terça-feira, 24 de julho de 2012

Licor de Cassis e outros sabores

Era uma tarde de domingo, e estávamos em um Shopping da cidade.

Logo na chegada, dois amigos me chamaram para ver uma garota. Era ela linda como tudo o que é jovem costuma ser. Seus negros cabelos pendiam em duas tranças, os olhos redondos e espertos brilhavam como duas gemas, sorriso contagiante, um corpo esculturalmente bem colocado em um vestidinho preto que acentuava as pernas mais lindas que eu já vira em uma meia calça preta. E aparentemente não passava dos 14 anos de idade, principalmente porque as amigas que a acompanhavam pareciam ser ainda mais jovens.

Briguei com meus amigos. Disse a eles que ela era quase uma criança. E em tom de censura lhes disse que se colocassem em seus lugares. Todos já tínhamos mais de 20 anos, e não era certo flertar com uma criança. Lembro-me de dizer que havia o errado, o muito errado e depois isso.
Naquele dia assistíamos algumas apresentações de dança do ventre em uma feira árabe. E meus amigos babavam nas odaliscas que se achavam. Ao final de cada apresentação eu ficava rindo dos caras abordando as dançarinas para ver se conseguiam alguma atenção. Elas que já estavam com a vaidade à mil, se imaginavam as senhoras do destino e esnobavam cada rapaz na sua forma particular.
Eu ria de tudo aquilo. Dos foras, das tiradas, de cada tentativa mal sucedida. O pouco que eu já sabia da vida, tinha certeza de que toda e qualquer investida daquela forma não daria em nada. Por isso, quando a situação passou do cômico ao deprimente resolvi sair.
Saí da feira e fui até uma revistaria que ficava nocentro do shopping. Para minha surpresa, a garotinha de tranças estava do meu lado olhando uma revista de culinária japonesa.
Instintivamente eu sorri para ela, que me devolveu o sorriso. Automaticamente soltei um "oi".
E em resposta, seu "oi" veio seguido de uma pergunta: "você também gosta de comida japonesa, não gosta?"
- Sim eu gosto.- respondi - como você sabe?
- Eu logo imaginei por causa da sua camiseta. - eu vestia uma camiseta com um ideograma japonês - o que significa esse símbolo?
- É o nome da minha academia de karatê em japonês - respondi, achando graça da percepção da garotinha.
E ficamos ali conversando mais um pouco.
E em determinado momento da conversa, ela muito atenta, reparou que eu conversava com ela como se conversasse com uma criança.
- Quantos anos você acha que eu tenho?- ela me perguntou.
Pensei um pouco, porque para agrada-la eu iria mentir a idade. Mulheres são criaturas interessantes. Quando são novas, adoram se passar por mais velhas, e quando mais velhas adoram quando dizemos que tem menos idade do que aparenta.- 16 - respondi, imaginando que ela teria uns 14 anos.
- Você errou! - disse ela sorrindo - Eu tenho 18 anos!
Meu silêncio instantâneo, somado à minha expressão de susto e surpresa, fez com que ela se divertisse mais ainda. Então ela maldosamente disse:
- Na minha idade eu já posso fazer muita coisa...
Eu sempre fui rápido em perceber o perigo, e naquele instante eu percebi que a partir daquele ponto minha vida nunca mais seria a mesma.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Antes da chuva

Eis que mais um dia se vai.
Foi só mais um dia. Mas a cada dia parece passar mais rápido.
Ela me disse que se sentia só, e por isso eu vim. Não que minha companhia pudesse aplacar sua solidão. Mas perto dela eu também não estava só. Por isso fiquei. E com o tempo fui ficando. E quando vi, já não podia mais sair.
Saio de casa sem muita animação. Acendo um cigarro não por vontade, mas por força do hábito.
Vícios que a inconsciência alimenta a cada dia com cada decisão incorreta.
Um carro canta os pneus ao dobrar a esquina, não consegue fazer a curva e atinge o poste.
Corro alguns metros e paro. Fico olhando a cena até que o motorista sai do veículo. Cambaleia um pouco e diz que está tudo bem. Então me viro e vou embora. O socorro já vem. E eu já vou.
Não existem borboletas pelos caminhos em que passo.
Não existem flores nos caminhos em que ando.
Não pode haver sentido em uma vida sem sentido.
Acho que a maioria das pessoas só vivem porque tem medo de morrer...
... Eu não tenho medo de morrer e ainda vivo...
... a vida é um mistério.
Apresso o passo porque vai começar a chover

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Passo a Passo

Então a chuva passou.
Deixei o abrigo precário com teto de palha e fui caminhando em direção à estrada
Ao meu redor, encontro um mundo de poças, lama e água que desce continuamente em uma enxurrada constante.
Meus pés descalços no começo tentam evitar a água. Mas logo cada passo desafia o oceano enlameado.
Sigo em frente por uma estrada desconhecida.
Passos firmes, pés molhados e um olhar mais adiante.
Quem conhece o chão e acaba de se levantar, não tem medo de escorregar.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Amores Impossíveis

Quando sentei aqui, pensei em escrever sobre cavaleiros, batalhas e amores impossíveis.
Talvez escreveria sobre vampiros, lobisomens, criaturas amaldiçoadas e seus amores impossíveis.

Ou sobre a vida no campos, os animais, a natureza os homens simples e seus amores impossíveis.

Decidi por fim escrever sobre a política, as mazelas da humanidade, e sobre os amores impossíveis.
Mas desistir de escrever sobre quase tudo.

E agora me pego escrevendo sobre os amores impossíveis.

Pois amar é um ato quase impossível nos dias de hoje.
A visão, a surpresa, meu olhar o teu sorriso...
Teu sorriso, as fragrâncias, os sabores e o teu beijo...
O teu beijo, o meu beijo, a felicidade e a realidade...
A realidade a distância, as diferenças e o medo...
O medo, os desejos, os instantes e a partida...
A partida, as lagrimas, teu cabelo e meu olhar...
Meu olhar, a chuva, o vento e o tempo...
O tempo, a saudade, o esquecimento e o descaso...
Teu descaso, as lembranças, a dor e a saudade...
A saudade, as lembranças, as músicas e os lugares...
Os lugares, as músicas, os sonhos e a incerteza...
A incerteza, o telefone, meu sorriso e a esperança...
A esperança... Ah doce esperança...
Alimento predileto dos amores impossíveis.