Já estava acabando de tomar o meu café.
Nem bem eram nove horas da manha, naquela cafeteria luxuosa da cidade, quando ela se sentou sozinha.
Sentou ali, olhando para o nada, como se estivesse em lugar nenhum, esperando que nada acontecesse.
Havia engordado muito naqueles ultimos dois anos. Estava quase irreconhecivel para aqueles que acompanhavam o jornal da tarde e lhe assistia diariamente na tela dos televisores de prestações atrasadas.
Sem dizer uma palavra, o garçon serviu-lhe um copo de água mineral, que permaneceu à sua frente durante algum tempo até ser apaticamente notado por ela.
Abriu sua bolsa chanel, ainda olhando para o nada, e só então, depois de aberta, baixou seus olhos para o interior de onde tirou um frasco de comprimidos anti-depressivos.
Engoliu uma daquelas pirulas de olhos fechados, como se engolisse a desgraça em pequenas porções, tomando em seguida dois goles de água para ajudar a descida do comprimido.
Novamente, sem esperar uma palavra sequer, o garçon lhe serviu uma chavena de chá acompanhado de duas torradas.
Olhei no relogio no meu pulso. Pedi e paguei a conta. Levantei-me e segui para a saída, enquanto ela continuou ali olhando para o nada diante de um chá e torradas que esfriavam naquela manhã solitária de outono.
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