segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Valhalla na Terra

Acordo cedo.
Visto a farda camuflada, calço o coturno, olho no espelho e acho graça quando me lembro de quando ela disse que "minha mãe iria se orgulhar em me ver vestido assim." Imagino que ela realmente não me conhecia bem, e nunca conheceu a minha mãe.
Vou para a cozinha tomar um café e da sacada, observo a manha nublada de feriado. A cidade lá embaixo está parada, calma, indiferente à tudo o que vai acontecer na mata hoje.
Jogo a mochila com os equipamentos no carro e vou para a saída da cidade, onde fica a mata e onde todos os outros já estão a me esperar.
Não sou o primeiro a chegar, mas também não sou o ultimo. E enquanto os últimos não chegam, o tempo vai passando e vou conversando com os amigos que vão se equipando.
Eu também me equipo. Coloco o colete, mais por estética que por proteção. As joelheiras e as luvas são necessidades reais, assim como a bala clava que esconde meu rosto. Mas é quando coloco a máscara que Eu desapareço e surge o soldado.
Quando um Player se equipa ele deixa para trás seus problemas, dificuldades, limitações e se transforma em um herói, uma lenda, o personagem principal da história que terá para contar nas boas conversas nas rodas de amigos nos campos, cenários e botecos.
Jogar Paintball é como brincar de policia e ladrão, guerra ou bang bang depois de grande. E se você não tem vergonha de assumir que ainda é criança e não cresceu, então você tem a oportunidade de ser feliz sem preconceitos.
O Paintball é como o Valhalla na terra. É onde os guerreiros se enfrentam entre si e depois sujos de tintas renascem festejando a honra e a gloria de seus feitos.
E hoje na safe zone temos um belo contingente, entre Prós e Novatos, todos dispostos a encarar o desafio de derrotar seus adversários naquele cenário de guerra.
Meu time é escolhido e como Player Pró, me incumbo em comandar um batalhão de novatos. Somos responsáveis pela segurança do lado da cerca e dar apoio ao batalhão que irá avançar pelo meio.
Gosto de comandar novatos dispostos. Eles obedecem, se esforçam em fazer tudo certo. Têm mais medo de colocar o jogo à perder do que tomar tinta, e acho que é por isso que eles são guerreiros tão importantes. Eles se dedicam e sabem escutar. Hoje dei sorte. Esses novatos são bons. Muito melhor do que eu quando comecei.
O jogo será no estilo mata-mata. Ganha o time que eliminar o ultimo player adversário.
Soa o sinal.
Começa o game.
Sigo na frente do batalhão correndo por entre o mato. Tomando território, estabelecendo o perímetro até o ponto em que visualizo a movimentação inimiga logo a frente.
Recuo e distribuo cada soldado em uma posição estratégica.
Torno a avançar. Obstáculo por obstáculo. Primeiro uma árvore. Logo uma depressão no terreno. Um tronco caído.
Observo que como espelho do meu lado esquerdo, um novato me acompanha, fazendo a cobertura perfeita do lado mais vulnerável do campo. E mais uma vez me impressiono como estes caras são muito melhores que eu quando comecei.
Viajo no tempo e me recordo de que em minha primeira vez na mata, demorei quase cinco minutos para deixar o primeiro obstáculo. Mas aquele tempo há muito ficou para trás. Agora lidero um pelotão que em menos de cinco minutos de jogo derruba o flanco inimigo, e já está fazendo a volta pela mata.
O batalhão do nosso time que vinha pelo meio, percebe nosso avanço e informa o batalhão do outro lado que os inimigos estão cercados. Na formação de vanguarda, os poucos guerreiros inimigos que restaram não têm proteção alguma e serão alvos fáceis para os novatos treinar a pontaria.
Acabou.
O game chega ao fim em menos de dez minutos.
Todos os players deixam a mata. A farda está quente. Meu corpo molhado de suor. E quando levanto a máscara já fora da mata, sinto a brisa fresca em meu rosto. Olho para o guerreiro ao meu lado e digo "Bom Jogo! Muito Bom Jogo!"
Dividimos a mesma felicidade.
Uma felicidade momentânea, efêmera, infantil. Mas é felicidade, em todos os sentidos.
Hoje é um bom dia para jogar Paintball. No proximo game posso tomar um head shot no start, deixando o jogo bem no começo. Mas isso não importa.
Vejo os players deixando a mata, prós e novatos, sujos de tinta ou imaculados. Todos estão sorrindo. Alguns reclamam mas logo se contagiam com a esperança no proximo game. Todos estão festejando.
Definitivamente Paintball é o Valhalla na terra!

domingo, 13 de novembro de 2011

Quando a luz se acender

Queria te dizer algumas palavras...
... Mas logo percebi que não seria suficiente.
Pensei então em te escrever um poema...
... Então vi que não iria atingir meus objetivos.
Resolvi fazer uma música...
... Só que alguém já compôs uma música com o som e a letra que eu queria te fazer.
Fica com essa música.
Finja que fui eu quem escrevi.
Sorria se te lembrar alguma coisa, algum instante ou alguém.
Mas esqueça assim que a luz se acender e começar a sua vida.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Momentos Finais


