Eis que eu me pego pensando
Em como seria minha vida ao teu lado
E só então eu percebo que terei a tarefa de fazer-te eternamente feliz
E essa será a razão de minha existência, e que não pode haver motivo maior que este para seguir em frente.
Que só dessa forma eu me sinto feliz a cada dia.
Fazendo com que seu sorriso me desejasse bom dia logo pela manha, antes mesmo do café e do jornal.
E quando isso não acontece, quando você insiste em manter aquela cara amarrada ou se recusa a falar do que se passa dentro do teu peito, é então que eu me lanço de corpo e alma neste desafio que é descobrir como te animar, como resgatar aquele sorriso que ilumina meu coração outrora tão sombrio.
As vezes demora. As vezes parece uma eternidade. Mas quando ele aparece, cada instante por mais tenso, doloroso ou cansativo que fora valeu a pena.
E assim eu sigo meus dias
E é assim que eu pretendo seguir.
Porque sua mão sempre está segurando a minha.
E isso me conforta.
Isso me traz confiança
Só assim eu sinto que sou melhor.
É como escolhi te amar.
Por isso te amo
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
terça-feira, 24 de setembro de 2013
No Teu Prumo
Então eu me encontrava em frente ao PC.
A cabeça a mil. Ouvindo Zé Ramalho cantando Avohai, e pensando nos erros cometidos.
Enquanto tentava escrever, em minha mente remexiam as lembranças há muito ocultas e esquecidas.
Lembrei de uma cidade cercada pelas serras.
Recordei de alguém que se foi há pouco e ainda vive em minhas melhores lembranças.
Disseram-me que o pai de alguém havia morrido. E percebi que nunca perdi ninguém de quem gostasse tanto quanto um pai, uma mãe, um irmão. Não sei qual seria o meu sentimento, mas neste momento eu nada sinto além do frio em meus pés.
Junto as mãos, fecho os olhos e baixo a cabeça como se procurasse inspiração. Observo com este gesto que há muito tempo deixei de rezar. Deixei de ter medo, mas ainda não aprendi a utilizar bem essa liberdade e essa coragem.
Bem. Sentir-me Bem... Fazer o Bem... Encontrar meu Bem. Uma mesma palavra com várias conotações.
Fico me perguntando porque não sou capaz de viver mais conscientemente.
Talvez porque uma montanha russa sem velocidade e em linha reta não agradaria ninguém.
Mas o carrossel se move em circulo, sobe e desce e também não agrada.
Inquietudes ou devaneios... Não sei dizer ao certo. O certo e o errado são separados por um limite tão confuso que muitas vezes os dois se confundem entre sí.
A música mudou. Agora uma voz desconhecida canta: "nas horas sem fim em que a dor não tem mais cabimento é no teu prumo que eu me oriento" Nada mais justo.
Estou agora pensando em como é difícil entender a vida. Mas essa dificuldade me atrai.
Vou deixar o PC e ir até a janela sentir a brisa.
Para mim, até hoje essa é a melhor maneira de me vincular a Deus.
A cabeça a mil. Ouvindo Zé Ramalho cantando Avohai, e pensando nos erros cometidos.
Enquanto tentava escrever, em minha mente remexiam as lembranças há muito ocultas e esquecidas.
Lembrei de uma cidade cercada pelas serras.
Recordei de alguém que se foi há pouco e ainda vive em minhas melhores lembranças.
Disseram-me que o pai de alguém havia morrido. E percebi que nunca perdi ninguém de quem gostasse tanto quanto um pai, uma mãe, um irmão. Não sei qual seria o meu sentimento, mas neste momento eu nada sinto além do frio em meus pés.
Junto as mãos, fecho os olhos e baixo a cabeça como se procurasse inspiração. Observo com este gesto que há muito tempo deixei de rezar. Deixei de ter medo, mas ainda não aprendi a utilizar bem essa liberdade e essa coragem.
Bem. Sentir-me Bem... Fazer o Bem... Encontrar meu Bem. Uma mesma palavra com várias conotações.
Fico me perguntando porque não sou capaz de viver mais conscientemente.
