quinta-feira, 4 de julho de 2013
O peso de um nome
Quando eu vi uma pedra dura e fria verter lágrimas... inicialmente não entendi o que estava acontecendo.
Mas então percebi que em algumas de nossas vidas, chega um momento em que o nome fica maior e mais forte do que a pessoa que o carrega.
Por isso precisamos cultivar amigos e flores...
Protestos pelo Brasil
Estamos em meados de 2013 e todos estamos assistindo a onda de protestos que ocorrem em todo o país.
Em muitas cidades do Brasil, o povo tem saído às ruas para se manifestar contra os mais variados motivos.
Por incrível que pareça até na cidade de Britânia GO, ocorreu uma manifestação.
Meu editor, não sei se para me punir ou se para demonstrar que o inconformismo público está em todos os lugares do país, inclusive nos mais ermos, me incumbiu de cobrir esta notícia. E depois de quase 4 horas de viagem eu cheguei na cidade de Britânia que fica na parte mais quente do estado, aonde termina a rodovia.
Tudo parecida muito calmo na rua principal às 9:00h da manhã, e não vi indícios de que havia qualquer tipo de mobilização social. Com a maioria dos estabelecimentos ainda fechados, procurei o bar do Totha (lê-se totia), ponto de encontro dos bebuns e pescadores de plantão. Ali diante de um séquito de pés-inchados que já batiam ponto no local desde à noite anterior, foi informado pelo proprietário do estabelecimento dos boatos espalhados na cidade sobre uma manifestação que pararia a cidade naquele dia.
Seguindo ainda a orientação do mestre Totha, procurei o sindicato rural daquela cidade, onde fui bem recebido pela companheira Dona Terezinha, que no auge dos seus 68 anos de representatividade sindical e militância, estava alvoroçada como uma pré debutante de 14 anos. Fez-me tantas perguntas e falou tanto que me impediu de saber mais detalhes sobre a manifestação, além de que a mesma estava marcada para o meio dia, e que prometia parar a cidade.
Marcamos de nos encontrar na frente do banco às 12:00h. Motivo pelo qual me recolhi para uma sombra até o horário marcado. Enquanto esperava, observei que não precisaria de muito esforço para parar aquela cidade. Talvez apenas, deixando tudo como estava.
Às 11:45 eu já me encontrava no local combinado.
12:00h, e ninguém havia chegado.
12:10h, 12:20, 12:30h e ninguém aparecia. Fato que fez com que eu me dirigisse novamente ao sindicato. E mal parei na porta, fui admoestado pela sexagenária revolucionária que me mandava sair do sol.
A ilustre líder sindical me informou que por conta do "sol que tá muito quente" a manifestação ficou para mais tarde, por volta da 16:00h.
Procurei um restaurante à beira do lago para almoçar, e com atenção voltada para o trânsito das nativas na orla do lago, quase morro engasgado com uma espinha de traíra. Passado o susto me deitei numa rede armada debaixo de uma mangueira ao lado do restaurante, e pedi para ser acordado por volta das 15:00h.
Mas despertei sozinho, às 16:30h. Perguntei ao proprietário porque não havia me acordado, e ele me disse havia esquecido que eu ainda estava por ali.
Sai correndo às pressas em direção ao local do início da passeata. E lá chegando encontrei dona Terezinha solitária, com um boné do MST e uma bandeira vermelha nas costas. Me repreendeu mais uma vez pelo meu atraso. Aquele comportamento era anti cívico, antipatriota.
Pedi desculpas e perguntei pelo restante das pessoas. Ela respondeu que eles ainda iriam chegar. Não tinha chegado ninguém ainda "porque o sol tava muito quente".
Fez sinal para um senhor que aparentava ser da sua idade e empurrava um carrinho de picolé. Assim que o picolezeiro chegou, ela se pôs a gritar com o homem.
De imediato eu interferi partindo em defesa do pobre velho que a tudo ouvia na maior paciência. Mais uma vez ela me repreendeu: Gritando com o velho pois o mesmo era surdo. Escutava muito pouco. Mais uma vez fui obrigado a me desculpar por desconhecer aquele detalhe.
Explicou-me também dona Terezinha, que aquele carrinho de picolé era peça fundamental para o bom andamento do protesto. Usei meu poder de dedução, e imaginei que seria uma forma de chamar a atenção do povo da cidade, a final, com um calor desgraçado daqueles, um picolé era uma visão do paraíso e seria uma isca perfeita para atrair a massa de manifestantes insatisfeitos com o clima.