Ela havia acabado de dizer que não dava mais para continuar quando fechei a porta atrás de mim.
Um misto de felicidade, surpresa e decepção tomaram conta do meu interno enquanto eu me dirigia ao quarto ao lado. Eram apenas poucos metros, mas pareceu uma longa caminhada.
Faltavam mais de duas horas para a cerimônia de casamento. Então deitei naquela cama de hotel, mas não dormi. Fiz companhia para meus pensamentos tumultuados, até dar a hora de cumprir com o compromisso.
Pontualmente, ela chamou à porta do quarto, e para minha surpresa estava maravilhosa. A ponto de ofuscar a beleza da própria noiva. Era como se tivesse planejado aquilo minuciosamente para me ferir.
Mas como todos os planos estão sujeitos ao acaso, por um acaso do destino, havia na cerimônia outra mulher ainda mais deslumbrante, capaz de chamar todas as atenções para sua presença. Uma mulher que distoava de todos os presentes, como se não fizesse parte daquele mundo. Cabelos claros quase brancos, sobre uma pele alva e perfumada enfeitada por um par de olhos azuis e um sorriso devastador.
Ela então olhou para aquela mulher e em seu íntimo percebi que reconhecera que aquela criatura a ofuscou.
- Quem é aquela garota tão linda?
- Qual?
- Aquela de vestido verde e cabelos loiros...
- Não sei. Acho que não a conheceço - disse com sinceridade.
Finda a cerimônia, fomos à festa, da mesma forma que chegamos: de mãos dadas.
Ficamos em uma mesa de amigos. E a pergunta que nunca se deixa de fazer aos casais solteiros em uma festa de casamento, nos era direcionada a todo o instante. E acada vez que alguém perguntava ela levantava com a desculpa de buscar uma bebida. Uma situação verdadeiramente constrangedora, principalmente quando os mais íntimos percebiam o que estava acontecendo.
E tantas foram as bebidas que ela buscou, que ainda nem havíamos chegado à metade da festa quando ela se tornou inconveniente. Uma alegria excessiva lhe invadiu, juntamente com uma coragem de tomar pequenas decisões que certamente não eram as mais adequadas. E o pior de tudo naquele nível de embriagues é a intimidade que o ébrio cria com seres que não conhece.
Eu procurava a todo instante uma oportunidade de chama-la para irmos. A festa para mim havia terminado antes mesmo de começar.
Mas eis que em um determinado momento ela chegou trazendo consigo a garota loira de olhos azuis. Em seu juizo de bêbada, queria me apresentar a mulher mais linda da festa.
- "F" queria te apresentar a "minha amiga" que acabei de conhecer - e segurando o braço da garota ela o estendeu em minha direção - esse é o "meu amigo F".
Para a surpresa dela e confesso também minha, a garota de olhos claros me olhou fixamente e sorriu dizendo:
- Mas eu já conheço muito bem o seu amigo F. Na verdade ele é meu amigo também. É uma surpresa encontrar você aqui - disse se desvencilhando das mãos dela e procurando meus braços para um abraço. Daqueles que só os íntimos se dão o direito de dividir.
- B, como você mudou. Mas seus olhos continuam os mesmos. - disse a ela após aquele abraço.
E realmente eu só havia me recordado dela quando seus olhos fitaram os meus.
Trocamos algumas poucas palavras e logo nos despedimos prometendo nos rever em outra oportunidade.
Enquanto isso. Ela estava ao meu lado. Imóvel. Impassível. Descrente do que acabava de assistir.
Olhei diretamente para ela, logo que B virou as costas.
- Agora vamos embora? - disse.
- Vamos... - respondeu vencida.

domingo, 6 de novembro de 2011

Numa manha de domingo

Hoje acordei com a necessidade de escrever.
Falar dos males que atingem a humanidade e da bondade que escondida ainda nos surpreende.
Falar dos homens, das mulheres e da eterna e natural razão dos relacionamentos entre os sexos opostos.
Falar das crianças, da infância, da saudade e de como é bom reviver tudo isso nas novas gerações.
Queria falar da natureza, mas não me senti preparado para isso... não neste momento.
Queria falar dos amores, das paixões, das loucuras, mas me senti muito frágil para tocar neste assunto.
Queria falar de uma estrada, um caminho, uma saída... mas ainda estou procurando.
Mesmo com a necessidade de escrever, olhei pela janela e vi um lindo dia lá fora.
Que me desculpem as letras, mas vou ali viver um pouco.
Já volto

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

INVEJA???