Talvez porque uma montanha russa sem velocidade e em linha reta não agradaria ninguém.
Mas o carrossel se move em circulo, sobe e desce e também não agrada.
Inquietudes ou devaneios... Não sei dizer ao certo. O certo e o errado são separados por um limite tão confuso que muitas vezes os dois se confundem entre sí.
A música mudou. Agora uma voz desconhecida canta: "nas horas sem fim em que a dor não tem mais cabimento é no teu prumo que eu me oriento" Nada mais justo.
Estou agora pensando em como é difícil entender a vida. Mas essa dificuldade me atrai.
Vou deixar o PC e ir até a janela sentir a brisa.
Para mim, até hoje essa é a melhor maneira de me vincular a Deus.
terça-feira, 17 de setembro de 2013
Velha Rua
Hoje eu passei pela mesma rua.
Já fazia muito tempo que eu evitava aquele caminho antes rotineiro. Não por medo, mas por pura conveniência e economia de tempo. A verdade é que aquele sempre foi o caminho mais longo e mais demorado.
Pouco mudou. As casas continuam iguais. As pessoas indiferentes aos vizinhos continuam a cuidar de seus jardins sem graça, sem cor, quase sem flores.
E pensar que um dia aquele lugar aos meus olhos chegou a brilhar.
Acho que vi um rosto conhecido ao longe. Mas apenas acho, não posso ter certeza, estava muito distante e eu não fiz muita questão de olhar mais de perto.
Meus pés clamavam por continuar meu caminho.
Parei diante de uma vitrine e me vi no espelho. Notei que o tempo começou a fazer efeito em meus cabelos, nos cantos de meus olhos, e principalmente dentro de mim.
Enquanto olhava minha imagem, me recordei que recentemente disseram que eu perdi aquele sorriso.
E essa lembrança me fez sorrir. Ali estava ele, o mesmo de sempre. Não estava perdido, só estava bem guardado.
Continuei a seguir por aquela rua. Um passo de cada vez até chegar na esquina. A mesma esquina onde uma história começou e terminou.
Parei.
Olhei mais uma vez para aquela rua e sorri... só para confirmar...
... Ele ainda estava ali
Já fazia muito tempo que eu evitava aquele caminho antes rotineiro. Não por medo, mas por pura conveniência e economia de tempo. A verdade é que aquele sempre foi o caminho mais longo e mais demorado.
Pouco mudou. As casas continuam iguais. As pessoas indiferentes aos vizinhos continuam a cuidar de seus jardins sem graça, sem cor, quase sem flores.
E pensar que um dia aquele lugar aos meus olhos chegou a brilhar.
Acho que vi um rosto conhecido ao longe. Mas apenas acho, não posso ter certeza, estava muito distante e eu não fiz muita questão de olhar mais de perto.
Meus pés clamavam por continuar meu caminho.
Parei diante de uma vitrine e me vi no espelho. Notei que o tempo começou a fazer efeito em meus cabelos, nos cantos de meus olhos, e principalmente dentro de mim.
Enquanto olhava minha imagem, me recordei que recentemente disseram que eu perdi aquele sorriso.
E essa lembrança me fez sorrir. Ali estava ele, o mesmo de sempre. Não estava perdido, só estava bem guardado.
Continuei a seguir por aquela rua. Um passo de cada vez até chegar na esquina. A mesma esquina onde uma história começou e terminou.
Parei.
Olhei mais uma vez para aquela rua e sorri... só para confirmar...
... Ele ainda estava ali
quinta-feira, 4 de julho de 2013
O peso de um nome
Quando eu vi uma pedra dura e fria verter lágrimas... inicialmente não entendi o que estava acontecendo.
Mas então percebi que em algumas de nossas vidas, chega um momento em que o nome fica maior e mais forte do que a pessoa que o carrega.
Por isso precisamos cultivar amigos e flores...
Protestos pelo Brasil
Estamos em meados de 2013 e todos estamos assistindo a onda de protestos que ocorrem em todo o país.
Em muitas cidades do Brasil, o povo tem saído às ruas para se manifestar contra os mais variados motivos.
Por incrível que pareça até na cidade de Britânia GO, ocorreu uma manifestação.
