Já fazia mais de duas horas que eu estava a te esperar.
O tempo passava e nada.
A chuva que caiu forte no início agora não passava de uma pequena garoa que deixava o clima molhado por mais tempo.
As nuvens baixas refletiam as luzes da cidade. E por um momento tive a sensação de que aquilo era um Dejavú.
A cidade já dormia.
De vez em quando algum carro quebrava a monotonia da noite, e passava bem devagar por entre as poças da rua mal iluminada.
Você sempre foi muito pontual. E algo me dizia que as coisas poderiam ter saído diferente do que havíamos combinado.
Por um instante observei uma silhueta por entre as marquises do lado oposto da rua. E ela me fez lembrar você.
Corri em direção à aquele vulto. Mas ele se distanciava mais rápido que eu.
Era como se eu estivesse em um pesadelo.
Eu te gritava, mas você não me ouvia.
E num momento específico percebi que não conseguia me mover e minha voz não saía.
O pior de um pesadelo é quando você descobre estar acordado.
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
FERIDAS
Impressiona-me o fato de algumas feridas demorarem tanto para cicatrizar.
O tempo, que é o melhor remédio para curar tudo, passa. As vezes rápido, as vezes lento. E a ferida está ali. Aberta. Profunda. Exposta à todos por mais que eu tente esconder.
Basta uma lembrança, uma breve recordação, que logo a ferida se apresenta.
Então vem a dor.
Então vem o sofrimento.
Então vem aquela vontade de poder voltar no tempo e concertar os erros cometidos.
Tudo passa. Mas o sentimento de incapacidade e descontrole perante algumas feridas parecem que retardam ainda mais a esperada cura.
Fecho os olhos e tento esquecer.
Mas esquecer ainda é muito dificil. Principalmente quando o que nos fere está tão perto.
Tão perto, porém tão longe.
O tempo, que é o melhor remédio para curar tudo, passa. As vezes rápido, as vezes lento. E a ferida está ali. Aberta. Profunda. Exposta à todos por mais que eu tente esconder.
Basta uma lembrança, uma breve recordação, que logo a ferida se apresenta.
Então vem a dor.
Então vem o sofrimento.
Então vem aquela vontade de poder voltar no tempo e concertar os erros cometidos.
Tudo passa. Mas o sentimento de incapacidade e descontrole perante algumas feridas parecem que retardam ainda mais a esperada cura.
Fecho os olhos e tento esquecer.
Mas esquecer ainda é muito dificil. Principalmente quando o que nos fere está tão perto.
Tão perto, porém tão longe.
''E até hoje, quem se lembra
Diz que: Não foi o caminhão
Nem a curva fatal
E nem a explosão
Johnny era fera demais
Prá vacilar assim
E o que dizem é que foi tudo
Por causa de um coração partido
Um coração"
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
Mega Sena no Puteiro
Na cidade só se falava da notícia.
Deu na TV que o acertador das 6 dezenas do concurso acumulado da mega-sena era daquela cidade.
O bá fá fá era por todo o canto. Mulheres desconfiadas dos maridos que demoravam para chegar em casa. Patrões ligando educamente para os empregados que faltaram naquele dia. Em fim, todos de olho para descobrir quem havia sido o sortudo.
Eis que já tarde da noite Zé Biriba, o malandro mais trambiqueiro da cidade, entra porta a dentro gritando:
- Fecha a porta Seu Antão! Quem tá de fora num entra e quem tá dentro não sai! Bebida e mulher pra todo mundo! Por conta do GANHADOR DA MEGA SENA!
Passado o susto inicial, a turma toda grita em um só coro:
- VIVA O ZÉ BIRIBA! VIVA!
Eita lasquera! Aquela noite foi um estrupício na zona alegre da cidade.
Todo mundo queria abraçar o Zé Biriba. Eram tantos amigos contando histórias heróicas e nobres à respeito do felizardo.
