando pelo lado esquerdo da rua, onde a calçada parecia estar mais seca. Ledo engano... em um instante de distração uma poça funda lhe molhou até as meias.
Passado alguns instantes Marcos Antônio parou de uma vez. Intrigado... Nunca tinha feito aquilo antes em toda sua vida. Naquele momento, a vontade tomou conta de seu íntimo, e ele realizou aquele desejo nunca antes sentido.
Marcos Antônio nunca tinha fumado em sua vida.
Caminhou pela calçada tão sua conhecida, desviando das poças que a chuva noturna deixara para transformar sua caminhada em uma verdadeira amarelinha.
Ao passar diante de uma loja de instrumentos musicais que ficava a duas quadras de sua casa, ele parou. Ficou assim embestecido a contemplar um violão preto escorado em um banquinho no interior da loja. Seu olhar paralisou diante daquelas cordas brilhantes. E passados alguns minutos ele entrou.
Entrou sem pedir licença, como se estivesse em casa. Tomou o violão em seus braços e sentou-se sem cerimônias aconchegando o instrumento em sua perna cruzada, em uma posição que faria inveja a qualquer profissional da musica.
... e então seus dedos começaram a se movimentar, e uma melodia encheu toda a loja tal qual o cheiro de uma comida deliciosa em um ambiente de famintos. Pessoas paravam na rua, desciam dos carros e entravam no recinto para ouvir aquele concerto gratuito em plena manha de sábado. Um misto de sentimentos tomava conta dos presentes, velhos sorriam, jovens choravam. Uma senhora de olhos fechados, levou as mãos ao peito para tentar aplacar as batidas de seu coração que teimava em fazer a percussão acompanhando o dedilhar naquelas cordas.
O violão cantava em suas mãos, e tal qual um canto de sereia aquela melodia se espalhava e atraía pessoas que esquecidas de suas vidas tão difíceis se deixaram por um instante sentir algo próximo do que chamam de felicidade.
Quarenta e cinco minutos e alguns segundos se passaram quando ele parou de tocar. Levantou seus olhos e deparou-se com aquelas pessoas apinhadas se espremendo em busca de um lugar para ver o show. Estendeu o braço na direção de um homem e ganhou um cigarro que lhe acenderam automaticamente. Tragou e soltou a fumaça pelo ar daquela loja lotada.
Uma senhora puxou as palmas que liberaram uma infinidade de sorrisos naqueles rostos tão endurecidos pela vida árdua e fria da grande cidade de concreto e vidro.
Só Marcos Antônio não sorriu.
Levantou-se e foi caminhando para fora abrindo espaço por entre as pessoas que ainda batiam palmas emocionadas, sem perceberem que o músico estava deixando o ambiente.
Já lá fora, olhou mais uma vez para a loja ainda lotada e seguiu caminhando pelo lado esquerdo da rua, onde a calçada parecia estar mais seca. Ledo engano... em um instante de distração uma poça funda lhe molhou até as meias.
Passado alguns instantes Marcos Antônio parou de uma vez. Intrigado... Nunca tinha feito aquilo antes em toda sua vida. Naquele momento, a vontade tomou conta de seu íntimo, e ele realizou aquele desejo nunca antes sentido.
Marcos Antônio nunca tinha fumado em sua vida.
Assinar:
Postagens (Atom)