Meu editor, não sei se para me punir ou se para demonstrar que o inconformismo público está em todos os lugares do país, inclusive nos mais ermos, me incumbiu de cobrir esta notícia. E depois de quase 4 horas de viagem eu cheguei na cidade de Britânia que fica na parte mais quente do estado, aonde termina a rodovia.
Tudo parecida muito calmo na rua principal às 9:00h da manhã, e não vi indícios de que havia qualquer tipo de mobilização social. Com a maioria dos estabelecimentos ainda fechados, procurei o bar do Totha (lê-se totia), ponto de encontro dos bebuns e pescadores de plantão. Ali diante de um séquito de pés-inchados que já batiam ponto no local desde à noite anterior, foi informado pelo proprietário do estabelecimento dos boatos espalhados na cidade sobre uma manifestação que pararia a cidade naquele dia.
Seguindo ainda a orientação do mestre Totha, procurei o sindicato rural daquela cidade, onde fui bem recebido pela companheira Dona Terezinha, que no auge dos seus 68 anos de representatividade sindical e militância, estava alvoroçada como uma pré debutante de 14 anos. Fez-me tantas perguntas e falou tanto que me impediu de saber mais detalhes sobre a manifestação, além de que a mesma estava marcada para o meio dia, e que prometia parar a cidade.
Marcamos de nos encontrar na frente do banco às 12:00h. Motivo pelo qual me recolhi para uma sombra até o horário marcado. Enquanto esperava, observei que não precisaria de muito esforço para parar aquela cidade. Talvez apenas, deixando tudo como estava.
Às 11:45 eu já me encontrava no local combinado.
12:00h, e ninguém havia chegado.
12:10h, 12:20, 12:30h e ninguém aparecia. Fato que fez com que eu me dirigisse novamente ao sindicato. E mal parei na porta, fui admoestado pela sexagenária revolucionária que me mandava sair do sol.
A ilustre líder sindical me informou que por conta do "sol que tá muito quente" a manifestação ficou para mais tarde, por volta da 16:00h.
Procurei um restaurante à beira do lago para almoçar, e com atenção voltada para o trânsito das nativas na orla do lago, quase morro engasgado com uma espinha de traíra. Passado o susto me deitei numa rede armada debaixo de uma mangueira ao lado do restaurante, e pedi para ser acordado por volta das 15:00h.
Mas despertei sozinho, às 16:30h. Perguntei ao proprietário porque não havia me acordado, e ele me disse havia esquecido que eu ainda estava por ali.
Sai correndo às pressas em direção ao local do início da passeata. E lá chegando encontrei dona Terezinha solitária, com um boné do MST e uma bandeira vermelha nas costas. Me repreendeu mais uma vez pelo meu atraso. Aquele comportamento era anti cívico, antipatriota.
Pedi desculpas e perguntei pelo restante das pessoas. Ela respondeu que eles ainda iriam chegar. Não tinha chegado ninguém ainda "porque o sol tava muito quente".
Fez sinal para um senhor que aparentava ser da sua idade e empurrava um carrinho de picolé. Assim que o picolezeiro chegou, ela se pôs a gritar com o homem.
De imediato eu interferi partindo em defesa do pobre velho que a tudo ouvia na maior paciência. Mais uma vez ela me repreendeu: Gritando com o velho pois o mesmo era surdo. Escutava muito pouco. Mais uma vez fui obrigado a me desculpar por desconhecer aquele detalhe.
Explicou-me também dona Terezinha, que aquele carrinho de picolé era peça fundamental para o bom andamento do protesto. Usei meu poder de dedução, e imaginei que seria uma forma de chamar a atenção do povo da cidade, a final, com um calor desgraçado daqueles, um picolé era uma visão do paraíso e seria uma isca perfeita para atrair a massa de manifestantes insatisfeitos com o clima.
Mas logo percebi que estava mais uma vez enganado. O carrinho do velho tinha uma caixa de som, um microfone e uma bateria que seriam utilizados pela sindicalista para animar a manifestação.