Seu Doca não parava de dizer o quanto aquele homem era uma alma caridosa. O quanto aquele homem ajudava as outras pessoas. E ele sabia. Sempre soube. E foi por esse motivo que tinha tido a paciência de esperar o tempo para receber seus alguéis em atraso lá da pensão.
As meninas disputavam o biribinha à tapa. Cada uma querendo para si a atenção e os chamegos do homem. E aquilo que era homem diziam as mais assanhadas.
Seu Antão com um sorrizo na boca que ia de orelha a olhera, se esforçava para servir a freguesia. Tudo do bom e do melhor. Cachaça, Cerveja, "Uisqui" e até as "Champanha" reservadas para a festa do prefeito foram estouradas. "Quem diria - pensava seu Antão - um bosta que nem o Zé Biriba acertar a sorte grande. E pensar que eu quase tinha pedido o Manelão barrar a entrada do Zé enquanto o safado não pagasse a dívida aqui no cabaré".
Pena que a noite foi pequena para tanta alegria.
Aos poucos, cada um ia seguindo seu rumo. Afinal, não tem santo ou fígado que aguente tanta bebida.
Quem não tinha ganhado na Mega Sena, tinha que trabalhar daqui a pouco.
Alguns, por amizade mesmo, queriam passar mais tempo com o Zé. Gente boa tava alí.
Mas seu Antão foi desligando o som. Colocando o povo para tomar rumo. Que deixassem o homem descansar. Procurassem o Dr. José mais tarde, depois da hora do almoço.
E o Ilustríssimo convidado abraçado com duas garotas desmaiadas, mas agarradas ao seu corpo, estava caído em um canto escuro da boate e foi levado ao melhor quarto do estabelecimento pelo proprietário Seu Antão e o porteiro Manelão.
Há muito passava do meio dia quando Zé Biriba saíu do quarto. Amarrotado. Cara de ressaca. Uma sede desgraçada. Passou por toda extensão do estabelecimento e encostou no balcão onde seu Antão contabilizava maravilhado a conta da noitada rescente.
- Olha José! Foi a maior conta, quero dizer, festa aqui, desde que nós inauguramos. Tudo por conta do ganhador da mega sena!
- É verdade seu Antão. Quando a gende descobrir quem foi que ganhou, a gente faz outra, combinado?
E o resto, é melhor nem contar...
Deu na TV que o acertador das 6 dezenas do concurso acumulado da mega-sena era daquela cidade.
O bá fá fá era por todo o canto. Mulheres desconfiadas dos maridos que demoravam para chegar em casa. Patrões ligando educamente para os empregados que faltaram naquele dia. Em fim, todos de olho para descobrir quem havia sido o sortudo.
Eis que já tarde da noite Zé Biriba, o malandro mais trambiqueiro da cidade, entra porta a dentro gritando:
- Fecha a porta Seu Antão! Quem tá de fora num entra e quem tá dentro não sai! Bebida e mulher pra todo mundo! Por conta do GANHADOR DA MEGA SENA!
Passado o susto inicial, a turma toda grita em um só coro:
- VIVA O ZÉ BIRIBA! VIVA!
Eita lasquera! Aquela noite foi um estrupício na zona alegre da cidade.
Todo mundo queria abraçar o Zé Biriba. Eram tantos amigos contando histórias heróicas e nobres à respeito do felizardo.
Seu Doca não parava de dizer o quanto aquele homem era uma alma caridosa. O quanto aquele homem ajudava as outras pessoas. E ele sabia. Sempre soube. E foi por esse motivo que tinha tido a paciência de esperar o tempo para receber seus alguéis em atraso lá da pensão.
As meninas disputavam o biribinha à tapa. Cada uma querendo para si a atenção e os chamegos do homem. E aquilo que era homem diziam as mais assanhadas.
