quarta-feira, 24 de março de 2010

Ela disse que ligaria.

Ela disse que ligaria.

E ele ficou a esperar. E quando se espera, os segundos parecem mais lentos, os minutos parecem horas, e as horas são como a própria eternidade. Será que alguém neste mundo gosta de esperar? Será que a ansiedade é o mal de alguns poucos?

O pior da espera, são os pensamentos.

Será que ela vai ligar mesmo? Talvez ela tenha perdido o guardanapo aonde eu anotei meu número. E se ela limpou a boca com o tal guardanapo? Eu devia ter escrito o telefone na mão dela, mas nunca vi uma mão mais suada.

Mas a vida não escolhe este ou aquele felizardo... Ela simplesmente acontece. Não importa se você é bonito ou feio, rico ou pobre, homem ou mulher. O seu momento só chega, na hora em que tiver que chegar.

E o seu momento não chegava.

Ele olhava para o seu aparelho celular, na esperança de ver a luzinha do visor se acender. De escutar o toque que lhe era tão conhecido. Atender e ouvir aquela voz tão esperada.

Mas o tempo passava, e sua hora não chegava. Pelo contrário. O dia já chegava ao fim, e se aproximava mais rapidamente do que podia sonhar, a noite cruel, isenta de perspectivas e finais felizes para aquela epopéia sem graça.

E ali ele ficou, ficando. Alimentando com migalhas de lembranças e expectativas sua raquítica esperança. Tal qual o servo que morreu sentado em frente à sala de seu rei, a espera de sua de ordens a serem cumpridas. Dizem que este servo, depois de morto, virou um fantasma a assombrar o castelo.

Ele nem tinha morrido e já se sentia como um fantasma. Invisível aos olhos do mundo.

Observação Interessante

Observando um pouco mais atentamente, percebi que meu ultimo post ocorreu há exatos um ano. Tentemos então ser mais regular em nossas postagens.

terça-feira, 16 de março de 2010

NOITE NA METRÓPOLE


Ainda nem eram quatro horas da manha, quando ele se foi sem ao menos deixar sinais de que iria. Veio então o arrependimento de ter deixado a janela aberta, porque daquela altura eu não o recuperaria tão cedo.
Caminhei até a janela para ver a cidade dormindo, mas a encontrei tão desperta quanto eu poderia estar, e só então me dei conta de que aqui nunca escurece, nem mesmo durante às altas horas da noite. Isso porque as luzes artificiais refletem em nuvens ainda mais artificiais, deixando as noites como sessões de cinema para fumantes.
Engraçado morar tão longe do chão e me sentir rastejando sob a terra. Fica a impressão de que não vivemos menos, mas sim que morremos mais.
Mas acho melhor parar com devaneios. Tenho que me apressar. Daqui a pouco vou disputar um lugar em meio a tantos seres cinza que há muito se esqueceram da cor do sol. Gente que anda apressada pelas ruas e não tem coragem de te olhar nos olhos, com medo de ver a si mesmo, e não gostar do que ver.
Quando estou na rua e me surpreendo com algum breve momento de consciência, paro em meio do fluxo de transeuntes que se espremem pelas passarelas urbanas indo todas na mesma direção todos os dias. Parado, me pergunto por que alguém iria querer viver assim? Acho que o mundo não precisa de tantos seres humanos sobrevivendo juntos.
Olho instintivamente para o relógio e sem notar o que está marcando, percebo que ainda está na hora de ir. Antes de sair, passo um café bem amargo para caso ele volte como se foi... assim, sem avisar.