Por volta das 17:45, quando, nas palavras de dona Terezinha, "o sol baixou", os manifestantes se reuniram na rua em frente ao banco. Eram ao todos sete pessoas. Duas mulheres traziam cartazes, que eu pedi para fotografar, e me surpreendi ao ver que um era uma cartolina com recortes de revistas e formava um trabalho da escola primária para o dia da árvore. O outro era um cartaz oficial da secretaria estadual de saúde da campanha de vacinação no qual aparecia a imagem do Zé Gotinha.
Sequer tive tempo para argumentar alguma coisa com os manifestantes, pois dona Terezinha puxou aquela multidão de sete pessoas com gritos de ordem no microfone que, com tanta interferência, mais parecia uma caixa de abelhas.
Eu com minha câmera comecei a registrar o momento, enquanto dona Terezinha conclamava o povo a pegar em armas, ir à luta, que éramos poucos mas éramos valentes! E por aí foi levando.
Descíamos a rua principal que termina na praça em frente ao lago
No meio do percurso dois manifestantes, legítimos representantes dos povos indígenas, começaram a dar trabalho por conta do alto estado de embriagues no qual se encontravam. O primeiro vomitou para cima e se sujou todo. O segundo caiu sobre um tambor cheios de vassouras à venda no supermercado Rio Vermelho.
Instantaneamente, dona Terezinha utilizando sua autoridade e longa experiência, dispensou a presença dos "vândalos" com um empurrão em cada um. Os dois, abraçados para não cair, rumaram em direção ao bar do Totha.
Discretamente, a líder sindical, se desculpou com esse singelo representante da imprensa, alertando que se tratava de fatos isolados e que em nada iriam afetar na magnitude do evento.
Notei também que a partir deste episódio o semblante da ativista se alterou para mais preocupado. Logo ela me informou que temia alguma repressão pelas autoridades do governo. O que não tardou para acontecer.
Durante a passeata, aproveitei para conhecer os vários motivos pelo qual cada um daqueles cidadãos manifestavam. Um manifestava pelo passe livre para entrar no Varandão (a mais famosa, mais movimentada e única casa de shows da cidade). Outro manifestava contra as muriçocas que com suas picadas implacáveis deformavam a beleza das turistas que se bronzeavam nas areias da praia do Lago dos Tigres. Outra manifestava contra a cantora Joelma da banda Calypso que ameaçava virar crente e abandonar a carreira artística. No momento em que eu estava entrevistando uma manifestante, que manifestava contra um bando de capivaras que havia destruído sua roça de mandiocas, dona Terezinha me puxou pelo braço para que eu voltasse minhas lentes para uma cena de brutalidade policial.
Tratava-se do guarda municipal, responsável pela manutenção do canteiro da praça, que tentava à pauladas, espantar uma vaca que comia as flores do canteiro central.
Logo a manifestação ganhou um foco único. À defesa das vacas, que segundo alguém lembrou de ter assistido na novela Caminho das Índias, são animais sagrados.
O policiamento foi reforçado pelo vigia noturno da prefeitura que chegava de uma pescaria. Correu para a praça onde, em conjunto com o companheiro da praça, formaram um cordão de isolamento de duas pessoas.
O início de tumulto entre os 5 manifestantes e os dois guardas municipais (empurra-empurra, esfrega-esfrega), aos olhos do povo pareceu um forró-bodó. Equivoco este que fez com que mais pessoas se dirigissem à praça.
Alguns playboys com seus carros rebaixados e toneladas de som no interior dos veículos começaram a tocar um funk proibidão, caixas de isopor vendendo cerveja foram aparecendo também, arrastando uma infinidade de jovens nativas de pouca roupa e muita disposição para a bagunça.
A manifestação acabou virando um carnaval fora de época. E eu, enquanto ainda estava sóbrio, registrei todo o movimento.
Por mais que eu tentasse convencer meu editor de que os fatos narrados nesta matéria realmente aconteceram, e que não se tratava de uma piada de mau gosto, acabei perdendo o emprego logo que retornei à capital.
Mas felizmente estamos em julho. Vou receber minha primeira parcela do Seguro Desemprego e vou tirar umas férias.
Estou pensando em ir para Britânia...