Seu Antão com um sorrizo na boca que ia de orelha a olhera, se esforçava para servir a freguesia. Tudo do bom e do melhor. Cachaça, Cerveja, "Uisqui" e até as "Champanha" reservadas para a festa do prefeito foram estouradas. "Quem diria - pensava seu Antão - um bosta que nem o Zé Biriba acertar a sorte grande. E pensar que eu quase tinha pedido o Manelão barrar a entrada do Zé enquanto o safado não pagasse a dívida aqui no cabaré".
Pena que a noite foi pequena para tanta alegria.
Aos poucos, cada um ia seguindo seu rumo. Afinal, não tem santo ou fígado que aguente tanta bebida.
Quem não tinha ganhado na Mega Sena, tinha que trabalhar daqui a pouco.
Alguns, por amizade mesmo, queriam passar mais tempo com o Zé. Gente boa tava alí.
Mas seu Antão foi desligando o som. Colocando o povo para tomar rumo. Que deixassem o homem descansar. Procurassem o Dr. José mais tarde, depois da hora do almoço.
E o Ilustríssimo convidado abraçado com duas garotas desmaiadas, mas agarradas ao seu corpo, estava caído em um canto escuro da boate e foi levado ao melhor quarto do estabelecimento pelo proprietário Seu Antão e o porteiro Manelão.
Há muito passava do meio dia quando Zé Biriba saíu do quarto. Amarrotado. Cara de ressaca. Uma sede desgraçada. Passou por toda extensão do estabelecimento e encostou no balcão onde seu Antão contabilizava maravilhado a conta da noitada rescente.
- Olha José! Foi a maior conta, quero dizer, festa aqui, desde que nós inauguramos. Tudo por conta do ganhador da mega sena!
- É verdade seu Antão. Quando a gende descobrir quem foi que ganhou, a gente faz outra, combinado?
E o resto, é melhor nem contar...
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
Virada do ano na fazenda (parte 1)
A noite já ia tarde...
Eu em cima do burro que não acelerava o passo para chegar logo em casa.
Saí cedo com desculpa de 'desanuviar' a mente. Era dia 31 de dezembro de um dos piores anos de minha vida. E por este motivo, havia pensando mais cedo que não havia nada melhor para acabar aquele ano do que uma cavalgada. Maldita hora que eu pensei aquilo.
Pelos meus calculos faziam horas que eu estava em cima daquele animal. Isso porque na região cheia de estradas, caminhos e picadas que cortam os montes e vales, alguém que não conhece bem as redondezas e quadradezas consegue se perder facilmente.
Para piorar tudo eu vinha pensando, de cabeça baixa, enquanto a chuva fina caía sobre a aba do chapéu que protegia meu rosto. E você lendo isso deve perguntar: "Chovendo???"
Sim! Ainda por cima chovia. Quando eu saí era dia, e estava um tempo agradável. Mas naquela hora, chovia, era noite e eu estava perdido.
Minutos depois eu descobri algo que tinha seu lado bom e seu lado ruim. O lado bom, é que naquele momento eu já reconhecia o lugar onde estava. O lado ruím é que acabei saindo em uma estrada muito longe de casa e o diabo do burro não acelerava o passo. Também, ele estava cansado. Mas ele estava precisando de um corretivo destes, naquele final de semana aquele animal já havia me passado a maior raiva do mundo, fazendo manha. Tudo falta de serviço, diziam os mais velhos que entendiam de tropa.
Pois bem. Era noite alta, a chuva acabava e eu já não estava mais perdido.
O frio começava a me incomodar quando eu cheguei num povoadozinho na beira da estrada, com umas quatro ou cinco casas 'em redor' de uma velha igrejinha caindo aos pedaços. Mas o que me chamou a atenção foi uma fogueira debaixo de uma enorme gameleira na frente da igreja. Ali estavam tres figuras agachadas 'quentano fogo'.
Fui me aproximando e vi que eram tres negros já de idade. Que riam, bebiam e 'proseavam'. E o fogo sempre teve o condão de alegrar as almas dos viajantes perdidos. E foi aquele fogo que me fez 'apear' e cumprimentar aqueles desconhecidos.