Mas logo percebi que estava mais uma vez enganado. O carrinho do velho tinha uma caixa de som, um microfone e uma bateria que seriam utilizados pela sindicalista para animar a manifestação.
Por volta das 17:45, quando, nas palavras de dona Terezinha, "o sol baixou", os manifestantes se reuniram na rua em frente ao banco. Eram ao todos sete pessoas. Duas mulheres traziam cartazes, que eu pedi para fotografar, e me surpreendi ao ver que um era uma cartolina com recortes de revistas e formava um trabalho da escola primária para o dia da árvore. O outro era um cartaz oficial da secretaria estadual de saúde da campanha de vacinação no qual aparecia a imagem do Zé Gotinha.
Sequer tive tempo para argumentar alguma coisa com os manifestantes, pois dona Terezinha puxou aquela multidão de sete pessoas com gritos de ordem no microfone que, com tanta interferência, mais parecia uma caixa de abelhas.
Eu com minha câmera comecei a registrar o momento, enquanto dona Terezinha conclamava o povo a pegar em armas, ir à luta, que éramos poucos mas éramos valentes! E por aí foi levando.
Descíamos a rua principal que termina na praça em frente ao lago
No meio do percurso dois manifestantes, legítimos representantes dos povos indígenas, começaram a dar trabalho por conta do alto estado de embriagues no qual se encontravam. O primeiro vomitou para cima e se sujou todo. O segundo caiu sobre um tambor cheios de vassouras à venda no supermercado Rio Vermelho.
Instantaneamente, dona Terezinha utilizando sua autoridade e longa experiência, dispensou a presença dos "vândalos" com um empurrão em cada um. Os dois, abraçados para não cair, rumaram em direção ao bar do Totha.
Discretamente, a líder sindical, se desculpou com esse singelo representante da imprensa, alertando que se tratava de fatos isolados e que em nada iriam afetar na magnitude do evento.
Notei também que a partir deste episódio o semblante da ativista se alterou para mais preocupado. Logo ela me informou que temia alguma repressão pelas autoridades do governo. O que não tardou para acontecer.
Durante a passeata, aproveitei para conhecer os vários motivos pelo qual cada um daqueles cidadãos manifestavam. Um manifestava pelo passe livre para entrar no Varandão (a mais famosa, mais movimentada e única casa de shows da cidade). Outro manifestava contra as muriçocas que com suas picadas implacáveis deformavam a beleza das turistas que se bronzeavam nas areias da praia do Lago dos Tigres. Outra manifestava contra a cantora Joelma da banda Calypso que ameaçava virar crente e abandonar a carreira artística. No momento em que eu estava entrevistando uma manifestante, que manifestava contra um bando de capivaras que havia destruído sua roça de mandiocas, dona Terezinha me puxou pelo braço para que eu voltasse minhas lentes para uma cena de brutalidade policial.
Tratava-se do guarda municipal, responsável pela manutenção do canteiro da praça, que tentava à pauladas, espantar uma vaca que comia as flores do canteiro central.
Logo a manifestação ganhou um foco único. À defesa das vacas, que segundo alguém lembrou de ter assistido na novela Caminho das Índias, são animais sagrados.
O policiamento foi reforçado pelo vigia noturno da prefeitura que chegava de uma pescaria. Correu para a praça onde, em conjunto com o companheiro da praça, formaram um cordão de isolamento de duas pessoas.
O início de tumulto entre os 5 manifestantes e os dois guardas municipais (empurra-empurra, esfrega-esfrega), aos olhos do povo pareceu um forró-bodó. Equivoco este que fez com que mais pessoas se dirigissem à praça.
Alguns playboys com seus carros rebaixados e toneladas de som no interior dos veículos começaram a tocar um funk proibidão, caixas de isopor vendendo cerveja foram aparecendo também, arrastando uma infinidade de jovens nativas de pouca roupa e muita disposição para a bagunça.
A manifestação acabou virando um carnaval fora de época. E eu, enquanto ainda estava sóbrio, registrei todo o movimento.
Por mais que eu tentasse convencer meu editor de que os fatos narrados nesta matéria realmente aconteceram, e que não se tratava de uma piada de mau gosto, acabei perdendo o emprego logo que retornei à capital.
