quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Momentos Finais


Ela havia acabado de dizer que não dava mais para continuar quando fechei a porta atrás de mim.
Um misto de felicidade, surpresa e decepção tomaram conta do meu interno enquanto eu me dirigia ao quarto ao lado. Eram apenas poucos metros, mas pareceu uma longa caminhada.
Faltavam mais de duas horas para a cerimônia de casamento. Então deitei naquela cama de hotel, mas não dormi. Fiz companhia para meus pensamentos tumultuados, até dar a hora de cumprir com o compromisso.
Pontualmente, ela chamou à porta do quarto, e para minha surpresa estava maravilhosa. A ponto de ofuscar a beleza da própria noiva. Era como se tivesse planejado aquilo minuciosamente para me ferir.
Mas como todos os planos estão sujeitos ao acaso, por um acaso do destino, havia na cerimônia outra mulher ainda mais deslumbrante, capaz de chamar todas as atenções para sua presença. Uma mulher que distoava de todos os presentes, como se não fizesse parte daquele mundo. Cabelos claros quase brancos, sobre uma pele alva e perfumada enfeitada por um par de olhos azuis e um sorriso devastador.
Ela então olhou para aquela mulher e em seu íntimo percebi que reconhecera que aquela criatura a ofuscou.
- Quem é aquela garota tão linda?
- Qual?
- Aquela de vestido verde e cabelos loiros...
- Não sei. Acho que não a conheceço - disse com sinceridade.
Finda a cerimônia, fomos à festa, da mesma forma que chegamos: de mãos dadas.
Ficamos em uma mesa de amigos. E a pergunta que nunca se deixa de fazer aos casais solteiros em uma festa de casamento, nos era direcionada a todo o instante. E acada vez que alguém perguntava ela levantava com a desculpa de buscar uma bebida. Uma situação verdadeiramente constrangedora, principalmente quando os mais íntimos percebiam o que estava acontecendo.
E tantas foram as bebidas que ela buscou, que ainda nem havíamos chegado à metade da festa quando ela se tornou inconveniente. Uma alegria excessiva lhe invadiu, juntamente com uma coragem de tomar pequenas decisões que certamente não eram as mais adequadas. E o pior de tudo naquele nível de embriagues é a intimidade que o ébrio cria com seres que não conhece.
Eu procurava a todo instante uma oportunidade de chama-la para irmos. A festa para mim havia terminado antes mesmo de começar.
Mas eis que em um determinado momento ela chegou trazendo consigo a garota loira de olhos azuis. Em seu juizo de bêbada, queria me apresentar a mulher mais linda da festa.
- "F" queria te apresentar a "minha amiga" que acabei de conhecer - e segurando o braço da garota ela o estendeu em minha direção - esse é o "meu amigo F".
Para a surpresa dela e confesso também minha, a garota de olhos claros me olhou fixamente e sorriu dizendo:
- Mas eu já conheço muito bem o seu amigo F. Na verdade ele é meu amigo também. É uma surpresa encontrar você aqui - disse se desvencilhando das mãos dela e procurando meus braços para um abraço. Daqueles que só os íntimos se dão o direito de dividir.
- B, como você mudou. Mas seus olhos continuam os mesmos. - disse a ela após aquele abraço.
E realmente eu só havia me recordado dela quando seus olhos fitaram os meus.
Trocamos algumas poucas palavras e logo nos despedimos prometendo nos rever em outra oportunidade.
Enquanto isso. Ela estava ao meu lado. Imóvel. Impassível. Descrente do que acabava de assistir.
Olhei diretamente para ela, logo que B virou as costas.
- Agora vamos embora? - disse.
- Vamos... - respondeu vencida.

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