- Boa noite Senhores. - disse em tom cortês.
E logo a primeira resposta já me deixou encabulado:
- Noite Don Pedro. - falou o primeiro velho meu nome já de cara, como se me conhecesse.
- Se 'achegue' Mestre Don. Eu sei que 'ocê' não bebe, mas hoje vai tomar uma com 'nois'. - falou o segundo.
- 'Bora apea' seu moço! Eu sou Pedro Bala seu xará, aquele é Chico Rabelê e esse é Miguel de Sá.
- Piaga!- exclamei. - mas... ma-ma-mas...
- Bão quano a gente já se conhece, num é?- falou Chico Rabelê.
O negócio era o seguinte. Eu estava de frente aos tres pretos velhos do livro de Ney Leandro. Os bruxos amigos do Ojuara.
(continua)
Eu em cima do burro que não acelerava o passo para chegar logo em casa.
Saí cedo com desculpa de 'desanuviar' a mente. Era dia 31 de dezembro de um dos piores anos de minha vida. E por este motivo, havia pensando mais cedo que não havia nada melhor para acabar aquele ano do que uma cavalgada. Maldita hora que eu pensei aquilo.
Pelos meus calculos faziam horas que eu estava em cima daquele animal. Isso porque na região cheia de estradas, caminhos e picadas que cortam os montes e vales, alguém que não conhece bem as redondezas e quadradezas consegue se perder facilmente.
Para piorar tudo eu vinha pensando, de cabeça baixa, enquanto a chuva fina caía sobre a aba do chapéu que protegia meu rosto. E você lendo isso deve perguntar: "Chovendo???"
Sim! Ainda por cima chovia. Quando eu saí era dia, e estava um tempo agradável. Mas naquela hora, chovia, era noite e eu estava perdido.
Minutos depois eu descobri algo que tinha seu lado bom e seu lado ruim. O lado bom, é que naquele momento eu já reconhecia o lugar onde estava. O lado ruím é que acabei saindo em uma estrada muito longe de casa e o diabo do burro não acelerava o passo. Também, ele estava cansado. Mas ele estava precisando de um corretivo destes, naquele final de semana aquele animal já havia me passado a maior raiva do mundo, fazendo manha. Tudo falta de serviço, diziam os mais velhos que entendiam de tropa.
Pois bem. Era noite alta, a chuva acabava e eu já não estava mais perdido.
O frio começava a me incomodar quando eu cheguei num povoadozinho na beira da estrada, com umas quatro ou cinco casas 'em redor' de uma velha igrejinha caindo aos pedaços. Mas o que me chamou a atenção foi uma fogueira debaixo de uma enorme gameleira na frente da igreja. Ali estavam tres figuras agachadas 'quentano fogo'.
Fui me aproximando e vi que eram tres negros já de idade. Que riam, bebiam e 'proseavam'. E o fogo sempre teve o condão de alegrar as almas dos viajantes perdidos. E foi aquele fogo que me fez 'apear' e cumprimentar aqueles desconhecidos.
- Boa noite Senhores. - disse em tom cortês.
E logo a primeira resposta já me deixou encabulado:
- Noite Don Pedro. - falou o primeiro velho meu nome já de cara, como se me conhecesse.
- Se 'achegue' Mestre Don. Eu sei que 'ocê' não bebe, mas hoje vai tomar uma com 'nois'. - falou o segundo.
- 'Bora apea' seu moço! Eu sou Pedro Bala seu xará, aquele é Chico Rabelê e esse é Miguel de Sá.
- Piaga!- exclamei. - mas... ma-ma-mas...
- Bão quano a gente já se conhece, num é?- falou Chico Rabelê.
O negócio era o seguinte. Eu estava de frente aos tres pretos velhos do livro de Ney Leandro. Os bruxos amigos do Ojuara.
(continua)
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