... Não tem nada lá...
... Mas por algum motivo, aquilo é bom demais.
Em muitas cidades do Brasil, o povo tem saído às ruas para se manifestar contra os mais variados motivos.
Por incrível que pareça até na cidade de Britânia GO, ocorreu uma manifestação.
Meu editor, não sei se para me punir ou se para demonstrar que o inconformismo público está em todos os lugares do país, inclusive nos mais ermos, me incumbiu de cobrir esta notícia. E depois de quase 4 horas de viagem eu cheguei na cidade de Britânia que fica na parte mais quente do estado, aonde termina a rodovia.
Tudo parecida muito calmo na rua principal às 9:00h da manhã, e não vi indícios de que havia qualquer tipo de mobilização social. Com a maioria dos estabelecimentos ainda fechados, procurei o bar do Totha (lê-se totia), ponto de encontro dos bebuns e pescadores de plantão. Ali diante de um séquito de pés-inchados que já batiam ponto no local desde à noite anterior, foi informado pelo proprietário do estabelecimento dos boatos espalhados na cidade sobre uma manifestação que pararia a cidade naquele dia.
Seguindo ainda a orientação do mestre Totha, procurei o sindicato rural daquela cidade, onde fui bem recebido pela companheira Dona Terezinha, que no auge dos seus 68 anos de representatividade sindical e militância, estava alvoroçada como uma pré debutante de 14 anos. Fez-me tantas perguntas e falou tanto que me impediu de saber mais detalhes sobre a manifestação, além de que a mesma estava marcada para o meio dia, e que prometia parar a cidade.
Marcamos de nos encontrar na frente do banco às 12:00h. Motivo pelo qual me recolhi para uma sombra até o horário marcado. Enquanto esperava, observei que não precisaria de muito esforço para parar aquela cidade. Talvez apenas, deixando tudo como estava.
Às 11:45 eu já me encontrava no local combinado.
12:00h, e ninguém havia chegado.
12:10h, 12:20, 12:30h e ninguém aparecia. Fato que fez com que eu me dirigisse novamente ao sindicato. E mal parei na porta, fui admoestado pela sexagenária revolucionária que me mandava sair do sol.
A ilustre líder sindical me informou que por conta do "sol que tá muito quente" a manifestação ficou para mais tarde, por volta da 16:00h.
Procurei um restaurante à beira do lago para almoçar, e com atenção voltada para o trânsito das nativas na orla do lago, quase morro engasgado com uma espinha de traíra. Passado o susto me deitei numa rede armada debaixo de uma mangueira ao lado do restaurante, e pedi para ser acordado por volta das 15:00h.
Mas despertei sozinho, às 16:30h. Perguntei ao proprietário porque não havia me acordado, e ele me disse havia esquecido que eu ainda estava por ali.
Sai correndo às pressas em direção ao local do início da passeata. E lá chegando encontrei dona Terezinha solitária, com um boné do MST e uma bandeira vermelha nas costas. Me repreendeu mais uma vez pelo meu atraso. Aquele comportamento era anti cívico, antipatriota.
Pedi desculpas e perguntei pelo restante das pessoas. Ela respondeu que eles ainda iriam chegar. Não tinha chegado ninguém ainda "porque o sol tava muito quente".
Fez sinal para um senhor que aparentava ser da sua idade e empurrava um carrinho de picolé. Assim que o picolezeiro chegou, ela se pôs a gritar com o homem.
De imediato eu interferi partindo em defesa do pobre velho que a tudo ouvia na maior paciência. Mais uma vez ela me repreendeu: Gritando com o velho pois o mesmo era surdo. Escutava muito pouco. Mais uma vez fui obrigado a me desculpar por desconhecer aquele detalhe.
Explicou-me também dona Terezinha, que aquele carrinho de picolé era peça fundamental para o bom andamento do protesto. Usei meu poder de dedução, e imaginei que seria uma forma de chamar a atenção do povo da cidade, a final, com um calor desgraçado daqueles, um picolé era uma visão do paraíso e seria uma isca perfeita para atrair a massa de manifestantes insatisfeitos com o clima.
