quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Na passagem pela vila

Naquela hora, na vila, o sol já tinha se ido e a noite começava a cair sobre aquele povo simples que se reunia às portas de suas modestas casas.
Ali naquele horário, as mulheres se reuniam de fronte aos portões falando da vida de outras pessoas ausentes, pois certamente estavam ante outros portões falando da vida daquelas. E enquanto isso, suas crianças brincavam nas ruas de terra, correndo por entre as casas, a crescer um dia depois do outro.
O tempo parecia correr mais lento naquelas cercanias. E não fosse o calor infernal, poderia se dizer que ali se assemelhava ao próprio paraíso.
De longe ouviu-se um berrante tocar, anunciando a chegada de alguns homens que tocavam gado. As mulheres então se recolheram cada uma para sua casa levando consigo um ou outro moleque que protestava.
Ao adentrarem na cidade, o homem do berrante que ia na dianteira sobre um grande e fogoso cavalo baio, tocou mais uma vez, e em seguida deu o seu aboio sofrido de quem vinha cavalgando há mais de mês sem ver vivalma pelo caminho.
Aquele aboio fez sair à janela a filha de Maria das Graças, de nome Rosa, que debruçada na janela ficou a olhar e suspirar para aquele homem rude e coberto da poeira da estrada.
O homem, de nome José Lúcio, era um vaqueiro jovem porém experiente, que sobre aquele cavalo garboso fazia lembrar os fidalgos das velhas histórias de contos de fadas.
Ao passar em frente à janela do casarão, seus olhares se cruzaram. Enquanto passava o gado, ele puxou as rédeas para que sua montaria passasse mais devagar. Os olhos dela eram dois sois enquanto os dele eram duas luas a refletir o brilho dos olhos dela.
Não disseram sequer uma palavra.
Quando ela reparou que o vaqueiro ficava para trás, alcançou na mesa uma rosa, e imediatamente jogou para ele que ao agarrá-la, levou imediatamente ao rosto para sentir-lhe o cheiro. Por instantes ele fechou os olhos e imaginou que aquele seria o cheiro dela.
Imediatamente ela fechou a janela, ato que o fez apertar o passo, esporando seu cavalo para sair atrás da boiada que já ia ao longe.
Logo na saída da vila ele parou e aboiou mais uma vez.
Desta vez um aboio mais triste, ainda mais sofrido, mas ao mesmo tempo empolgante, como se dissesse para quem ouvisse: "Me espera que ainda volto".
E foi seguindo o seu caminho, para aonde quer que ele o levasse.