Recentemente descobri que nunca me preocupei com a inveja, com os invejosos, com o "olho gordo", com as pessoas que me desejam o mal.
Nas redes sociais, por exemplo, estou sempre vendo pessoas preocupadíssimas com essa questão da inveja e dos invejosos.
Sempre que estou no trânsito, me deparo com algum adesivo no pára-brisa traseiro no qual se lê "xô olho gordo", "a intensidade da s...ua inveja é a velocidade do meu sucesso", "protegido contra invejosos"... e por aí vai.
Sinceramente, eu nunca me preocupei com isso.
Em parte, deve ser por conta da minha insignificante existência, a final, o que teria eu de tão especial para despertar a inveja em meus semelhantes.
Talvez seja também porque tenho a felicidade de me relacionar sempre com pessoas boas e maravilhosas, que como todas as outras têm defeitos, mas suas qualidades são inquestionáveis e sempre fazem a diferença na balança dos relacionamentos.
Seria muita pré potência de minha parte acreditar que o que tenho atrai a cobiça dos que me cercam.
Seria muita arrogância imaginar que sou tão melhor que meu próximo, ou menosprezá-lo acreditando que ele está tão inferior a mim.
Seria muita ingenuidade acreditar que meus tropeços, minhas desventuras, minhas escorregadas na estrada da vida são frutos da má vontade de outros seres humanos que nasceram, cresceram e estão crescendo, que buscam evoluir, cada um na sua velocidade e condição.
Quase tudo o que me acontece é resultado dos meus atos, e quando sou atingido pela ação de outros, foi consequencia do meu despreparo e da minha total incompetência em relação ao meu proximo e suas deficiências.
Quando eu me preocupo com a inveja dos outros para comigo, estou inflando um balão chamado "vaidade". Um balão que sobe, sobe, sobe... acima dos demais. Porém como todo balão, depois de certo tempo, cai e acaba em chamas, queimando muita gente, inclusive a mim mesmo.
Recentemente descobri, que antes de me preocupar com a inveja alheia, tenho que me preocupar em cultivar minha simplicidade, minha humildade, minha simpatia para com todos os que me cercam.
Me preocupar com a inveja alheia, é como me preocupar com o Diabo e esquecer a grandeza de um Deus que me sustenta.
Quantos "inimigos" não soltariam as pedras que empunhavam diante de um sorriso sincero?
Quantas ofensas não seriam repudiadas com o silêncio de um ouvinte paciente e tolerante?
Quantas amizades não teriam sido preservadas com a prudência e a cautela de escutar, refletir e amadurecer os pensamentos antes de retrucar?
Enfim, descobri que antes de me preocupar com os sentimentos dos outros, preciso cultivar em mim bons sentimentos e qualidades que me elevam acima de todas as dificuldades que minha existência me reserva.
O falcão, do alto do azul do céu, nunca tomou conhecimento da serpente que se arrasta na imundice do pântano.
(FELDON)

terça-feira, 1 de novembro de 2011

FAZENDO AS PAZES COM O CUPIDO

Hoje decidi fazer as pazes com o Cupido.

Sim... Percebi que por pior que tenham sido as consequências, pior seria se eu não tivesse tentado.
Quantas pessoas não passam por este mundo sem ter conhecido o doce sabor de uma paixão?
A angustia da espera por um telefonema, seguido da alegria incontrolável que toma conta do ser quando aquele telefone toca.
Quantas pessoas irão deixar essa vida sem olhar... nos olhos de alguém tal qual o ladrão fita o mais belo dos diamantes. Sentir desejo de desejar e ser desejado.
Se preparar para dizer tudo o que se sente e quando chegar a hora gaguejar diante da pessoa amada. Ficar mudo. Dizer besteira. E ainda assim ficar feliz ao receber como resposta um simples "Oi" seguido de um sorriso como merecimento pelo seu esforço.
Quantas pessoas envelhecem serenas e sentradas, mas dariam tudo para terem se sentido bobas e idiotas, por terem sonhado, acreditado, arriscado, apostado mais alto do que poderiam pagar.
Nenhum sofrimento poderia ser maior que a incerteza, a dúvida e o arrependimento de não ter tentado. De não ter histórias para contar ou relembrar.
A lembrança de um olhar, um sorrizo, um cheiro, um toque, um momento, um instante, uma possibilidade.
As paixões, todas, desde as mais arrebatadoras e exageradas como aquela cantada pelo Cazuza, até as mais platônicas, puras e singelas como a do Charlie Brown pela Garotinha ruiva. Todas nos fazem sentir que estamos vivos, ou nos fazem recordar que um dia vivemos.
Que vivemos bem.
Que vivemos intensamente.
Que vivemos plenamente os momentos que chamamos de Felicidade.
Não se sinta culpado se você amou demais. Você não pode ter culpa em ter mais sorte que os outros.
Não se sinta culpado por ter dito "Eu te amo" várias vezes, quando naqueles momentos aquelas palavras foram ditas (ou gritadas) pelo seu coração.
Depois destas reflexões, fiz as pazes com o cupido... Aceitei a sina e resolvi me deixar apaixonar mais uma vez, e outra, e outra... até o amor chegar para ficar.

(FELDON)