Mas logo percebi que estava mais uma vez enganado. O carrinho do velho tinha uma caixa de som, um microfone e uma bateria que seriam utilizados pela sindicalista para animar a manifestação.
Por volta das 17:45, quando, nas palavras de dona Terezinha, "o sol baixou", os manifestantes se reuniram na rua em frente ao banco. Eram ao todos sete pessoas. Duas mulheres traziam cartazes, que eu pedi para fotografar, e me surpreendi ao ver que um era uma cartolina com recortes de revistas e formava um trabalho da escola primária para o dia da árvore. O outro era um cartaz oficial da secretaria estadual de saúde da campanha de vacinação no qual aparecia a imagem do Zé Gotinha.
Sequer tive tempo para argumentar alguma coisa com os manifestantes, pois dona Terezinha puxou aquela multidão de sete pessoas com gritos de ordem no microfone que, com tanta interferência, mais parecia uma caixa de abelhas.
Eu com minha câmera comecei a registrar o momento, enquanto dona Terezinha conclamava o povo a pegar em armas, ir à luta, que éramos poucos mas éramos valentes! E por aí foi levando.
Descíamos a rua principal que termina na praça em frente ao lago
No meio do percurso dois manifestantes, legítimos representantes dos povos indígenas, começaram a dar trabalho por conta do alto estado de embriagues no qual se encontravam. O primeiro vomitou para cima e se sujou todo. O segundo caiu sobre um tambor cheios de vassouras à venda no supermercado Rio Vermelho.
Instantaneamente, dona Terezinha utilizando sua autoridade e longa experiência, dispensou a presença dos "vândalos" com um empurrão em cada um. Os dois, abraçados para não cair, rumaram em direção ao bar do Totha.
Discretamente, a líder sindical, se desculpou com esse singelo representante da imprensa, alertando que se tratava de fatos isolados e que em nada iriam afetar na magnitude do evento.
Notei também que a partir deste episódio o semblante da ativista se alterou para mais preocupado. Logo ela me informou que temia alguma repressão pelas autoridades do governo. O que não tardou para acontecer.
Durante a passeata, aproveitei para conhecer os vários motivos pelo qual cada um daqueles cidadãos manifestavam. Um manifestava pelo passe livre para entrar no Varandão (a mais famosa, mais movimentada e única casa de shows da cidade). Outro manifestava contra as muriçocas que com suas picadas implacáveis deformavam a beleza das turistas que se bronzeavam nas areias da praia do Lago dos Tigres. Outra manifestava contra a cantora Joelma da banda Calypso que ameaçava virar crente e abandonar a carreira artística. No momento em que eu estava entrevistando uma manifestante, que manifestava contra um bando de capivaras que havia destruído sua roça de mandiocas, dona Terezinha me puxou pelo braço para que eu voltasse minhas lentes para uma cena de brutalidade policial.
Tratava-se do guarda municipal, responsável pela manutenção do canteiro da praça, que tentava à pauladas, espantar uma vaca que comia as flores do canteiro central.
Logo a manifestação ganhou um foco único. À defesa das vacas, que segundo alguém lembrou de ter assistido na novela Caminho das Índias, são animais sagrados.
O policiamento foi reforçado pelo vigia noturno da prefeitura que chegava de uma pescaria. Correu para a praça onde, em conjunto com o companheiro da praça, formaram um cordão de isolamento de duas pessoas.
O início de tumulto entre os 5 manifestantes e os dois guardas municipais (empurra-empurra, esfrega-esfrega), aos olhos do povo pareceu um forró-bodó. Equivoco este que fez com que mais pessoas se dirigissem à praça.
Alguns playboys com seus carros rebaixados e toneladas de som no interior dos veículos começaram a tocar um funk proibidão, caixas de isopor vendendo cerveja foram aparecendo também, arrastando uma infinidade de jovens nativas de pouca roupa e muita disposição para a bagunça.
A manifestação acabou virando um carnaval fora de época. E eu, enquanto ainda estava sóbrio, registrei todo o movimento.
Por mais que eu tentasse convencer meu editor de que os fatos narrados nesta matéria realmente aconteceram, e que não se tratava de uma piada de mau gosto, acabei perdendo o emprego logo que retornei à capital.
