segunda-feira, 21 de maio de 2012

Mente

Às vezes, um pensamento me toma.
Um pensamento de ser melhor.
Um pensamento que me eleva a uma condição superior. Que faz com que eu me recorde que sou um ser humano. E que isso é muita coisa.
Esse pensamento, quando recordado,  tranquiliza, organiza a mente e faz crescer a esperança.
Uma pena que não o elevo ainda à condição essencial em meu interno.
Certamente os dias seriam bem melhores com sua companhia frequente.


quarta-feira, 9 de maio de 2012

Sombras em minha vida


Da minha janela eu acompanhava a sombra do prédio de escritórios onde trabalho que se projetava no telhado de uma casa bem diante da janela do meu escritório.
Era uma sombra definida, com linhas retas e bem traçadas que coincidentemente acompanha as fileiras de telhas conforme se movia no decorrer do dia. O dia passava lento e a sombra se movia exata, perfeita, simétrica às linhas das telhas. E eu de minha janela ficava facinado com a desenvoltura de seu caminhar pelo telhado, quase desfilando. Entre um telefonema e outro, um atendimento ou a execução de um serviço qualquer, eu estava sempre acompanhando aquela sombra.
Com o tempo eu dispensava até o relógio. Sabia que quando a sombra chegava na vigésima sétima fileira era a hora do cafezinho. Quando chegava na segunda fileira superior já era hora de sair.
Sem perceber eu me afeiçoava àquela sombra.
Sentia tristeza nos dias nublados, que me impediam de vê-la

Certo dia, a sombra ficou diferente. A linha reta foi maculada por alguma coisa que projetava uma barriga na minha sombra preferida. Era uma barriga enorme, feia. E eu, da minha janela, já sabia aqui comigo que sombras não ficam grávidas.
Durante toda a semana minha sombra estava ali, violada, indefinida. E no decorrer daquela semana aquilo me incomodava a ponto de fechar as persianas para não ter que ver aquela abominação do que outrora foi perfeito.
Logo descobri que aquela barriga era causada por uma antena instalada no alto do prédio.
Uma antena tipo parabólica, arredondada, que no local que se encontrava instalada danificou minha sombra completamente.
Conversei com o responsável pela manutenção e ele me disse que a antena havia sido instalada a pedido dos escritorios que possuiam aparelhos de televisão e queriam melhor imagens em suas transmissões.
Mas e minha sombra? Como ficaria?
Inicialmente comecei um abaixo assinado para retirar a antena de televisão. Mas ninguém si dignou em assinar. Então, fiz uma reclamação formal à empresa que geria o prédio. Mas também fui ignorado.
Depois de algumas semanas, sem sucesso na retirada da antena de forma pacífica, eu resolvi apelar para meios mais drásticos.
Subi ao terraço munido de um machado que retirei do painel de controle de incêndios e retirei a antena por conta própria.
Lá de cima, eu a vi cair sobre alguns carros. Uns dois ou tres eu acho. Mas meu olhar tinha outra direção a buscar. Foi então que eu a vi novamente ali. Linda, perfeita e reta. A minha amada sombra diária.
Mas eu a vi por pouco tempo ate ser contido pelos seguranças e policiais que me conduziram para a delegacia.
Fui julgado.
Condenado.
E aqui estou a me apaixonar por essa nova sombra listrada que se projeta da janela de minha cela.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

PS. eu te amo!!!

Oi amor, sei que você não gosta que eu te chame assim. Mas vou continuar insistindo até você se acostumar.
Resolvi te escrever uma carta. E é isso que estou fazendo agora.
Peguei papel, caneta, e saí de casa para procurar um lugar que me inspirasse a colocar em palavras todos os meus sentimentos. Mas como aqui não tem árvores com sombras sobre a grama. Não tem jardins, nem bibliotecas. Estou no balcão da lanchonete. (Inclusive, essa manchinha marrom no canto da folha é café que derramou).
Nossa! No rádio está tocando aquela música que você gosta. Aquela que começa assim: Na-na-na-nannnn... Pan-Pan-Pan Na-na-na-nam... Eu não sei  o nome da música, porque é em inglês, mas acho que vc vai lembrar.
Eu estava vindo pra cá quando um guarda me abordou. Pediu meus documentos, perguntou de onde eu vinha, onde eu ia e o que ia fazer. Quando eu comecei a explicar ele me jogou os documentos e me dispensou. Não entendi muito bem o porquê daquela atitude. Pergunta e não espera a gente responder. Talvez seja por conta daquele meu problema. Mas eu já estou indo no fonoaudiólogo. E com fé em deus tudo vai ficar bem.
Acabaram de limpar o chão. Ainda está úmido e com um cheiro gostoso de desinfetante e sabão em pó.
Mais cedo passei na tua casa e sua mãe estava fazendo aqueles bolinhos de chuva. Comi uma porção deles, até ela me mandar embora de lá.
Essa noite eu sonhei com você. Mas não consigo me lembrar sobre o que foi o sonho. Nem me recordar se foi bom ou se foi ruim. Mas só de sonhar com você, já é bom. Fico pensando se você sonha comigo também.
Aqui está tudo bem. Não precisa se preocupar comigo. Eu já fico preocupado demais da conta com você aí sozinha. Se eu ao menos imaginar que você está preocupada comigo, eu fico mais preocupado ainda.
Estou sentindo falta das tuas ligações. Faz mais de um ano. Não! Faz quase dois anos que você não me liga. Da ultima vez que você me ligou, foi lá na oficina. Ah eu não esqueço disso. Você disse "Alô?", eu respondi "Alô". Você perguntou: "Quem está falando?" eu disse que era eu e você disse: "Oi tudo bem com você? Chama o meu pai lá pra mim?"
Nossa foi muito legal. Você me perguntar se estava tudo bem comigo. De lá pra cá tenho pensado muito em nós dois. Não vejo a hora de você voltar para cá.
Você bem que podia abandonar esse tal mestrado e voltar logo. A gente casava, e ia morar no quartinho no fundo da oficina.
Não precisa se preocupar com nada. Estou certo de que esse seu noivo irá entender. Nada vence o amor quando o amor é verdadeiro. Que nem a janete falou na novela das oito essa semana. Nossa! Mas na hora eu lembrei de você, até chorei. Disse para a dona Carminha que tinha entrado um cisco no meu olho. Vai que ela conta pro pessoal lá da pensão? O povo ia tudo rir de mim.
Meu amor, vou ter que parar de escrever agora, porque já está quase na hora de voltar para a oficina. Se eu atrasar mais uma vez essa semana seu pai acaba me despedindo. Já não chega o carro que eu deixei desengatado e desembestou rua abaixo na semana passada.
A dona da lanchonete já me perguntou umas quatro vezes se eu vou comer alguma coisa. Mas eu acho que ela está é curiosa para saber o que estou escrevendo.
Desculpe meus erros de português.
PS. Como não sei o seu endereço, vou entregar deixar na sua casa e pedir para sua mãe entregar quando você chegar.
Com amor
Claudinho