Mas felizmente estamos em julho. Vou receber minha primeira parcela do Seguro Desemprego e vou tirar umas férias.
Estou pensando em ir para Britânia...
... Não tem nada lá...
... Mas por algum motivo, aquilo é bom demais.
Em muitas cidades do Brasil, o povo tem saído às ruas para se manifestar contra os mais variados motivos.
Por incrível que pareça até na cidade de Britânia GO, ocorreu uma manifestação.
Meu editor, não sei se para me punir ou se para demonstrar que o inconformismo público está em todos os lugares do país, inclusive nos mais ermos, me incumbiu de cobrir esta notícia. E depois de quase 4 horas de viagem eu cheguei na cidade de Britânia que fica na parte mais quente do estado, aonde termina a rodovia.
Tudo parecida muito calmo na rua principal às 9:00h da manhã, e não vi indícios de que havia qualquer tipo de mobilização social. Com a maioria dos estabelecimentos ainda fechados, procurei o bar do Totha (lê-se totia), ponto de encontro dos bebuns e pescadores de plantão. Ali diante de um séquito de pés-inchados que já batiam ponto no local desde à noite anterior, foi informado pelo proprietário do estabelecimento dos boatos espalhados na cidade sobre uma manifestação que pararia a cidade naquele dia.
Seguindo ainda a orientação do mestre Totha, procurei o sindicato rural daquela cidade, onde fui bem recebido pela companheira Dona Terezinha, que no auge dos seus 68 anos de representatividade sindical e militância, estava alvoroçada como uma pré debutante de 14 anos. Fez-me tantas perguntas e falou tanto que me impediu de saber mais detalhes sobre a manifestação, além de que a mesma estava marcada para o meio dia, e que prometia parar a cidade.
Marcamos de nos encontrar na frente do banco às 12:00h. Motivo pelo qual me recolhi para uma sombra até o horário marcado. Enquanto esperava, observei que não precisaria de muito esforço para parar aquela cidade. Talvez apenas, deixando tudo como estava.
Às 11:45 eu já me encontrava no local combinado.
12:00h, e ninguém havia chegado.
12:10h, 12:20, 12:30h e ninguém aparecia. Fato que fez com que eu me dirigisse novamente ao sindicato. E mal parei na porta, fui admoestado pela sexagenária revolucionária que me mandava sair do sol.
A ilustre líder sindical me informou que por conta do "sol que tá muito quente" a manifestação ficou para mais tarde, por volta da 16:00h.
Procurei um restaurante à beira do lago para almoçar, e com atenção voltada para o trânsito das nativas na orla do lago, quase morro engasgado com uma espinha de traíra. Passado o susto me deitei numa rede armada debaixo de uma mangueira ao lado do restaurante, e pedi para ser acordado por volta das 15:00h.
Mas despertei sozinho, às 16:30h. Perguntei ao proprietário porque não havia me acordado, e ele me disse havia esquecido que eu ainda estava por ali.
Sai correndo às pressas em direção ao local do início da passeata. E lá chegando encontrei dona Terezinha solitária, com um boné do MST e uma bandeira vermelha nas costas. Me repreendeu mais uma vez pelo meu atraso. Aquele comportamento era anti cívico, antipatriota.
Pedi desculpas e perguntei pelo restante das pessoas. Ela respondeu que eles ainda iriam chegar. Não tinha chegado ninguém ainda "porque o sol tava muito quente".
Fez sinal para um senhor que aparentava ser da sua idade e empurrava um carrinho de picolé. Assim que o picolezeiro chegou, ela se pôs a gritar com o homem.
De imediato eu interferi partindo em defesa do pobre velho que a tudo ouvia na maior paciência. Mais uma vez ela me repreendeu: Gritando com o velho pois o mesmo era surdo. Escutava muito pouco. Mais uma vez fui obrigado a me desculpar por desconhecer aquele detalhe.
Explicou-me também dona Terezinha, que aquele carrinho de picolé era peça fundamental para o bom andamento do protesto. Usei meu poder de dedução, e imaginei que seria uma forma de chamar a atenção do povo da cidade, a final, com um calor desgraçado daqueles, um picolé era uma visão do paraíso e seria uma isca perfeita para atrair a massa de manifestantes insatisfeitos com o clima.
Mas logo percebi que estava mais uma vez enganado. O carrinho do velho tinha uma caixa de som, um microfone e uma bateria que seriam utilizados pela sindicalista para animar a manifestação.