Mas felizmente estamos em julho. Vou receber minha primeira parcela do Seguro Desemprego e vou tirar umas férias.
Estou pensando em ir para Britânia...
... Não tem nada lá...
... Mas por algum motivo, aquilo é bom demais.
quinta-feira, 11 de abril de 2013
Hoje está passando um filme de terror
Na saida do bar, ainda olhei para tras.
Vi que o homem magro sentado no banco alto, colocara o cigarro aceso entre as cordas, perto das paletas e voltava a dedilhar a introdução de outra música que eu não ficaria para ouvir na companhia dos outros tres ou quatro fracassados em suas mesas.
Passei no balcão de deixei uma nota de baixo valor para o barman que fingiu não me ver para não ter que me cumprimentar. Filei uns amendoins rancentos e tomei a saída para à rua escura.
E ao sair, a rua estava mais que escura. Estava gélida, morbida, assustadora. Parei ao primeiro passo. Ainda pensando em retroceder, mas nada que estivesse ali naquela escuridão poderia ser pior que o ambiente que eu deixava para trás.
Eu estava errado...
Vi que o homem magro sentado no banco alto, colocara o cigarro aceso entre as cordas, perto das paletas e voltava a dedilhar a introdução de outra música que eu não ficaria para ouvir na companhia dos outros tres ou quatro fracassados em suas mesas.
Passei no balcão de deixei uma nota de baixo valor para o barman que fingiu não me ver para não ter que me cumprimentar. Filei uns amendoins rancentos e tomei a saída para à rua escura.
E ao sair, a rua estava mais que escura. Estava gélida, morbida, assustadora. Parei ao primeiro passo. Ainda pensando em retroceder, mas nada que estivesse ali naquela escuridão poderia ser pior que o ambiente que eu deixava para trás.
Eu estava errado...
sábado, 9 de fevereiro de 2013
Na visita
Quando aquela porta se abriu, lá estava ele...
Era como ver você naquela idade. Incrível a semelhança entre duas criaturas.
- Teu sangue não negou tua origem.- disse ainda com a voz embargada pela emoção.
Ele simplesmente sorriu e correu a chama-lo.
Entrei naquela sala, sentindo como se entrasse em um portal para aquele tempo.
Fiquei ali olhando as suas fotos.
Imaginando se tudo se repetiria novamente. As mesmas corridas, as mesmas brigas, os mesmos sonhos.
Você se demorou a descer e eu tive que sair.
Deixei seu garoto sem entender muita coisa.
Na verdade, nem mesmo eu conseguiria explicar.
Simplesmente eu fui
Era como ver você naquela idade. Incrível a semelhança entre duas criaturas.
- Teu sangue não negou tua origem.- disse ainda com a voz embargada pela emoção.
Ele simplesmente sorriu e correu a chama-lo.
Entrei naquela sala, sentindo como se entrasse em um portal para aquele tempo.
Fiquei ali olhando as suas fotos.
Imaginando se tudo se repetiria novamente. As mesmas corridas, as mesmas brigas, os mesmos sonhos.
Você se demorou a descer e eu tive que sair.
Deixei seu garoto sem entender muita coisa.
Na verdade, nem mesmo eu conseguiria explicar.
Simplesmente eu fui
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
Na passagem pela vila
Naquela hora, na vila, o sol já tinha se ido e a noite começava a cair sobre aquele povo simples que se reunia às portas de suas modestas casas.
Ali naquele horário, as mulheres se reuniam de fronte aos portões falando da vida de outras pessoas ausentes, pois certamente estavam ante outros portões falando da vida daquelas. E enquanto isso, suas crianças brincavam nas ruas de terra, correndo por entre as casas, a crescer um dia depois do outro.
O tempo parecia correr mais lento naquelas cercanias. E não fosse o calor infernal, poderia se dizer que ali se assemelhava ao próprio paraíso.
De longe ouviu-se um berrante tocar, anunciando a chegada de alguns homens que tocavam gado. As mulheres então se recolheram cada uma para sua casa levando consigo um ou outro moleque que protestava.
Ao adentrarem na cidade, o homem do berrante que ia na dianteira sobre um grande e fogoso cavalo baio, tocou mais uma vez, e em seguida deu o seu aboio sofrido de quem vinha cavalgando há mais de mês sem ver vivalma pelo caminho.
Aquele aboio fez sair à janela a filha de Maria das Graças, de nome Rosa, que debruçada na janela ficou a olhar e suspirar para aquele homem rude e coberto da poeira da estrada.
O homem, de nome José Lúcio, era um vaqueiro jovem porém experiente, que sobre aquele cavalo garboso fazia lembrar os fidalgos das velhas histórias de contos de fadas.
Ao passar em frente à janela do casarão, seus olhares se cruzaram. Enquanto passava o gado, ele puxou as rédeas para que sua montaria passasse mais devagar. Os olhos dela eram dois sois enquanto os dele eram duas luas a refletir o brilho dos olhos dela.
Não disseram sequer uma palavra.
Quando ela reparou que o vaqueiro ficava para trás, alcançou na mesa uma rosa, e imediatamente jogou para ele que ao agarrá-la, levou imediatamente ao rosto para sentir-lhe o cheiro. Por instantes ele fechou os olhos e imaginou que aquele seria o cheiro dela.
Imediatamente ela fechou a janela, ato que o fez apertar o passo, esporando seu cavalo para sair atrás da boiada que já ia ao longe.
Logo na saída da vila ele parou e aboiou mais uma vez.
Desta vez um aboio mais triste, ainda mais sofrido, mas ao mesmo tempo empolgante, como se dissesse para quem ouvisse: "Me espera que ainda volto".
E foi seguindo o seu caminho, para aonde quer que ele o levasse.
Ali naquele horário, as mulheres se reuniam de fronte aos portões falando da vida de outras pessoas ausentes, pois certamente estavam ante outros portões falando da vida daquelas. E enquanto isso, suas crianças brincavam nas ruas de terra, correndo por entre as casas, a crescer um dia depois do outro.
O tempo parecia correr mais lento naquelas cercanias. E não fosse o calor infernal, poderia se dizer que ali se assemelhava ao próprio paraíso.
De longe ouviu-se um berrante tocar, anunciando a chegada de alguns homens que tocavam gado. As mulheres então se recolheram cada uma para sua casa levando consigo um ou outro moleque que protestava.
Ao adentrarem na cidade, o homem do berrante que ia na dianteira sobre um grande e fogoso cavalo baio, tocou mais uma vez, e em seguida deu o seu aboio sofrido de quem vinha cavalgando há mais de mês sem ver vivalma pelo caminho.
Aquele aboio fez sair à janela a filha de Maria das Graças, de nome Rosa, que debruçada na janela ficou a olhar e suspirar para aquele homem rude e coberto da poeira da estrada.
O homem, de nome José Lúcio, era um vaqueiro jovem porém experiente, que sobre aquele cavalo garboso fazia lembrar os fidalgos das velhas histórias de contos de fadas.
Ao passar em frente à janela do casarão, seus olhares se cruzaram. Enquanto passava o gado, ele puxou as rédeas para que sua montaria passasse mais devagar. Os olhos dela eram dois sois enquanto os dele eram duas luas a refletir o brilho dos olhos dela.
Não disseram sequer uma palavra.
Quando ela reparou que o vaqueiro ficava para trás, alcançou na mesa uma rosa, e imediatamente jogou para ele que ao agarrá-la, levou imediatamente ao rosto para sentir-lhe o cheiro. Por instantes ele fechou os olhos e imaginou que aquele seria o cheiro dela.
Imediatamente ela fechou a janela, ato que o fez apertar o passo, esporando seu cavalo para sair atrás da boiada que já ia ao longe.
Logo na saída da vila ele parou e aboiou mais uma vez.
Desta vez um aboio mais triste, ainda mais sofrido, mas ao mesmo tempo empolgante, como se dissesse para quem ouvisse: "Me espera que ainda volto".
E foi seguindo o seu caminho, para aonde quer que ele o levasse.
Assinar:
Postagens (Atom)