Por volta das 17:45, quando, nas palavras de dona Terezinha, "o sol baixou", os manifestantes se reuniram na rua em frente ao banco. Eram ao todos sete pessoas. Duas mulheres traziam cartazes, que eu pedi para fotografar, e me surpreendi ao ver que um era uma cartolina com recortes de revistas e formava um trabalho da escola primária para o dia da árvore. O outro era um cartaz oficial da secretaria estadual de saúde da campanha de vacinação no qual aparecia a imagem do Zé Gotinha.
Sequer tive tempo para argumentar alguma coisa com os manifestantes, pois dona Terezinha puxou aquela multidão de sete pessoas com gritos de ordem no microfone que, com tanta interferência, mais parecia uma caixa de abelhas.
Eu com minha câmera comecei a registrar o momento, enquanto dona Terezinha conclamava o povo a pegar em armas, ir à luta, que éramos poucos mas éramos valentes! E por aí foi levando.
Descíamos a rua principal que termina na praça em frente ao lago
No meio do percurso dois manifestantes, legítimos representantes dos povos indígenas, começaram a dar trabalho por conta do alto estado de embriagues no qual se encontravam. O primeiro vomitou para cima e se sujou todo. O segundo caiu sobre um tambor cheios de vassouras à venda no supermercado Rio Vermelho.
Instantaneamente, dona Terezinha utilizando sua autoridade e longa experiência, dispensou a presença dos "vândalos" com um empurrão em cada um. Os dois, abraçados para não cair, rumaram em direção ao bar do Totha.
Discretamente, a líder sindical, se desculpou com esse singelo representante da imprensa, alertando que se tratava de fatos isolados e que em nada iriam afetar na magnitude do evento.
Notei também que a partir deste episódio o semblante da ativista se alterou para mais preocupado. Logo ela me informou que temia alguma repressão pelas autoridades do governo. O que não tardou para acontecer.
Durante a passeata, aproveitei para conhecer os vários motivos pelo qual cada um daqueles cidadãos manifestavam. Um manifestava pelo passe livre para entrar no Varandão (a mais famosa, mais movimentada e única casa de shows da cidade). Outro manifestava contra as muriçocas que com suas picadas implacáveis deformavam a beleza das turistas que se bronzeavam nas areias da praia do Lago dos Tigres. Outra manifestava contra a cantora Joelma da banda Calypso que ameaçava virar crente e abandonar a carreira artística. No momento em que eu estava entrevistando uma manifestante, que manifestava contra um bando de capivaras que havia destruído sua roça de mandiocas, dona Terezinha me puxou pelo braço para que eu voltasse minhas lentes para uma cena de brutalidade policial.
Tratava-se do guarda municipal, responsável pela manutenção do canteiro da praça, que tentava à pauladas, espantar uma vaca que comia as flores do canteiro central.
Logo a manifestação ganhou um foco único. À defesa das vacas, que segundo alguém lembrou de ter assistido na novela Caminho das Índias, são animais sagrados.
O policiamento foi reforçado pelo vigia noturno da prefeitura que chegava de uma pescaria. Correu para a praça onde, em conjunto com o companheiro da praça, formaram um cordão de isolamento de duas pessoas.
O início de tumulto entre os 5 manifestantes e os dois guardas municipais (empurra-empurra, esfrega-esfrega), aos olhos do povo pareceu um forró-bodó. Equivoco este que fez com que mais pessoas se dirigissem à praça.
Alguns playboys com seus carros rebaixados e toneladas de som no interior dos veículos começaram a tocar um funk proibidão, caixas de isopor vendendo cerveja foram aparecendo também, arrastando uma infinidade de jovens nativas de pouca roupa e muita disposição para a bagunça.
A manifestação acabou virando um carnaval fora de época. E eu, enquanto ainda estava sóbrio, registrei todo o movimento.
Por mais que eu tentasse convencer meu editor de que os fatos narrados nesta matéria realmente aconteceram, e que não se tratava de uma piada de mau gosto, acabei perdendo o emprego logo que retornei à capital.
Mas felizmente estamos em julho. Vou receber minha primeira parcela do Seguro Desemprego e vou tirar umas férias.
Estou pensando em ir para Britânia...
... Não tem nada lá...
... Mas por algum motivo, aquilo é bom demais.
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